Está aqui

PROBLEMAS NAS RELAÇÕES FAMILIARES OU NO NAMORO, QUE ENVOLVAM A DEFICIÊNCIA VISUAL

por Jorge Teixeira
Forums:

Olá amigos:
Gostaria que pudéssemos falar mais sobre o relacionamento de cegos e amblíopes com familiares normovisuais e sobre a interacção familiar entre os próprios deficientes dentro da família ou mesmo no namoro. Muitos de nós, senão todos, vivemos no meio de familiares normovisuais. Esposas, Maridos, Namorados,Filhos, Etc. Essa interacção traz questões específicas que podem ser analizadas por cada um de nós. Seja na perspectiva de se pedir uma opinião; seja na perspectiva de se dar uma ajuda, talvez a conversação sobre este tipo de questão pudesse auxiliar, tanto aos dificientes visuais, quanto aos que com eles compartilham a vida mais de perto.

Longe de mim a ideia de se iniciar aqui algum consultório sentimental! Penso, porém, que talvez pudéssemos ir conversando, para proveito de todos, sobre temas como este: Será que uma pessoa cega ou amblíope deve encarar a possibilidade de uma relação sentimental com alguém normovisual de modo negativo, ou verificar-se-á que as relações entre pessoas com o mesmo tipo de deficiência se revelariam menos aconselháveis? Que sujestões poderiam dar os cegos e amblíopes com mais experiência de vida aos jovens deficientes que começam agora a preparar o seu futuro?

Que tipo de problemas costumam surgir nas relações entre pessoas com a mesma classe de deficiência? Que classe de dificuldades costumam vir ao de cima em relacionamentos entre uma pessoa deficiente visual ou cega com outra que não o seja? Como resolver ou prevenir tais situações difíceis que possam ecludir? Que vos parece, valerá a pena falar destes temas? Valerá a pena criar um novo forum no ler para ver sobre este assunto?

Pode ser complicado esta inter-relação entre várias capacidades do poder visual, tenho conhecimento de distintos casos, habitualmente como acontece nas discrepâncias entre poder económico ou académico também nas situações em que um dos membros da relação vê melhor pode haver prepotências e imposições de dependências mais ou menos encapotadas, por exemplo a família dos amblíopes que namoram com um cego total acham que o seu filhinho ou filhinha está numa posição de superioridade em relação ao cego total, se ainda não usa bengala consideram o seu rebento como normo visual, e o outro sim um deficiente, um ceguinho; e depois pensam na sua ideologia nada segregadora que a sua cria deve arranjar um parceiro que não seja deficiente... até porque no convívio entre amblíopes e cegos totais costuma haver como que uma tutela algo paternalista dos primeiros em relação aos segundos. rematando, mas é como em tudo, o que conta é a natureza humana, e se o que brota do coração for puro tudo o resto não passará de pequenos engulhos ultrapassáveis com maior ou menor dificuldade, não são caprichos dos defecientes visuais, são pecadilhos imanentes ao ser humano, predador herdeiro da savana africana.

Jorge TeixeiraRealmente, os problemas de relacionamento em ligações onde existe deficiência visual são, em muito, comparáveis aos que se verificam em relacionamentos entre normovisuais. E, concordo, se o amor que une as pessoas é suficientemente estável e profundo, tudo pode ser resolvido. Quanto ao paternalismo dos amblíopes sobre os cegos totais, também já o testemunhei, mas tenho visto cegos saberem, tranquilamente, ocupar o seu lugar, quer numa relação, quer num contexto profissional ou em outros. Há, todavia, obstáculos para que isto aconteça, quer no campo das relações inter-pessoais, quer em outros. Que poderão fazer os cegos e os amblíopes para se tornarem parceiros cada vez mais equivalentes em cenários onde poderiam, à luz da interpretação do senço comum, estar em desvantagem? Haverá algum tipo de forma de agir, de pensar, de falar, de estar, que possa auxiliar um deficiente a ser cada vez mais bem aceite?

Jorge Teixeira

Bom, na verdade há sempre um pouco de tudo em cada história que li.
Eu mesmo ano passado, passei por isso na parte amorosa.
Em 2008, fui a um passeio no
Ceará, pois minha família é de lá.
Aí comecei a namorar uma moça, ficamos juntos lá e quando eu voltei, falei para ela que iria-mos manter contato e consequentemente o namoro.
Mas, logo logo, começaram os impedimentos, tanto do lado de minha família e do lado da família dela...
Ela veio no final de 2008 para São Paulo, que é onde eu moro.
Foram 20 dias de muito amor e promessas, que infelizmente depois se arruinaram devido tantas coisas...
Uma delas, foi a preocupação tanto de minha família quanto da dela, de como seria nossa convivência, uma vez que ela tem um garotinho de 8 anos.
Para resumir a história, nosso namoro terminou, como eu temia que acontecesse...
Sei que a decisão de acabar partiu dela, mas tenho a plena certeza de que não faltaram comentários infelizes e desgraçados, com relação ao nosso relacionamento...
A família, superproteje, e tem sempre o conseito de que seus filhos deficientes, tem de arranjarem não uma esposa, e sim uma santa....
Pois, querem que a gente seja bem cuidado como se fôssemos eternas crianças....
É difícil, mas bola para a frente!

