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Áudio-descrição: Opinião, Crítica e Comentários - blog de Francisco Lima

Matemáticos Cegos: Você conhece algum?

por Francisco Lima

Enquanto pessoa com deficiência visual, eu tenho ouvido constantemente que certas profissões não são razoáveis para as pessoas cegas.
Há aqueles que dizem, por exemplo, que uma pessoa cega não pode ser juiz, pois não enxergando a face de uma testemunha, não saberia dizer se ela mente ou não. Outros dizem que uma pessoa cega não pode ser médico, visto que não poderia examinar uma radiografia do paciente. E há aqueles que dizem que uma pessoa cega não pode ser matemático, já que não poderia ver os gráficos, as tabelas, as formas geométricas e os muitos símbolos matemáticos, sem correspondentes em Braille.
Entre os que costumeiramente dizem que os indivíduos cegos não podem ter essas e outras profissões que dependem da informação visual estão professores, psicólogos, psicopedagogos, especialistas em cegos (o que quer que seja essa coisa, que eu nem sei se existem) e muitas pessoas cegas que aprenderam com aqueles profissionais que a deficiência visual é fator incapacitante.
É óbvio que os que acreditaram nessas mentiras perderam a oportunidade de se tornarem juízes, médicos, engenheiros, pintores e matemáticos também!
A cegueira não é fator incapacitante, o preconceito, a baixa expectativa perante a pessoa com deficiência, a falta de recursos humanos, assistivos, econômicos e a falta de oportunidade para aprender e mostrar o potencial da pessoa cega, isso é que são.
Dadas as condições, a cegueira fica reduzida a uma mera característica da pessoa humana que pode até incomodar, mas, certamente, jamais impedir ou incapacitar o indivíduo de se desenvolver na área que desejar.
Por exemplo, um áudio-descritor forense pode dar as informações necessárias ao juiz cego, de modo que ele possa ter os subsídios necessários para seu julgamento, tal qual o perito o fará, em caso da identificação da paternidade com base no teste do DNA. Ou, será que alguém pensa que o juiz vidente olha para o esperma, para a cara do pai e julga pela aparência que: “sim, este é o pai da criança”.
Pessoas cegas podem ser o que quiserem, desejarem, o que tiverem a oportunidade para serem. Logo, poderão ser matemáticos também.
Não acreditam? Acreditam? Confiram na Revista Brasileira de Tradução Visual, importante artigo sobre matemáticos cegos.
Como? Entrem em WWW.associadosdainclusao.com.br , entre em RBTV e sigam até notícias (h 3 vezes para os usuários do NVDA).
Confiram, comentem contem se conhecem alguma pessoa cega que faz o que os “especialistas” dizem que uma pessoa cega não pode fazer.

Comentários

Diante do que foi escrito pelo Professor Fransisco, eu gostaria de deixar o meu testemunho.

Eu sou formado em Publicidade e propaganda. Atualmente eu estou atuando em uma agência de publicidade aqui em Recife, cidade onde eu resido, e não estou tendo problema algum para desenvolver minhas atividades tais como qualquer outro profisional. Eu tenho plenas condições de discutir aspectos visuais de uma campanha publicitária, pois o conhecimento que eu adiquiri ao longo do curso me permite isso atualmente.
Penso que eu não sou o único nesse sentido, pois eu tenho um amigo que além de ter um grande poder de processar dados matemáticos na mente, hoje é chefe do setor de informática do Tribunal de Contas do Estado.

Por tanto, basta refletirmos sobre as reais limitações que a falta da visão nos impõe, pois elas são bem menos do que todos imaginam.

Milton Carvalho

Milton Carvalho

Milton, parabéns pela recente formatura e por subir mais este degrau.
Agora, é colocar o conhecimento a serviço do bem e bem.
Que tal você escrever um artigo baseado em sua monografia e enviar para a RBTV, hein?
O processo de aprovação é anônimo e segue critérios específicos, mas tenho certeza de que você contribuirá muito com o trabalho que fez.
Abs.,

Prof. Francisco Lima, ( www.associadosdainclusao.com.br )

Olá! Eu sou DV, estudante de Engenharia Elétrica e estou no último semestre de faculdade, até metade do ano pego o diploma! Tem bastante matemática no curso, mas quem tem jeito pra coisa, consegue fazer até de olhos fechados!!!

Parabéns, Géssica.
Então vejo que você é uma pessoa de energia, não?
A área que escolheu é muito promissora e certamente com seu empenho terá sucesso no que se dispuser a fazer.
Que tal escrever um relato de sua experiência com as questões visuais e as vias que você se valeu para contornar as barreiras que imagens, gráficos, diagramas e tudo mais que requereria visão para executar na Universidade.
Nós na Revista Brasileira de Tradução Visual publicamos relatos de experiência também, conforme consta na www.rbtv.associadosdainclusão.com.br .
A Revista é de cunho científico e o corpo de Consultores que com ela colabora é muito bom.
Visite o site, confira nossa área de notícias e o volume disponível na página.
Abs.,
Prof. Francisco Lima, ( www.associadosdainclusao.com.br )

Caro Francisco Lima

Primeiramente, respondo á pergunta: Sim, conheço um cego Português, Paulo Coelho, que está licenciado em matemáticas, não sei qual o curso, pela Universidade Nova de Lisboa, se não estou em erro.

Não sei se pratica, se a sua profissão está directamente relacionada com o curso, certo é que o frequentou e terminou com êxito.

Em segundo, comento a sua opinião dizendo que concordo consigo. Cada um de nós tem capacidades e limitações; uns mais oportunidades que outros; alguns têm força de vontade mas outros não; e muitos não possuem apoios financeiros, familiares, etc. Qualquer uma dessas situações podem determinar o nosso futuro: ser isto ou aquilo pode depender de muitos factores, não apenas de uma condição física.

