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visão ativa - blog de Marlon

E, nessas passagens da vida ... I

por Marlon

Atensão galera! Este texto não é dicertativo. Se você não sabe o que é isso, deveria ler um tanto mais sobre o assunto, já que poderá ter problemas ao ler determinados textos.

Estes textos, no blog, podem ser ficção ou narrativas reais, ou uma mistura das duas. Já tive o trabalho de escrever, não terei o trabalho de vos dizer exatamente o que entender deles, já que vocês precisam também fazer alguma coisa ao se disporem a ler um blog pessoal. Este texto mistura realidade e ficção.

E nesses caminhos, no trêm ...

Estava animadamente me deslocando em São Paulo, esta cidade frenética, numa quente noite de inverno. Esperava o trêm, pacientemente parado na plataforma, quando fui amistosamente abordado.

- Boa Noite.

Como ninguém respondesse, olhei para a direção da voz, não fosse uma conversa animada entre amigos na qual eu, um tanto presunsosamente, iria me meter.

- Boa noite ... ? .

- Olha, eu estive em uma palestra sobre cegos.

Abri um sorriso, poucas coisas me agradam mais do que falar sobre cegóptica, a matéria que tem por estudo como se ver um cego.

- Legal ...

- Lá eles me ensinaram como tratar vocês, o que falar, como lidar ... foi muito emocionante, senhor... !

O trêm chega. Eu, muito interessado nos ensinamentos de cegóptica que alguém possa ter aprendido (matei as aulas dessa matéria na facada (faculdade avançada de cegóptica Damnit) para assistir a aulas práticas com a professora de técnicas de sexo sem visão), não podia perder a chanse de aprender tudo o que eu tão negligentemente desconciderei nas boas épocas de estudante. Quando a gente é jovem, faz dessas ... agora eu tinha a fantástica oportunidade de, free of charges, aprender denovo todo o conteúdo das aulas dantes sumariamente negligenciadas. Além disso, a minha estima se elevava cada vez mais, já que eu me sentia justamente reconhecido e com minha superioridade bem amostra ao ser chamado de senhor com meus quase vinte e seis aninhos ...

- Posso segurar em você?

- Pode sim, eu te ajudo. Mas, como eu ia dizendo, eles me ensinaram a como tratar vocês, acho que eu aprendi muito.

Entramos no trem, já não tão lotado. e ...

- A gente não sabe como lidar com vocês, às vezes faz tudo errado, eles me ensinaram a ter uma visão diferente sobre o assunto. Me sinto com a mentalidade bem mais aberta agora. O senhor conhece o grupo x y z?

- A sim, aqueles caras que pegam os cegos por aí e levam prá fazer passeios radicais?

- Isso mesmo! Eu tive a palestra com eles!

Eu estava verdadeiramente emocionado, pois esta pessoa tinha tido auylas de cegóptica com os melhores e mais competentes professores de lingua portuguesa da matéria.

- A ... mas me diz, como é que você foi cair nessa palestra sobre cegos?

- a, eu tenho uma amiga que conhece uma pessoa de visão subnormal.

Quase tive um orgasmo. Ver pessoas da sociedade falando em visão subnormal é algo realmente notável.

- Ela me convidou, e eu acabei indo. Lá eles me falaram como guiar vocês, a forma correta de proceder para guiar vocês, o que a gente não devia fazer e ...

- Todos os caras do grupo estavam lá ou só alguns?

- Não, uns três, um que não enxergava, que era cego e a mulher dele também era, mas mesmo sendo cego ele conseguia ter muita noção do que falava, as pessoas ficavam até impressionadas, e tinha mais duas pessoas que enxergam também. A gente fez váreas atividades e ...

Enquanto as fantásticas atividades eram descritas, inconcientemente afastei minha mente e comecei a lembrar das atividades que eu fazia enquanto cabulava as aulas de cegóptica ... e cheguei a conclusão que eu as perderia denovo, se fosse o caso.

- Olha, sou casado.

- A ...

- Então, eu sou muito grandão, tal como você pode ver. Acontece que casei com uma garota que é mais, assim, pequenininha do que eu.

- A tá ...

- Bom, mas aí, eu ando muito rápido, porque meus paços são maiores. Quando a gente começou a andar junto, ela ficou um pouco encomodada porque tinha de andar muito rápido, e me pediu prá diminuir um pouco o rítimo. Agora eu ando um pouco mais compassadamente, quando estou com ela. Descobri que é até melhor andar mais juntinho, aproveitando a paisagem.

- Amm .... eim?

- Mas fiquei mais surpreendido ainda quando, andando por esses caminhos, achei um dia um curso de comorregularospassosquandovocêestáandandocomalguémdemenorestaturaeficientemente.