não sei se é negativismo ou pura realidade, queiram ou não, mas infelizmente a maioria das pessoas são preconceituosasinhas. Quando preciso de tratar de documentos ou quando vou comprar 2 bilhetes para viajar, perguntam sempre: Olhe, o seu marido também é cego, não é? Hello!!! Será que para o caso, têm alguma coisa a ver com isso? Mas as pessoas não deficientes apreciam muito os portadores de deficiência não pela sua personalidade ou maneira de ser, mas sim porque são deficientes e ("coitadinhos") até sabem viver normalmente... Mas quanto a escolherem para seu cônjuge alguém "assim"... E depois? O que é que os "sogros" diriam? E as tias mais conservadoras? Há tanto para dizer sobre isso, mas sejam quais forem as opiniões, são sempre pessoais e por vezes muito diversas.....

Bom dia, não é meu hábito entrar em foruns e comentar, mas este tema diz-me muito e por isso...
Sou cega desde muito pequena é há algumas coisas que eu gostava de partilhar.
Sim é verdade, os sogros, as tias e também muito importante os amigos condicionam bastante uma pessoa a assumir uma relação com uma pessoa cega, especialmente se for mulher, e depois quém faz as coisas lá em casa? É que na óptica dos preconceitoosos a mulher cega não serve para criada, que aé a visão que essas pessoas tão inteligentes têm de uma esposa.
No entanto nem se preocupam em conhecer a pessoa e as suas capacidades.
Isso aconteceu-m algumas vezes ao longo da minha vida.
Agora tenho uma pessoa que me aceita sem reservas nem vergonhas, mas... é bem mais novo que eu. E lá vem outra vez o preconceito, desta vez da parte da minha família e amigos, que não entendem que eu já fui vítima disso mesmo.
O preconceito existe, temos é de saber se conseguimos lidar com ele ou não. Eu sempre achei que sim, mas agora como são os meus próximos que me atacam, já não sei. r

Obrigada António pelo seu apoio e pelo humor com que o demonstrou.
Vivo em Elvas, cidade com cerca de 30 mil habitantes, na qual todos se conhecem e todos falam de todos e o argomento que me deita a baixo é quando a minha mãe me diz "Somos uma família humilde mas que sempre foi respeitada e nunca ninguém falou de nós e agora as pessoas comentam que tu andas com um rapaz mais novo".
E eu sinto-me um monstro que mancha a honra da família.
Só tenho pena e já o disse à minha mãe que quando as pessoas diziam "Coitadinha é ceguinha" ela nunca se importou.
Não sei o que vou fazer, se vou aguentar mas por enquanto não penso desistir de quem quer estar comigo, é raro o dia que não choro por causa disso, mas vamos ver.
Obrigada pelo apoio

Cara Isabel,
Quando se ama alguém, vive-se algo muito significativo nas nossas vidas e não é por causa de diferenças de idade que se deve romper um namoro, nem por imposição familiar ou de amigos, pois os amigos que o são de facto importar-se-ão exclusivamente com a sua felicidade e irão respeitar e apoiar incondicionalmente as suas decisões. Comigo assim tem sucedido. Por outro lado, deve pensar que qualquer família quer o melhor para os seus filhos e, nessa medida, só lhes pode fazer entender, que o melhor para si não tem que ser o melhor para eles e se eles escolheram ter a vida que têm, a Isabel tem todo o direito a fazer o mesmo. Mas nunca se esqueça de dizer, algo importante: "Aos olhos de Deus, todos são iguais e nunca foi preconceituoso". Já agora, se os seus familiares são religiosos (crentes), pergunte o que aprendem na Missão quando lá vão... pois o que se trás de lá e ensinamento para se colocar em prática na vida diária e diante seja de quem for. Não se trata de rezar diante de um altar e debaixo do telhado ou nas costas do vizinho dizer o que quer que lhes venha à cabeça, verdade? Mais.... quem ama cuida, protege e defende de tudo, contra tudo e contra todos. A convicção está lá e não se deixa corromper por nada. Mais, ainda, a felicidade reside dentro de nós e em cada momento em que fazemos alguém feliz. Se os seus pais a querem fazer feliz, demonstrem-no diante de quaisquer adversidades. A Isabel terá sempre o apoio incondicional do alto, que saberá escutar no seu coração sempre que lhe der atenção. Sim, oiça sempre aquela vozinha mais profunda que fala dentro de si, pois ela acerta sempre e não se importe com mais nada. Quem a verá feliz só poderá ficar com inveja mas isso sempre passa.
Seja convicta nesse amor e felicidades para ambos! Em frente...

