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visão ativa - blog de Marlon

Dica de excelente peça de teatro, em curta temporada em São Paulo

por Marlon

Está em cartaz, no centro cultural São Paulo , o
espetáculo H.E.R.O.I.S.

O que é um herói?

Protagonizada pelo ator Vinicius Piedade e pelo pianista Manuel Pessoa, a
peça mostra a outra face dessa questão. Será que a medíocre definição
comum do que é um herói é tão completa assim?

O monólogo apresenta duas histórias visceralmente interligadas por
um fator: o desespero e a fúria de pessoas que precisam de uma rápida
saída para se salvarem, em um ambiente opressor e sem perspectivas.

A maneira pela qual os protagonistas lidam com este cenário
perturbador nos faz refletir sobre como reagir heroicamente a
situações que, se não são clássicas, do tipo a mocinha raptada a
espera
de um salvador, nos mostram, sob uma perspectiva muito mais próxima da
realidade, como pessoas comuns se sentem e reagem, heroicamente,
quando são colocadas frente a circunstâncias cada vez mais desesperadoras.

No primeiro texto, escrito por Saulo Ribeiro, um presidiário está
vivendo uma semana que pode ser decisiva para a sua vida. Seus
pensamentos, sentimentos e sua capacidade crua e dura, heróica, de
questionar e enfrentar os acontecimentos recentes, convidam a uma
reflexão sobre a vida, as atitudes e a liberdade de todos nós.

No segundo texto, escrito por Aline Yasmin, um cego é posto frente a
lembranças de acontecimentos passados que o prenderam, ou antes que o
envolveram em uma prisão da qual ele, meio conscientemente, não deseja
totalmente ser livre. A liberdade, aqui, assume um papel complexo e
fundamental para seu futuro, mas toda esta agonia, esta indefinição, a
sua condenação ou a sua libertação, depende de um momento, uma
aparição, uma presença, e esta presença acontecerá nos próximos
momentos ... ou não. Como passar os últimos instantes de espera e
expectativa para enfrentar a liberdade ou a continuidade desta prisão
enervante e torturante? Como sentir, exprimir, contar e expor esse
dilema sem se utilizar de imagens, sem saber o que há exatamente ao
lado, sem conseguir ver uma luz no final do túnel?

H.E.R.O.I.S é uma peça forte, violenta, gutural. É difícil passar por
ela e continuar incólume, sem questionar tudo o que nos cerca e,
principalmente, ver o quanto de heróis cada uma das pessoas comuns
pode ou não ter. As situações vividas, sentidas, absorvidas, quase a
força, pela goela abaixo, socadas, enfiadas dentro de cada um dos
espectadores obrigam-nos a repensar a vida, e o que cada uma das
pessoas inertes nessa maça, nos trens, nas cidades, pessoas que nos
parecem indiferentes, tem de heróis. O quanto, de fato, elas podem ser
heróis, e se, por extensão, nós somos tão heróis quanto por vezes nos
achamos.

O diálogo do ator com o piano é constante, e desta combinação
incrivelmente perfeita, todo o
ambiente que envolve as duas histórias é criado, com uma realidade tal
que se pode sente-lo no ar, ao redor, nos envolvendo, nos puxando, nos
questionando.

O tempo do espetáculo é de aproximadamente uma hora e vinte, e a peça
está em curta temporada em São Paulo.

Onde: Espaço cênico Ademar Guerra do Centro cultural São Paulo (rua
Vergueiro, número 1000, a cem metros da estação vergueiro do metrô).

Quando: Terças, quartas e quintas-feiras, às 21:00, até 20 de março.

Marlon