- Um ...

- Daí Entrei lá onde estavam dando esse curso, no meio da sala de aula, e falei assim: "pessoas, vocês estão sendo um tanto relapsas e muito idiotas, aqui ouvindo esse monte de teorias estranhas. Eu, por exemplo, aprendi todo o conteúdo do currículo desse curso somente conversando com uma querida minha, que me pediu para diminuir o rítimo dos paços enquanto andava e foi ajustando isso comigo, até que hoje eu ando muito bem ao lado dela...". As pessoas lá do curso se revoltaram e começaram a fazer um tumulto. eu, que não enxergo, me escapei por um cantinho antes que começasse a levar porrada por tabela por causa da imensa violência das pessoas que estavam lá estudando e descobriram que não precisavam daquilo para aprender o que precisavam.

- A, entendo, o senhor então ajudou aquelas pessoas e quase apanhou?

- Mais ou menos isso. Disse a elas que elas poderiam aprender o que quer que fosse de outras pessoas, se conversassem sem medo das diferenças e estivessem dispostas a aprender a conviver com as diferenças entre todos. E a revolta das pessoas contra os professores daquela escola foi tanta que quase eu ia apanhando em meio ao cáos, já que ninguém me prestava mais atensão... Mas agora preciso ir.

- Boa noite e eu acho que a palestra que eu assisti me ensinou muito sobre como me comportar com vocês.

- Legal que você tenha assistido ...

Desci do trem e, no caminho para casa, decidi comprar e ascender um charuto. Afinal, a vida é bela e muitas vezes nos trás senas interessantes.
Marlon

Comentários

Como lidar conosco!
Sim, somos seres diferentes, atípicos, que exigem um cuidado especial da sociedade.

- Como lidar com um cego?

- Simplesmente não lide.

- An? Mas como assim?

- Outro dia eu passava na rua e vi um cego! E ele falava normalmente, se comunicava! Nem parecia cego! Fiquei imprecionadíssima...

- An? Mas como isso é possível?

- Te juro, é verdade! Ele andava com uma varinha de ferro que acho que detectava as coisas pra ele, deve ser algo sobre natural.

- Ih, nem fala. Não gosto de mexer com essas coisas.

- Mas o rapaz tinha olhos de vidro.

- E o que ele fez?

- Perguntou do ônibus, disse que estava indo para o Tucuruvi, mas que antes iria passar em Santana para ver a filha.

- Que? Ele tinha uma filha?

- Disse que sim, mas não deve ser verdade.

- Se o pai da minha filha fosse cego eu não deixaria nunca ele ver ela.

- Imagine! Essas coisas assustam as crianças...

- Será que a mãe também era cega?

- Ai, que horror! Você quer mesmo é a tragédia completa, em?

- É, acho que exagerei...

- Mas voltando à pergunta inicial, como lidar com um cego?

- Já falei pra você parar de falar dessas coisas sobrenaturais, isso mexe muito comigo.

- Deixa de ser boba... Isso é mais normal do que você imagina. Lembra daquela novela, Europa?

- Não era África?

- América, talvez... Tinha um cego lá que fazia tudo!

- Mas aquilo era novela, sua tonta! Televizão, ficção...

- Mas do jeito que a tecnologia é, tenho certeza que em uns vinte ou trinta anos, vai ter cego daquele jeito lá...

- Será?

Muito bacana. Mas afinal, a mulher sabia guiar, te mostrou a cadeira para sentar direito? Alguém escreve bem quando a gente viaja nas palavras, sonha com o momento do autor. Portanto, tenho uma crítica a fazer: que porra é essa de escrever tão pouco, queria mais; viajei, sonhei, curti. Até o teu charuto pegou bem a bessa no final! Parabéns, foi 1000!

Maq,
Obrigado!
Bom, nem me sentei, afinal o trecho era bem curto. A mulher mostrou um relativo bom senso ao me guiar, mas nada que um moço, como você quer que eu te guie?~não pudesse resolver, se existisse algum problema. No mais, copio aqui uma coisa que disse a ela, dentro da parte real do texto
"O dia em que o primeiro tema de conversa ou assunto de interesse da maioria das relações entre cegos e normovisuais deixar de ser a cegueira e começar a ser o tempo, esportes, cantadas, o que seja ... será possível começar a acreditar que a inclusão está ocorrendo."
Se a gente conseguisse ensinar as pessoas a, como fariam com qualquer outro normovisual, perguntar, debater, descobrir como nos tratar, seria bem melhor do que dar a elas todas as técnicas sobre como hagir conosco e, mesmo assim, fazer com que nos tratem como uma outra classe de seres.
Marlon

Marlon