Sérgio GonçalvesAna, concordo em pleno no que dizes, são palavras mais do que verdadeiras, mas que em muitos casos não dá muito geito nas nossas vidas.
Tal como a Isabel, também eu estou a levar pancada de todo o lado, embora não por questões amorosas, mas profissionais, e se por um lado concordo que temos de ser nós a sermos fortes para ultrepassar, não é menos verdade que em determinados momentos a vontade é chutar tudo para o alto.
Percebo muitíssimo bem a Isabel e os seus problemas, e o que lamento profundamente, é que seja no seio familiar que em muitos casos se vivem os maiores problemas no que diz respeito aos deficientes.
Talvez em determinadas famílias se viva mesmo a mais pura discriminação.
Cumprimentos a todos, e muita força para quem dela tanto precisa.
Sérgio

Sérgio Gonçalves

Há muito tempo não tenho vindo cá, tive umas baixas muitíssimo importantes para mim, nestes dois meses e um dos meus melhores amigos anda desaparecido... pelo que não estou no meu melhor astral, mas só hoje vim ver este correio e não podia deixar de passar um abraço à Isabel e desejar, de coração, que a esta altura do campionato, já tenha tido boas melhorias na sua vida, como os demais amigos que enfrentam os maiores obstáculos. Fraquezas, dúvidas e inseguranças todos as temos e é normal pensar em mandar tudo para o alto. Conheço muito bem essa sensação, também, mas a voz da consciência fala mais alto e temos de ver nela a nossa melhor amiga, aquela que também nos conduz à calma necessária! Não desanimem...
Sinceramente, era tão bom que houvesse algum encontro entre familiares de cegos com experiências diferentes, de modo a apoiarem-se mutuamente e conseguirem conferir força aos cegos que dela precisassem e não encontro apoio dentro da sua própria família! Se algo se faz nesse sentido, certifiquem-se de que os vossos familiares participam ou lhes cgea informação útil às mãos, a fim de procurar eliminar mais um pouco dessa triste discriminação.
Quanto a ti, Sérgio, queria muito receber um e-mail teu com as novidades, a ver se percebo o que se anda a passar lá pelo emprego. Vamos pôr a conversa em dia, sim? (sorriso rasgado)
Beijinhos,
Ana

Cara Ana, quero agradecer-lhe muito as palavras que me dedicou, são sábias e verdadeiras, o pior é quando a força não parte de nós, quando somos os primeiros a duvidar de nó´s, mas depois de partilhar aqui um pouco da minha vida tenho que admitir que me sinto mais forte e só por isso obrigada a todos os que me têm apoiado.
Eu prometo aqui perante tanta gente que visita este blog que vou tentar ser forte, enfrentar a fammília e defender aquilo em que acredito, não posso passar a vida como uma pena que o vento leva para onde está virado.
Obrigada a todos.

olá isabel. Gostei muito da forma como expressou a sua ideia: é que é tal e qual. Mas quando tomamos a decisão de ficar com determinada pessoa, temos de pensar que o nosso projecto é co essa pessoa e também é verdade que podemos escolher, dentro dos que nos aceitam, com quem iremos partilhar a vida, mas a família é que não se pode escolher, e às vezes, não é muito fácil. Mas há coisas que são de bradar aos céus e de rir a bom rir. Veja lá: há uma pessoa da família do meu marido (que também é cego) a quem nós ainda não convidamos à nossa casa porque ela sempre que me encontra oferece-se para me vir cá passar a ferro, fazer comida, limpar, etc. Eu não digo que ela tenha má intensão e até lhe agradeço sempre, só que há 3 coisas: primeiro, do modo como ela me fala acho que ela vê os cegos como uns limitadinhos; segundo, felizmente consigo fazer as coisas e não tenho coragem de sobrecarregar outros para me fazerem coisas que eu ou o meu marido podemos fazer e em terceiro, o que é muito engraçado é que essa tal pessoa, apesar de ver bem, é daquelas que já não faz muito na casa dela, quanto mais na dos outros... é por isso que até agora ela ainda não veio cá porque depois iria para o emprego dela dizer ou que temos a casa assim e assado, e que ela cá veio fazer isto e aquilo... Por acaso! Há com cada uma... cumprimentos

Olá Jorge,

Lembro-me que este assunto já passou por aqui, salvo erro, no blog da Ana Cristina, mas como este tema é muito actual e o amigo resolveu torná-lo mais completo, vamos lá.

Eu acho que havendo condições e sobretudo compreensão e amor, ausência de preconceito, por parte de quem nos rodeia, há sempre a possibilidade de fazer uma vida completamente normal. Para tanto é preciso que as pessoas desçam ao nível mais humilde em admitir que os cegos/amblíopes e outras pessoas com outra deficiência têm direito a ter os mesmos sentimentos do que as outras pessoas.

Já passei por todos estes problemas, pois os meus familiares não aceitavam bem o namoro com uma pessoa cega, mas aos poucos isso foi posto de lado. O que é preciso é insistir e mostrar firmeza nas nossas decisões.
Cumprimentos.
Tiago Duarte

Tiago Duarte

Jorge TeixeiraOlá Tiago!

Muito obrigado pelo comentário. Sou novo no site, não consultei ainda o blog da Ana Cristina, mas lá irei! É realmente importante que não haja preconceito, contudo, todos os temos e o pior é acharmos que somos totalmente exentos deles. Eu, por exemplo, confesso que pensaria duas vezes antes de querer viver com uma pessoa cega. Mas,não é por preconceito, mas por questões de ordem prática.

