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Brasil - Professora cega passa em concurso, mas é barrada

por mayck

Aprovada em 1º lugar entre os deficientes visuais que fizeram o concurso público da Secretaria Municipal de Educação no ano passado, a pedagoga Telma Nantes, trava uma batalha para conseguir assumir a vaga de professora de Educação Infantil.

Enquanto em cidades paulistas existem professores portadores de deficiência visual, em Campo Grande, a profissional foi considerada inapta por não ter condições de corrigir cadernos e provas. Telma Nantes ocupa o posto de presidente do Instituto dos Cegos e também é vice-presidente da entidade nacional.

Segundo ela, o poder público deve dar exemplo de inclusão social e como professores de Educação Infantil têm auxiliares, a pedagoga garante que não teria problemas para lecionar. Ela acionou a OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso do Sul), a Assembleia Legislativa e espera que a Prefeitura reveja a situação.

Discriminação

Segundo Telma Nantes, quando teve que ser entrevistada pela equipe multidisciplinar da Secretaria de Educação, foi surpreendida pelas risadas de um médico que teria dito: “Como você pensa que vai ensinar desse jeito?”.

“Foi um ato de discriminação devido o preconceito da equipe multiprofissional com pessoa de deficiência”.

“Na hora eu fiquei quieta por medo de não ser nomeada. Eu sei que o prefeito não sabe o que acontece, mas todo professor tem um auxiliar. Eu que crie as minhas metodologias ou seja adequada a um espaço porque tenho certeza que tenho muito o que contribuir”.

No ano passado, na hora da inscrição, a pedagoga protocolou os documentos, pagou R$ 70, 00 e o concurso aconteceu no dia 13 de dezembro de 2009. “Passei fiz a prova de títulos. Não estudei. É meu saber puro”.

Outro lado

Segundo informações da assessoria de imprensa da Prefeitura, a pedagoga Telma Nantes de Matos fez o concurso e foi aprovada na prova escrita, mas foi considerada inapta pela comissão de avaliação.

A comissão de avaliação é composta de uma fisioterapeuta, dois pedagogos, um médico e um psicólogo. “Ao inscrever no concurso o candidato toma ciência que passara pela comissão de avaliação. Esta avaliação é aplicada em todos os concursos. As regras do concurso estão publicadas no suplemento do Diogrande (Diário Oficial de Campo Grande), do dia 03.11.2009. A Prefeitura de Campo Grande segue a Lei Federal de 3.299 de 20 de dezembro de 1999”.

Porém, segundo informações da assessoria de imprensa da Prefeitura, está sendo avaliada uma saída para a situação. Detalhes sobre as questões discriminatórias, denunciadas pela pedagoga não foram detalhados na nota à imprensa.

Inclusão

Uma notícia relacionada ao tema veicula na Internet no site e-educador – ‘Cego desde os 7 anos o professor José Carlos da Silva dá exemplo de superação e serve de inspiração à categoria que comemora sua data hoje’.

Deficiente visual após contrair meningite aos 3 anos, o professor de geografia José Carlos da Silva, de 40 anos, há 20 no magistério, tinha 7 anos quando começou a ser alfabetizado em braile. Passava horas imaginando como seriam as paisagens relatadas pelos professores em sala de aula. Foi quando decidiu abraçar o ofício de lecionar a matéria como carreira profissional.

“Ficava viajando sobre como seriam as imagens de verdade”, lembra. Até a formatura, enfrentou uma série de obstáculos até assumir a própria turma em uma escola estadual na região de Suzano, na Grande São Paulo, onde leciona até hoje. Alguns de seus alunos, com a mesma limitação visual que ele, agora não precisam enfrentar mais tantas dificuldades como as que passou.

“Na minha época não era como hoje. Agora as escolas tem mobilidade, elevador, piso podotátil e material didático em braile e em áudio”, afirma. Desde 2001, ele e a direção da Escola Estadual Professora Leda Fernandes Lopes criaram um projeto de inclusão para alunos e moradores da comunidade que também não enxergam.

Com a proposta, Silva faz mais do que alfabetizar em braile. “Muitos não nasceram cegos, mas perderam a visão pelos mais diversos motivos, muitas vezes já com certa idade”, diz. “Eu os ensino a andar com a bengala e a se inserirem novamente no mercado de trabalho depois de participar de oficinas profissionalizantes.” Atualmente, tem cerca de 20 alunos, de oito a 60 anos de idade.

Uma das histórias de superação que mais o comoveu foi a de um garoto que era “escondido” em casa pela família por causa da deficiência visual. “Ele não saía, não era levado a lugar algum. Veio para a escola depois de convencermos os pais. Hoje não só está alfabetizado como ganhou autonomia, trabalha e está casado.”

O professor também leciona para alunos que enxergam. Garante nunca ter tido problemas. “Piadinhas acontecem, mas é normal nesse ambiente. Faço tudo o que um professor que enxerga faz. Passo lição na lousa, desenho mapas, ensino informática.” Nas provas, uma secretária o auxilia a vigiar a turma para não colar. Quem o auxilia na correção é a mulher dele, Adriana, 40 anos, também professora. O casal tem um filho, Brian, de 18 anos, modelo profissional. Mãe e filho enxergam.

(Fonte: Agora / Jornal da Tarde (15.10.2009) Rejane Tamoto / Luisa Alcalde)

FONTE: Midiamax http://midiamax.com/view.php?mat_id=707080

Comentários

Gostaria de incentivar a pedagoga a não desistir da luta e a contactar o dr. Ricardo Tadeu Fonseca e o Ministério Público, a fim de resolver a questão. O estágio probatório - não a equipe multidisciplinar - tem a função de avaliar se o candidato - com deficiência ou não - é apto ou inapto para a vaga. Se todos os documentos requeridos foram apresentados, aceitos e protocolados, qualquer barreira para o exercício profissional nos três anos de estágio probatório é discriminatória.
Leciono desde 1998, e nunca me faltaram nem trabalho, nem estratégias para ensinar crianças e adultos com e sem deficiência. Já trabalhei com e sem auxiliar, com grupos grandes, pequenos e médios, além de ter tido alunos particulares. Já contei com ajuda de muita gente, escaneei e corrigi textos, e passei por muitas alegrias com os alunos, com quem consegui trabalhar, em sala de aula e de maneira indireta, a solidariedade, a cidadania, a percepção do próprio semelhante, a inclusão, e creio estar plantando sementes importantes inclusive nas famílias de meus alunos e ex-alunos.
Isso sem contar a elevação de minha auto-estima! Graças ao meu trabalho docente, pude adquirir um celular e o programa Talks, que lê todas as informações da tela. Sempre fiz questão de ressaltar isso para meus alunos.
Tenho deficiência visual, sim. Só enxergo luz e sombra, e sempre fiz questão que meus alunos me mostrassem os desenhos que faziam, quer em relevo, quer por meio de palavras. Aprendi que quando alguém disser que sou incapaz de fazer algo, devo perguntar a mim mesma se isso é realmente verdade. Se eu tiver alguma dúvida, devo enfrentar a situação para ver como me viro.

Cristiana M. C.

Cristiana M. C.