Estive nesse último fim de semana, até onde a saúde me permitiu, no primeiro encontro Brasileiro sobre áudio games.
A iniciativa da galera da bgb (http://www.audiogamesbrasil.com) de iniciar a tradução de jogos produzidos em inglês para o português é bem válida, posto que a grande maioria dos potenciais beneficiários desses jogos, todos livres, é composta de cegos que não falam inglês.
Até onde sei, já que participo muito pouco das atividades da bgb * ajudei a corrigir algumas traduções e a implementar outras, mas minimamente * os produtores de games internacionais tem demonstrado relativamente boa vontade em disponibilizar / autorizar a tradução dos jogos e a fornecer algum auxílio em sua tradução.
A história seria feliz se nós não estivéssemos somente voltando nossas atensões aos áudio games já produzidos para serem áudio games. Com uma interface (recursos) relativamente limitada e muitas vezes sem imagens, esses jogos não chamam muito a atensão dos normovisuais, e nem seria de esperar que fosse diferente. Dessa forma a tão querida e desejada inclusão dos cegos em um mundo normovisual, por esse canal, fica travada.
Não, de forma alguma, não estou querendo criticar those fowx que se esforçaram e deixaram de namorar, de tomar uns chops e de ficar com os amigos até mais tarde só porque queriam fazer jogos legais, que eles mesmos pudessem jogar. Quem é mais atento pode ter verificado na abertura do meu blog que eu sou um jogador inveterado de topspeed, que alguém usou o seu tão precioso tempo para programar. Eu apoio os desenvolvedores dos áudio games e os agradeço, mas queria questionar aqui todos, inclusive nós, os desenvolvedores de software cegos, se não valeria apena trabalhar em áudio games que possam ser também jogados por pessoas normovisuais.
Quando eu era pequeno todos se reuniam para jogar video games e eu ficava sem poder fazer nada, ouvindo aqueles barulhinhos e sonhando em poder jogar também. Eu ficava perguntando a alguém da turma o que estava acontecendo no jogo, seguia quem jogava, torsia, ao meu modo participava. Mas não raro a criançada se irritava comigo porque eu ficava perguntando sobre o jogo, dando informações que ninguém queria ouvir a respeito de quantas vezes alguém tinha morrido, ou quebrava o silêncio indo encostar em um dos meninos para perguntar o que estava acontecendo em um momento de grande espectativa do jogo. Se o menino em questão tivesse o controle na mão, porque muitas vezes os garotos se revesavam no jogo mas não me avisavam, a bronca era maior. Me sentia péssimo e sei que muitos de vocês já se sentiram assim.
Posteriormente quando eu era adolescente a turma matava aulas em maça ou usava o horário de aumoço para ir em lan houses jogar jogos ultra interativos, pela internet, os terroristas contra os policiais, em que havia correria, tiroteio, estratégia, comunicação e tudo mais. Era lindo ouví-los comentar as mais brilhantes estratégias usadas, batalhas, correrias, e a rivalidade que imperava entre eles ... e eu, novamente, ficava em meu canto sem ter muito que fazer.
Quando conheci o topspeed pela primeira vez joguei com outras pessoas pela internet. Nós corríamos, nos fecháva-mos, jogávamos um o carro do outro pra fora da pista, businávamos para que o carro de trás errasse a curva e quando isso acontecia nós caíammos na gargalhada. Jogávamos com o skype aberto e íamos rindo, nos provocando, nos xingando eeeei, e me lembrei das boas épocas da escola, boa para os outros nesse sentido, não para mim.
Portanto, metade da missão está sendo relativamente cumprida, afinal podemos jogar video game agora, ueba!! Só que eu ainda quero chamar meus primos e amigos da escola e desafiá-los para um joguinho, quero ganhar deles e quero dar risada e comentar o que aconteceu, quero viver essa parte da minha juventude que, agora, mesmo sendo mais velho, ainda preciso esperimentar.
Quero colocar a galera normovisual em competição conosco, e quero sobretudo que as crianças cegas de agora não passem tanto tempo socialmente excluidas também porque não conseguem esperimentar ou compartilhar a realidade (ou parte dela) de seus amigos normovisuais.
Eu mesmo, sendo um programador, poderia ter dedicado talvez mais do meu tempo para desenvolver jogos acessíveis a ambos os grupos, cegos e normovisuais. Mas o tempo é curto e se há algumas coisas que na vida eu aprendi, uma delas é que uma pessoa sozinha faz uma coisa em uma velocidade x, mas duas pessoas fazem-na em uma velocidade muitas vezes de mais de 3x. Portanto fico me perguntando se nós não deveríamos nos juntar para criar jogos universais, enquanto os carinhas que usam milhões para fazer os jogos realmente quentes não se ligam que com um esforso relativamente pequeno da parte deles os jogos já poderiam vir acessíveis...
Vamos ajudar a cumprir a outra metada da missão!