Eu a ver 10 por cento e a minha mulher a ver zero por cento, como iria ser a vida no dia a dia?

Claro que tenho a certeza de que, se me apaixonasse por uma mulher cega, tudo isso perderia o sentido porque o amor, realmente, esorta a inteligência, anima a vontade, desperta a fé e quebra as limitações.

A minha mulher vê quase normalmente, mas tem um problema visual que, se as coisas correrem muito mal, pode redondar em cegueira, embora isso esteja praticamente fora de cogitação. Mas, uma coisa eu digo! Mesmo que ela ficasse cega, não me passaria pela cabeça separar-me dela por causa disso! E não seria por gratidão devido ao facto de ela estar comigo mesmo eu vendo somente dez por cento. Seria pelo amor que tenho a ela e que ela tem a mim!

Quero dar os meus sinceros parabens a todos os casais com um ou dois membros deficients por terem aceite o desaffio e continuarem a vencer limitações. Falem dos vossos exemplos, partilhem as vossas vivências! Isso estará dando força a todos para irem ainda mais longe na vida!

Jorge Teixeira

Olá Jorge!

Permita-me que comente a sua mensagem citando o que escreveu.

Jorge Escreveu:
É realmente importante que não haja preconceito,
contudo, todos os temos e o pior é acharmos que somos totalmente exentos deles

Tiago: claro amigo, mas quando o conhecimento e a observação das realidades é bem evidente, ele vai desaparecendo. .

Jorge Continuou: Eu, por exemplo, confesso que pensaria duas vezes antes de querer viver
com uma pessoa cega. Mas,não é por preconceito, mas por questões de ordem prática.

Tiago: quer dar-me um exemplo?É claro que não estou a dizer que nós, cegos, somos totalmente autónomos; somos como outras pessoas que têm visão normal, com mais ou menos experiência em determinadas áreas, conforme a nossa aprendizagem em casa e nos CENTROS DE REABILITAÇÂO que temos ao nosso dispòr, ou mesmo em casa...

Jorge continuou: Eu a ver 10 por cento e a minha mulher a ver zero por cento, como iria ser a vida no dia a dia?

Tiago: claro que não era fácil (mas quem disse que a vida é fácil? lol). Concerteza que não haveria um carro em que vocês podessem conduzir e fossem onde muito bem entendessem, com aquele comodismo todo, lol, mas se vivessem num sítio com acessos, já não precisavam do carro para nada, e as coisas, com um pouco de paciência e com base no que disse acima, podiam resolver-se normalmente. Portanto, tudo depende dos meios à vossa disposição!Vivo com uma companheira também cega total, e uma das coisas que nos faz mais falta é a companhia de familiares. Ela vai-se desenrrascando na cozinha, eu vou dando «os primeiros acordes» nessa arte, e assim se vai vivendo a vida!

Continuou: Claro que tenho a certeza de que, se me apaixonasse por uma mulher cega, tudo isso perderia o sentido porque o amor, realmente, esorta a inteligência, anima
a vontade, desperta a fé e quebra as limitações.

Ena, fantástico o que disse!Realmente havendo amor verdadeiro, tudo se vai ultrapassando e determinadas dificuldades do dia-a-dia, através da partilha de saberes entre as pessoas, vão diminuindo. Pena que isso por vezes seja uma utopia, mas... é a vida! As pessoas, crescendo com as limitações e vencendo-as, geralmente tornam-se mais fortes e maduras!

Jorge Continuou: A minha mulher vê quase normalmente, mas tem um problema visual que, se as coisas correrem muito mal, pode redondar em cegueira, embora isso esteja praticamente
fora de cogitação. Mas, uma coisa eu digo! Mesmo que ela ficasse cega, não me passaria pela cabeça separar-me dela por causa disso! E não seria por gratidão
devido ao facto de ela estar comigo mesmo eu vendo somente dez por cento. Seria pelo amor que tenho a ela e que ela tem a mim!

Tiago: muito bem, Deus queira que a cegueira não seja uma realidade para a sua mulher, e digo isto porque também não desejei ser cego, . Espero também que o vosso amor dure por muitos anos e que esteja presente nos bons e maus momentos!Quem dera a muitas pessoas viver assim!
Cumprimentos.

Tiago Duarte

Tiago Duarte

Jorge TeixeiraOlá Tiago:
Obrigado pela sua resposta. Na verdade, eu assumi aqui uma posição que procurei que fosse sinsera. Daí assumi o facto de ter a posição de ser levado a pensar duas vezes se fosse colocado na perspectiva de me unir a uma mulher cega. Eu disse que pensaria sobre isso duas vezes por causa de questões de ordem prática porque a nossa vida se tornaria muito complicada pelo facto de eu só ver dez por cento e você pediu-me um exemplo dessas situações de ordem prática.

