Em primeiro lugar queria salientar que com este texto não pretendo fazer uma crítica, e sim um alerta.
Todos temos a noção de que em Portugal os deficientes não são muito bem compreendidos, mas há zonas em que isso se deve notar muito mais. Por exemplo, na Madeira há um certo abandono principalmente em relação aos cegos, uma vez que perderam o edifício que lhes estava destinado na sua totalidade, para ser entregue a deficiência motora. Com esta decisão, à deficiência visual apenas restou o andar superior, onde funciona o centro de produção material.
Importa salientar que nem sempre foi assim, à uns anos a trás, o serviço funcionava bem, os cegos tinham as suas instalações, e tinham professores especializados na deficiência visual a trabalhar. Infelizmente com o passar do tempo os professores reformaram-se, e, como já fiz referência, as instalações passaram para outras mãos.
Não defendo de todo que os cegos frequentem uma escola especializada, onde só estejam outros alunos cegos, defendo a integração total numa escola completamente normal, porque penso que é muito importante o contacto com outras pessoas. Mas sem dúvida nenhuma que é importante dispor de um serviço que seja capaz de proporcionar a todos a hipótese de aprenderem coisas básicas, como por exemplo aulas de culinária, trabalhos manuais, a informática, entre outras coisas que são importantes. Por isso defendo que seria muito importante que os cegos voltassem a dispor das suas próprias instalações, repito, não para integrar todos os cegos, mas sim para complementar as aulas.
Cá na Madeira os surdos têm as suas instalações próprias, assim como os deficientes motores e os deficientes a nível mental.
E agora eu pergunto, será que os cegos madeirenses não têm direito a ter um edifício onde possam instalar as suas instalações?
Ana Andrade
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Comentários
resposta
Olá Patrícia!
Em primeiro lugar, obrigada pelo comentário, e por teres partilhado a tua experiência, não te preocupes não é uma maçada partilhar com os outros aquilo que pensamos, ou que já aprendemos, pelo contrário, isso é muito bom e até pode ser útil para outras pessoas.
Realmente eu defendo a integração numa escola oficial, exactamente por tudo o que dizes, assim conhecemos outras pessoas, e aprendemos outras realidades. Eu apenas frequentei escolas oficiais, e sinceramente acho que não gostava que tivesse sido de outra forma.
Cumprimentos!
Ana Andrade
Educação especial
Olá a todos, eu tambem andei no Keller desde o pré-escolar até aos 11 anos, por acaso saí de lá por causa do divorcio dos meus pais. Mas ainda bem que saí pois foi na escola oficial que aprendi o que custa a vida cá fora, que aprendi a crescer e a ser eu a lutar pelo que queria e não os outros... Concordo com as palavras da patrícia... e obrigada pelos vossos testemunho, é sempre bom partilhar esperiências...s
Há excepções, mas isso é como tudo na vida!
Olá, minha gente.
Tal como a Patrícia, também frequentei uma escola dita especial somente do primeiro até ao 5º ano. Se senti muitas dificuldades em integrar-me na especial (uma vez que os colegas também cegos não me queriam deixar participar em certas brincadeiras), no ensino normal vi-me às aranhas para ultrapassar certos obstáculos, pois ainda não tinha em mim a humildade de pedir ajuda e, quando pedia a certos colegas, diziam a outros para o fazer até que me tornei bastante agressivo e depois quase ninguém se aproximava de mim.
Felizmente houve tempos felizes, nos quais amadureci e me senti, quanto mais não seja, homem, pois tive pessoas que me ouviam, com quem podia contar as minhas angústias, etc., e aí é que pude ir recuperando a minha auto-estima.
Isto para vos dizer o quê? Precisamente, que as pessoas tanto podem ser iguais a elas próprias num local frequentado com pessoas com o mesmo tipo de limitações ou não. O que é fundamental para a sua integração é o apoio recebido e o acompanhamento prestado.
Tiago Duarte
Escolas Especiais?
Olá Ana. Este é um tema que me diz muito porque ao longo da minha vida fui-me sempre debatendo ou melhor foram-me sempre confrontando com a questão, Escolas Normal ou Escola Especial?
Começando do inìcio, nasci e vivi em Elvas, Alentejo até aos 18 anos por opção.
Essa opção começou a ser posta em causa por algumas pessoas junto da minha família. Quando tinha 12 anos foi-me proposto a mim e à minha família que eu fosse para Lisboa para uma dessas escolas para cegos
Na altura nem eles nem eu achámos que isso fosse necessário nem conveniente. Desde muito pequena sempre achei que o meu lugar e por conseguinte o lugar dos cegos ou outras pessoas com deficiência é no mundo real, com uma vida real. Com amigos que nos aceitam e que nos regeitam, com comentários menos próprios nas ruas, mas que nos fortalecem a nós e ajudam o mundo a acostumar-se à falta de perfeição que os ditos normais idializam.
Aos 18 anos fui para Lisboa, mais uma vez por opção para ingressar no ensino superior, outra grande luta. A minha escola "Escola Superior de Comunicação Social" não estava preparada nem fez questão de estar para receber pessoas com deficiência. Não por questõesfísicas mas por questões culturais, aí sim queriam um lugar perfeito só com pessoas perfeitas, ainda mais no curso de Relações Públicas, mas isso fica para outra ocasião.
Relativamente às escolas, sempre frequentei o ensino normal e não me arrependi, embora tenham falhado algums coisas no meu apoio, tais como as aulas de mobilidade com bengala e o ensino da assinatura, coisas que até hoje lamento e que fui tentando resolver como poude.
Assim, considero que os 2 tipos de ensino têm vantagens, mas penso que nada supera o convívio com a família e o mundo real, ainda mais para quem vive longe de lisboa e teria que fazer toda a sua vida longe da família e do seu meio.
Era e
resposta
Olá Isabel
Em primeiro lugar queria agradecer o seu comentário, e por nele ter partilhado a sua experiência.
Concordo em pleno com tudo o que disse, realmente não é fácil para ninguém ser obrigado a sair do seu meio para frequentar uma escola especial, podendo frequentar uma escola oficial.
Quanto a ter existido falhas, como a falta de aulas de mobilidade, bem isso é assunto que da para um bom texto, quem sabe não será o próximo tema sobre o qual escreverei.
Cumprimentos
Ana Andrade