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Marlon
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Comentários
Apoiado !! risosAcho que
Apoiado !! risos
Acho que devia haver mais jogos acessíveis para invisuais, mas q tb desse para os normovisuais !! risos
Acho q dava + pica !! lol
Há tempos, ia sacar o topspeed e jogar, mas ao trocar impressões com um amigo do querersaber, o meu espanto que só dava para invisuais !!
Sá dava sons mas não se via carros, nem interface, nem nada !!
Todo o pessoal podia tar jogando em rede e, assim só os invisuais, pq para os normovisuais, se não tem interface, não presta !! lol
Ainda que esta seja mto básica !!
Felipe, Precisamos ir com
Felipe,
Precisamos ir com calma. Em primeiro lugar o fato de já haver jogos que nos permitem passar pelas mesmas experiências dos normovisuais é, como eu disse, a primeira parte da missão e isso deve ser destacado. Eu não vou condenar os normovisuais porque eles não conseguem jogar um game que não tem interface, da mesma forma que eles não me condenam por não conseguir jogar um game sem acessibilidade.
Acho que frases como "acho que deveria haver ... " ajudam a resolver só parte do problema.
Os programadores de jogos que estão no mainstream, que gastam 15, 16 milhões de dólares por jogos, poderiam com relativamente pouco esforço implementar interfaces de acessibilidade, mas precisam ser convensidos de que há um mercado de deficientes que irá consumir os produtos acessíveis, e que a operação toda compensa. Essa é uma parte mais complexa da discussão, porque eu não diria que no Brasil, por exemplo, há um mercado suficientemente grande para justificar a produção de interfaces acessíveis para jogos.
A acessibilidade deveria ser olhada como algo indispensável para tornar a informação universalmente disponível, mas hoje lamentavelmente ela é olhada como um elemento a mais de mercado. Se for dar retorno ótimo, de outra forma sua prioridade desce muito no ranc de coisas a se fazer em um software.
Por hora o que podemos fazer de mais concreto é tentar fazer dos nossos jogos uma opção viável para os normovisuais, e isso mesmo para cegos programadores é um desafio. Se não houver colaboração é praticamente certo que não haverá progresso deste lado.
Marlon
Brasil e Audio Games
SidartaOlá a todos!
Sou deficiente visual, moro no Brasil e gosto muito de audio games.
É errado quando dizem que não há pessoas interessadas em audio games no Brasil, pois tenho uma grande variedade de amigos com a mesma deficiência que eu, e todos gostam de, em suas horas vagas, jogar um pouco.
Um jogo que gosto muito é o do site: www.ogame.com.br
Este jogo ja foi divulgado no lerparaver e se trata de um divertido jogo que tantos os invisuais quanto os que enchergam pode jogar. Os que jogadores tem como missão desenvolver o seu planeta e formar alianças.
Estou aqui, postando este comentário, para dizer, por mais que existam pessoas que ainda achem que o Brasil é um país perdido, ele está procurando o seu espaço no mundo, sendo assim também estamos procurando nosso espaço na área dos audio games.
Gostaria de trocar mais informações interessantes de jogos que sejam parecidos com este que foi apresentado em meu comentário e gostaria, também, de saber como é que está o mercado de audio games em portugal, afinal, acho que temos que trocar informações para crescermos juntos e conseguirmos conquistar este mercado.
Grato
Sidarta
re: Brasil e Audio Games
A, os meus queridos compatriotas ...
Sempre iguais, sempre defendendo com garra e feroz ódio este nosso paiz que, afinal de contas, evidentemente dá a eles tudo de que precisam, desde educação especial de enorme qualidade até toda a tecnologia necessária para a acessibilidade gratuitamente, subsidiada pelo governo, claro.
Um dia irei conversar com alguém, possivelmente um psicólogo ou antropólogo, e ver se conseguem me explicar porque as pessoas amam e defendem aqueles que não lhes dão nada em troca, ao contrário se omitem e os prejudicam ou procuram fazê-lo o mais possível ... e o mais incrível é que isso se verifica tanto nas relações interpessoais como nas relações de povos com seus paizes ... a, mas tenho de responder o comentário de meu nobre leitor. Então analizemos:
Sidarta escreveu:
"É errado quando dizem que não há pessoas interessadas em audio games no Brasil, pois tenho uma grande variedade de amigos com a mesma deficiência que eu,
e todos gostam de, em suas horas vagas, jogar um pouco."
Tenho de dedusir, por pura falta de opção, que esta frase foi escrita em réplica ao seguinte trecho, escrito por mim:
"Essa é uma parte mais complexa da discussão, porque eu não diria que no Brasil, por exemplo, há um mercado suficientemente grande para justificar
a produção de interfaces acessíveis para jogos."
Assumindo-se que essas prerrogativas estejam corretas, tenho a dizer duas coisas.