Antes de responder quero salientar a delicadeza com que respondeu à minha colocação que _ agora reparo _ expuz com pouco cuidado. Eu deveria ter dito que, para mim e par a minha mulher as coisas seriam realmente um tanto complicadas se ela perdesse a visão; e não que as coisas seriam difíceis no geral, porque eu sei perfeitamente que duas pessoas cegas podem viver felizes, desde que se habituem às circunstâncias que se lhes deparem.

Uma pessoa menos preparada do que você, meu caro Tiago, poderia ter-me perguntado se estaria a pôr em causa a capacidade das pessoas cegas serem felizes numa relação amorosa. Claro que expuz a questão com falta de cuidado, mas Deus me livre de querer pôr em causa a possibilidade de sermos felizes com pessoas cegas ou com qualquer outra classe de dificiência.

Quanto às questões práticas de que eu falava, referem-se aos hábitos a que nos afeiçoamos e que pensamos serem inevitáveis ao nosso bem estar. Como ir às compras, como cuidar de uma criança, como ir à praia... enfim, coisas que aprendemos a fazer de uma forma diferente, ao perder a visão, mas que nos parecem dificílimas de serem realizadas por alguém que não veja, enquanto a temos, ainda que parcialmente. Você tem toda a razão, tudo é uma questão de aprendizagem; contudo, recoloco agora a coisa de uma forma diferente: Para quem vê e perde a visão a meio da vida, é bastante complicado recomeçar a viver em condições novas, a partir do meio da existência.
Um abraço, Jorge Teixeira.

Jorge Teixeira

Olá Jorge.

Amigo a falar é que a gente se entende, neste caso a teclar, lol, e quem sabe se esta discussão que estamos a ter não ajuda alguém nas suas decisões?

Amigo, felizmente hoje em dia, se estivermos num meio com acessos podemos perfeitamente ir às compras, já que podemos sempre contar com a ajuda dos funcionários do supermercado, por exemplo.

A questão das pessoas com cegueira adquirida, reconheço que pode ser mais complexa, mas também lhe digo que cada caso é um caso, e tudo depende da aceitação por parte desta em aceitar a sua cegueira e querer prosseguir em frente na vida, e só não falo na reabilitação (que também tem a sua importância, concerteza) porque acho que em muitos casos pode ser feita com a maior das facilidades, dependendo das experiências em certas tarefas que a pessoa tenha adquirido antes d cegar.

Uma dona de casa, por exemplo, que antes de cegar cozinhava, depois da reabilitação pode continuar a fazer o mesmo com tanta ou mais facilidade do que o fazem pessoas congénitas.

Já lidei com várias pessoas com essa história de vida, digamos assim, daí esta minha opinião.

Um abraço,

Tiago Duarte

Tiago Duarte

Ana RochaOlá Tiago e Jorge, eu ceguei aos 15 anos devido a doença Síndrome de Alstrom que podem ver no directorio oftalmologico. Mas reaprendi a viver, por acaso ja sabia ler braille porque a minha visão era de 10% e como tremia muito a vista devido a um nistagmo fui aos 4 anos aprender o braille no centro Hellen Keller. Agora já tenho 27 anos, sei fazer algumas coisas, otras vou aprendendo como todos etc. Força a todos. Se quiser partilhar alguma coisa aqui fica o meu msn: ana.golfinha@gmail.com e o meu mail pessoal: alanarocha@sapo.pt

Ana Rocha

Olhe Jorge, não se sinta melidrado porque quem for consciencioso entendeu perfeitamente o seu ponto de vista. Eu partilho consigo este caso: Os meus pais, ambos cegos, criaram dois filhos, uma com cegueira e outro normovisual. De facto, tiveram uma formação tão boa durante a sua juventude que nunca fizeram distinções devido à deficiência e eu e o meu irmão sempre brincamos na rua com os outros, andávamos de bicicleta e de patins, íamos ao circo, e éramos castigados se mandássemos a bola para as couves da avó ou se chamássemos nomes a alguém! Além disso, a nossa mãe sempre nos trazia bem limpinhos e cozinhava refeições deliciosas. O nosso pai tinha uma orientação que até hoje me impressiona: ele conhecia Lisboa e Porto quase tão bem como a sua aldeia e por isso íamos passear a sítios que ele é que os conhecia! Quando o meu irmão começou a ficar mais crescido já evitava que nos aproximássemos de coisas desnecessárias como obras, bancadas ou portas que não nos interessavam. Mas o pai é que dizia: "Agora vamos virar ali, atravessar aqui, apanhar o autocarro tal, sair na paragem tal, vamos tomar café sei lá onde". Nunca me senti diferente por isso e como cega que sou, acho que essa vida dos meus pais me preparou muito em termos práticos. Por vezes, penso que se os pais fossem normovisuais, será que eu teria aprendido a cozinhar, a engomar, a arrumar a casa da maneira que aprendi e tão cedo como foi? Quando saí de casa para fazer um curso e fui morar com outras pessoas, a minha mãe nunca teve medo que eu não conseguisse fazer as minhas coisas. Claro que tal como os meus pais, por vezes preciso recorrer a ajudas. Um alerta: os meus pais foram educados em determinadas instituições já extintas, os chamados colégios. No meu percurso escolar no ensino normal, e até por casos que fui observando, reparo que falta fazer muito no que respeita a ajudar os jovens cegos a aprender os aspectos práticos da vida. Quanto mais cedo se aprender, melhor, mas sem forçar, porque cada jovem precisa viver a adolescência no seu tempo e da sua maneira porque tudo isso se vai reflectir no momento da pessoa querer ter a sua casa e a sua família. Mas, a escola nunca substitui a família, deve ser sempre um complemento. cumprimentos

Olá amigo Jorge.