Abraço, LDias

Amiga, obrigado pela contribuição.
Penso que é importante que possamos divulgar a existência de profissionais com deficiência visual, nas diversas áreas, principalmente naquelas que alguém possa pensar que não sejam viáveis para uma pessoa cega, mas que de fato são.
As crianças e jovens com deficiência visual precisam ter em "quem se mirar profissionalmente".
Com isso quero dizer que pessoas que ficam cegas e mesmo que nasceram cegas precisam poder ter como objetivo profissões como a de médico, engenheiro, eletricista, enfermeiro, ator, carpinteiro e tudo mais que tiverem vontade de ser e desenvolver habilidade para o serem.
Ninguém pode dizer que o outro não pode, embora possa dizer-lhe que pode, que tem potencial para o ser etc.
Não está na deficiência a incapacidade do indivíduo, mas na sociedade que impõem barreiras onde a deficiência, muitas vezes não passa de um limite insignificante.
Falar, no passado, que uma pessoa cega poderia usar um computador, lendo e escrevendo em fonte que a pessoa vidente, ou invisual, lesse era certamente motivo de ceticismo para alguns. Hoje, é uma realidade simplesmente natural.
Por isso, se alguém diz que fulano não pode porque não enxerga, antes de concordarmos, devemos perguntar:
Mas, que adequações foram feitas que contemplasse a necessidade laboral, educacional ou de lazer da pessoa? foram-lhe dadas as condições de o fazer?
Mais ainda, o fato de essa pessoa não conseguir, terá, mesmo , que ver com a razão de ela ser cega ou ter alguma outra deficiência?

A deficiência visual tem sido erroneamente culpabilizada de coisas que não lhe cabem.
Então, espero que conheçamos mais profissionais e que eles sejam bons em suas áreas, não por serem cegos, mas porque são bem preparados; espero que se encontrarmos pessoas que, não sendo bem sucedidas em suas profissões, que tal insucesso não seja generalizado para todas as pessoas com deficiência.
Abs.,
Prof. Francisco Lima, ( www.associadosdainclusao.com.br )

Olá, Francisco!

Ao ler os textos que compartilhas conosco: “Carta de uma professora apaixonada...” e “Matemáticos cegos...” , lembrei-me de um filme que assisti há pouco: “ A Pessoa é para o que nasce”. Neste documentário, a potência de padecer nas famílias é atribuída a deficiência das protagonistas, adjetivada como “característica incomum do destino” ( como pode-se ler no site : http://www.borntobeblind.com/pt/about.php).

É importante quando você afirma: “Pessoas cegas podem ser o que quiserem, desejarem, o que tiverem a oportunidade para serem”. Destaco, desta afirmativa, o último complemento do verbo ser, pois, oportunidades só são fornecidas quando cremos no potencial da pessoa com deficiência, esta ação conjuga a quebra de diversas barreiras atitudinais.

Infelizmente, em muitas situações, é a família a primeira instituição em que tais barreiras são manifestadas. Na maioria das vezes, é na convivência parental que se começa a desenhar a crença no que cada pessoa pode ser. A comunidade e a escola ocupam-se de reforçar ou rarefazer este ponto de partida. E, sem dúvida, tem-se a contribuição formativa do nosso acervo cultural, o qual veicula preconceitos e estigmas produzidos historicamente e vivificados através de filmes, textos ficcionais, produções midiáticas.

É urgente, então, espaços como estes, que possibilitam visualizar que precisamos crer na possibilidade de todos(as) agirem para manter a sua humanidade, independente de compleição física, de condição sócio-econômica, etnia...

Se a pessoa é para o que nasce... NÃO SEI! Mas compreendo que o que pensamos sempre se converte na essência das nossas ações. Assim, a pessoa é para o que luta!

Como bem afirma um grande amigo: esta luta primeira consiste na “transformação de nossos sentimentos, crenças e atitudes perante nossos pares, perante nós próprios, descobrindo, a cada momento, que somos capazes, pela descoberta de que o outro é capaz e descobrindo que temos um grande potencial, pela descoberta e reconhecimento do potencial do outro”. Potencial de amar / ser amado(a), respeitar /ser respeitado(a), produzir histórica-social-politica e economicamente um percurso no mundo!

Sabe, espaços como este blog possibilitam a reflexão, são contributivos para acionarmos o “desconfiômetro” acerca daquilo que aprendemos a crer.

Obrigada, então, Francisco!
Obrigada, pessoal, pela oportunidade de, através de palavras prenhes de criticidade, pensar como nos auto-criamos ao longo da nossa existência.

Um abraço,
Fabiana Tavares

Fabiana, as barreiras atitudinais estão em toda parte, em todos nós. Esperar, vencer ou transformar essas barreiras em atitude dignificante da pessoa humana não é fácil e requer de nós atitudes, por vezes que desagradam, conflitam e machucam pessoas, inclusive pessoas caras a nós.
Não obstante, espaços como este, de fato, constituem ferramenta rica para a eliminação dessas barreiras, mormente por permitirem a troca de idéias, opiniões e variados pontos de vista.
a www.lerparaver.com , assim, pela atitude de seus mentores têm atitude das mais louváveis e merecedoras de aplausos.
Então, até como resposta ao empenho deles em nos propiciar esta possibilidade de troca, continue lendo este site, seus blogs e tudo que puder, pois será na aprendizagem que encontraremos solução para a transformação social.
Com efeito, se não soubermos do mal infringido a alguém ou grupo, não poderemos lutar para por fim ao mal a eles impetrado.
Abs., Prof. Francisco Lima,

Francisco realmente vcs podem ter e ser qualquer profissional q queiram, continue firme e forte e ñ deixe q o preconceito lhes impeçam.