A primeira é que eu lamento muito que as pessoas leiam somente trechos do que outras escrevem e saiam comentando e rebatendo. O seguinte trecho, também escrito por mim e na mesma entrada, te responde o porque é absolutamente correto, ao contrário do que você afirma, dizer que o brasil não seria exatamente um dos mercados mais interessants para chamar a atensão dos desenvolvedores de games do main stream para implementar nos jogos a acessibilidade:
"A acessibilidade deveria ser olhada como algo indispensável para tornar a informação universalmente disponível, mas hoje lamentavelmente ela é olhada como
um elemento a mais de mercado. Se for dar retorno ótimo, de outra forma sua prioridade desce muito no ranc de coisas a se fazer em um software."
Resumindo: hoje só se pensa em acessibilidade se o retorno for positivo. Você diria que muitos cegos no Brasil teriam condições financeiras para passar a comprar games se eles tivessem acessibilidade? Eu diria que isso é um desparate totalmente absurdo.
Portanto não adianta espernear e gritar aos quatro cantos da internet que no Brasil as pessoas são legais, que elas jogam e coisas assim ... o que interessa ao mercado é dinheiro, e qualquer pessoa minimamente familiarisada com educação especial aqui, principalmente com relação a deficiência visual, irá te dizer que a maioria dos cegos não teria condições de comprar jogos de mercado.
Por isso eu torno a insistir em que o caminho seria tornar os jogos feitos para nós acessíveis aos normovisuais ... enquanto os caras do mercado não se ligam que fazer os jogos deles acessíveis seria uma boa ... mas não por causa especificamente dos Brasileiros e sim porque outros deficientes iriam possivelmente consumí-los, mas majoritariamente em paizes desenvolvidos, o que geraria outro problema porque esses jogos não vem traduzidos para português, então a acessibilidade também não viria. Mas esse é um outro assunto.
A segunda coisa que eu tenho a dizer é a seguinte: Brasileiros, no geral, se gabam muito de coisas ruins e não produsem coisas boas... e não fique bravo (a) comigo, porque eu também sou brasileiro e portanto falo com absoluta tranquilidade ... Não seria hora de repensarmos um pouco esse tipo de atitude?
Marlon
resposta
anacristinaOlá, tenho a infeliz ideia que em Portugal o mercado de audiogames nem sequer existe!
Enquanto que no Brasil e até na eEspanha já há jogos acessíveis para cegos, em Portugal ainda esse projecto não nasceu! Se estiver errada, por favor corrijam-me.
Possuo agora um jogo espanhol que à primeira vista é interessante. Foi-me oferecido por um amigo. Não sei se é acessível para cegos e normovisuais... mas para cegos é óptimo! temos de construír granjas, asserradeiros, combater inimigos... sound rts!
Jogos para cegos e Normovisuais
Olá Filipe!
Olha, felizmente, e tal como podes verificar pelos restantes comentários a este tópico, vai havendo, aos poucos, cada vez mais jogos para cegos e normovisuais.
o Xadrez é um deles, e este pode jogar-se online!
Ainda não sei jogar, tenho de ler o livro que contém os primeiros passos e exercícios para aprender, mas quando estiver preparado, se quiseres, podemos jogar umas partidinhas!
Bom, para quem quiser baixar, podem fazê-lo através do seguinte link, que, para além do jogo citado acima, contém outros muito bons!
www.audiogamesbrasil.com
Já agora, e aproveitando a referência a esta página, deixem-me dar, publicamente, os parabéns ao Wagner Maia e sua equipa pelo trabalho desenvolvido em parceria com os criadores dos jogos, pois têm feito as traduções dos mesmos, a fim de que quem não entende inglês os possa jogar! Bem hajam!
Tiago Duarte
olá amigos
Como posso jogar este jogo pela net. é que entendo pouco de informática mas gosto de jogar e gostava de jogar este jogo pela net!
se alguém me quiser ajudar deicho aqui o meu contacto para o mensejer. antonio_marciel@hotmail.com
re: olá amigos
Leia atentamente o que eu escrevi no texto dessa entrada. Você irá achar um link para o site da bgb, onde terá toda a informação necessária. Não a posto aqui tanto por conciderar a escrita repetida de informações perda de tempo, como também por considerar que instruções nesse sentido sairiam da temática do blog, que é de discussão e debate e não de tutoriais.
O site da bgb é especializado em áudio games e deverá te ajudar mais do que nós nesse espaço.
Marlon
Jogos Acessíveis
Prezados Foristas,
Meu nome é André Rezende, sou analista de tecnologia e pesquisador na área de tecnologias assistivas. Minha dissertação de mestrado contextualizou a Educação a Distância para deficientes visuais desenvolvendo uma software denominado EASY que serve como mediador entre o ambiente Moodle e o não vidente.
Nesse contexto venho através desse e-mail verificar a necessidade de tornar os jogos comerciais ou pedagogicos acessíveis. Dessa maneira, gostaria de um feedback do grupo a respeito desse tema.
Grato,
André Rezende