Olha eu aquí dinovo entrando nos assuntos.re re.

Bem. A você Jorge, Ana e outros que estiverem pensando nesse assunto de relacionamentos, aquí vai minha opinião pessoal.

Meu nome é Leonardo Amaral, tenho 20 anos, e bem. Estou a conquistar minha independência.
Somos: Minha irmã e eu, deficientes visuais com menos de 10% da visão na lus do dia, e quase nada a noite.
Bem ja fasem 3 anos e 4 meses que moramos sosinhos em uma cidade metrópoli, para podermos estudar e trabalhar. Minha irmã forma este ano no curço de fisioterapia, e eu dou aulas de música e estudo-a tambem na cidade. Bem. Não vou vos negar que é um pouco complicado isso. As veses se encontra algum obistáculo pelo caminho, mais o importante é ter fé e ir a frente do melhor jeito pocível
Os meus paes moram em uma cidade um pouco mais no interior, onde trabalham e nos ajudam como podem..

Na questão do namoro, bem.Eu ja namoro a um tempo com uma pessoa normovisual e me dou muito bem com ela e sua família. Ja minha irmã, tambem namora à 3 anos e meio com um normovisual, e se dão muito bem. Tanto que estão pensando até em se casar no final do ano.

A meu ver< O modo de um (DV) ou qualquer outra pessoa com necessidades especiais conceguir encluir-se à sociedade, o modo como a sua família o aceita e o direciona é ecencial. Meus paes e amigos, por exemplo. Sempre deizde sedo aprenderam a me tratar como uma pessoa normal que sou. Apenas com algumas coisitas diferêntes dos outros. Mais aprendí assim. Que se focem todos normais, que grassa iria ter o mundo?
Sempre estudei em escola pública e normal. Sem nem um tipo de acessibilidade. Somente o apoio dos meus amigos e professores.

Bem. E aquí estou. Feliz com algumas escolhas bem sucedidas, triste com outras não tão bem assim, mais o principal de tudo. Feliz.

Por tanto amigos. Só vos digo uma coisa:
Vão a luta. Que parados só pensando no que poderiam faser se tivecem a visão normal, não valerá de nada a pena. Só se alguns de vocêis tiverem a sorte de escrever algum livro com essa fantasia, e ficar rico por estes fins. Mais sabendo que ninguem de nós é pessoa de ficar quieta no nosso canto, continuemos a procurar ajuda onde pudermos e assim viver como Deus quis que nós fôcimos. Se ele. Aquele que sabe de tudo. Nos escolheu, é porque sabe que somos capases de venser. Desejo sorte a todos, e deicho aquí meu MSN se alguem quiser bater um papo amigo.

leotrmg@hotimail.com

Abraços em braile a todos de Léo Amaral.

Ana RochaOlá Tiago, antes demais os meus parabéns pelo teu comentário pois são grandes verdades... Eu actualmente namoro um rapaz ambliope e eu sou cega total, mas como o amor é forte supera os preconceitos e todas as limitações e todos nós aprendemos tudo. Eu estive em Julho no centro nossa senhora dos njos a ter aulas de cozinha que me fizeram muito bem mas se não as tivesse aprenderia por mim, pois todos nós somos iguais com mais ou menos uma limitação mas todos aprendemos tudo... Os meus parabéns a todos os casais deficientes, que todos sejam felizes...

Ana Rocha

Olá ana!

Dos aspectos que referiste, só não concordo quando dizes que se não fosses para o nossa senhora dos anjos e não aprendesses certas coisas por lá, aprenderias por ti. Claro que alguma coisa podemos aprender por nós próprios, mas por exemplo, na cozinha, se não tivermos nem uma noção básica das coisas, é complicado aprender sozinho. Ninguém nasce ensinado.

Bjs e fica bem.
Tiago Duarte

Tiago Duarte

realmente é assim como referiram nos comentários precedentes, a mais potente segregação emana das próprias famílias dos deficientes, umas vezes por receio de que algo de mal aconteça aos deficientes, outras por serem produtos de uma cultura discriminadora, mas o super-protecionismo é a causa que mais afecta e corta as asas, pois para que a família, mormente os pais se sintam seguros incorrem numa proteção desmedida que trunca por completo as asas, ou seja cercea a possibilidade de uma vida independente e de auto-realização sem grilhetas de familiares, depois estas amarras que vêm da família extrapolam na outra parte da sociedade que é uma réplica da nossa. isto de ser deficiente é duro, não se limita a carregar este fardo por uma vida mas também suportar os preconceitos dos outros, que são preconceitos do nosso entorno...

não podia estar mais de acordo com a tua exposição, realmente temos que arrostar as dificuldades que estão ao nosso redor com muita pertinácia, obstinação, até porque a nossa força de carácter, personalidade vincada terá um forte impacto nos outros e ganhará o seu respeito, mesmo que não o dêem a entender.

olá pessoal, sou a ana da ilha da madeira. tenho 26 anos e sou cega de nascença. é dificil mas não é impossivel. tenho o déssimo segundo ano e me orgulho de ter chegado até aqui. hoje trabalho como telefonista na direcção regional de educação especial e reabilitação. gosto do que faço, sinto que sou útil. mas em casa a família põe sempre muitos entraves. eu, sei arrumar a casa, lavar louça, lavar roupa, enfim, mas tudo o que se trata de cozinha e engomar minha mãe nem deixa chegar perto. é sempre a mesma conversa, vais te queimar, não podes fazer, etc. quase todos os dias brigamos, eu digo sempre: e quando ja não tiver mais aqui? como vai ser? fico sempre sem resposta. sinto-me frustrada. queria ser como os outros, ser o mais autónoma possivel. é complicado. sempre que me apaixono minha mãe diz: achas que vais poder casar? quem vai querer uma cega? dói ouvir isso. para ela eu nunca vou sair de casa. serei sempre a menina cuitadinha, protegida da mamã, não pode ser! ao longo da minha vida apaixonei-me muitas vezes sem conrrespondencia, mas tive 2 namorados. o primeiro vinha sempre a minha casa mas tinha vergonha de sair comigo. vergonha de me apresentar aos amigos, familia, que iam dizer? não arranjavas coisa melhor? o segundo não queria trabalhar, tava a espera que eu lhe sustentasse. é triste. agora conheci um rapaz pela met. é normovisual, gostamos um do outro não sei como. nunca tivemos juntos mas ja falamos por net e telefone a 3 anos. não sei o que isto vai dar, mas o que é certo é que ele quer que eu seja integrada no meio do ambiente dele, amigos familia, sendo vista como uma pessoa normal. ele diz que tem receio do que vem por aí, mas não quer voltar atrás. ele quer enfrentar e isso faz-me sentir feliz embora não sabendo como isto vai acabar. será que é desta? tou farta de sofrer. mas há muita coisa na minha vida que tem de ser melhorada. obrigada pela vossa atenção, com muitos beijinhos da ana, aqui fica o meu contacto de msn: aana.6@hotmail.com

Olá Ana!

Hehehe... mais uma Ana no nosso meio, loool.

Olha amiga, também cheguei a ter esses problemas que relataste com a minha família, e não foi por isso que, graças a Deus, me deixei abater. Hoje também trabalho, fui para Lisboa alguns tempos (o que era impensável por parte de todos). Por isso segue em frente nos teus objectivos, e quanto mais conseguires mostrar-te firme nas tuas decisões aos que te rodeiam, melhor, mesmo que no fundo tenhas alguns receio; porque a vida é um risco, e um dia temos de dar um passo.

Entretanto, já te adicionei no msn para nos conhecermos melhor.

Beijinhos e até breve!

Tiago Duarte

Tiago Duarte

oi ana sou o tiago lopes, de 20 anos...sou de lisboa! e gostaria só de dizer que sim infelizmente nos dias que correm muintas pessoas cegas, sofrem de certa forma com a "descriminação" por parte dos fameliares, eu á uns tempos a traz também passei por algumas coisas do género: ah i tal não vás para a rua não conssegues, não te quero a mexer em foguões aiinda te queimas coisas deste género, mas ana acho que a melhor maneira de conbatermos isso é mesmo demonstrar que consseguimos, não podemos deixar que familiares ou assim, nos inibam de certa forma, afinal de contas acho que quem acaba por sentir mais isso somos nós cegos, e não os familiares. é triste mas é assim mesmo!

força conprimentos tiago lopes.

deixo também aqui o meu indereço de email para o caso de quereres trocar algumas inpressões digamos assim!

tiago-lopes.21@live.com.pt

Ana,
Freqüentemente, estamos a ser derrotados por nossa falta de confiança. Somos capazes de dizer: “Somos iguais a quaisquer outros, senão nos olhos, mas nos anseios, nos sonhos e, na capacidade de agir, cuidar-se e fazer-se respeitar”. O discurso sai farto, mas quando nos vemos confrontados com as opiniões adversas, por vezes, estamos a indagar se isto tudo é realmente verdade. E creia que não duvido desta verdade. O que ocorre é que, todos os dias, temos de adicionar um tijolinho no edifício da segurança. Em pessoas que não possuem quaisquer deficiências, isto ocorre de maneira mais ou menos natural. Em geral, não há sabotagens. Ao crescer, vê-se com naturalidade que os gostos, as aptidões e os anseios amadureçam. Contudo, quando estamos a falar de deficientes, há sempre a noção de que devem ser protegidos. O protegido é aquela pessoa que, não tendo meios de garantir-se por seu próprio talento, necessita da tutela de pessoas “mais experientes”. Mas nem é certo que necessitem de tutela, nem é certo que seus ditos “tutores” realmente tenham maior discernimento.
E é verdade que deficientes, em geral, são pessoas menos maduras e menos preparadas para a vida? Sim, é claro que isso é verdade. Se tudo isso depende da experiência e justamente isso nos é negado, então, de que modo poderia ser diferente? Certa vez, um colega narrava-me que estudou em colégio interno para cegos. Viviam um mundo apartado de todo o exterior. Contudo, ao completarem 15 anos, tinham de sair do colégio e, como resultado, nos dois anos seguintes, verificava-se grande número de meninas grávidas. E por que foram tão prematuras? Simplesmente porque não as deixaram viver.
Estão a exigir-nos que sejamos adultos, maduros, ponderados, mas não nos permitem trilhar o caminho da maturidade. Falam-nos com o vigor de quem sabe, mas muitas vezes, fazem-no apenas com a autoridade de quem paga as contas. Eis o grande problema. Sem dinheiro, não se pode experimentar; sem experiência, não se pode amadurecer; e sem amadurecimento não se tem o respeito das pessoas crescidas. E por isso, muitos crescidos sem autonomia continuam ser tratados como crianças.
Não, não estimulo a rebelião. A superproteção é fruto de amor e, a bem dizer, de falta de maturidade e experiência dos pais no que tange à cegueira, à surdez, à paralisia... então, estão a chamar-nos infantis: mas não é infantilidade ignorar o argumento de que ou se ensina a pescar ou, no futuro, não haverá peixe? Não é desarrazoado ignorar que os filhos deficientes devem trilhar um caminho singular no que tange à deficiência, mas perfeitamente corriqueiro no que tange ao resto da vida? Ignorar qualquer destes fatos é pouco razoável. Mas o que fazer se a admissão de quaisquer destas verdades obriga à mudança de comportamento que os pais não desejam. Eles querem o caminho da sua segurança. Desejam não se sentir culpados. Se um filho deficiente se machuca com a vida, então, consideram-se responsáveis por não terem sido capazes de protegê-lo. Quando o amor se converte em sufocação, então, deixa de ser vitamina para converter-se em veneno. Mas como pedir que deixem a situação conhecida? Confiam mais em si próprios do que no mundo. O mundo é terra de ninguém em que reina o mais forte e, se seu filho é frágil, então, deixá-lo erguer as asas é deixá-lo perder-se, aniquilar-se, esfacelar-se com o peso do mundo.
Quando dizemos: “Pai, mãe, desejo libertar-me”. O que, na verdade, estamos a fazer é pedir que contrariem o instinto, dediquem-se a uma ponderação lógica e concluam que o ganho do curto prazo transforma-se em perda irreparável no longo prazo, que, no longo prazo, seus filhos serão mais frágeis porque não deixaram-no exercitar o músculo da resistência.
Então, não há saída? Sim, é certo que há. Mas na maioria das vezes, a rebeldia não é o caminho. Eles estarão a procurar motivos para restringir-nos o passo. A rebeldia é a prova maior de que estão imaturos e, portanto, enrijece a resistência. Os pais precisam de que lhe ajudem a superar o medo de libertar seus filhos deficientes. Os filhos podem ser seus professores. Porque um dá ordens, restringe e paga as contas, não decorre imediatamente que seja o mais forte. Isto nem mesmo é uma disputa.
Por vezes, os pais falam desajeitadamente: “Quem lhe vai querer se é cega?” Então, diga-me: se admitirem que, mesmo sendo cega, tem todas as condições de vencer na vida e de despertar o interesse de muitos rapazes, o que terão de fazer em seguida? Terão de afrouxar o laço. Mas o amor e, principalmente, o medo não permitem que o laço se afrouxe. Ora, ora, é claro que poderá ser feliz e que poderá ter um relacionamento de cabeça erguida. Mas antes é preciso que tenha a cabeça erguida. Confie em si. Este é o grande inimigo a ser combatido. Não creio que a deficiência afaste tanto as pessoas quanto se pode imaginar à primeira vista. O que realmente afasta é a falta de perspectiva, os olhos cabisbaixos, o sentir-se pequeno, o sonhar pequeno, o falar como se tivesse medo da vida. Um dos ingredientes do amor é a admiração. Mas admira-se pouco aquele que se vê vencido antes que tenha tentado o suficiente. Há alguns anos, via-me como você, sem alternativas, subjugado pelo poder dos que comandavam minha vida. Quando os assuntos sérios eram falados, minha opinião era desnecessária e, após algum tempo, concluía que devia-me calar. Mas acreditei que devia estudar, estudar como se tivesse de viver ou morrer pelos livros e, ao cabo de alguns anos, concluí a universidade, o mestrado e empregava-me. Veio a autonomia financeira e, por meio dela, a autonomia de ação. Mas fui responsável. Embora não tenha agradado os pais, a autonomia do protegido nunca agrada, dei o passo que podia dar e, a seguir, outro, e mais outro... O caminho foi pavimentado com angústia, mas teve fim. Agora, estou em outros caminhos, mas já senti exatamente o que sente agora.

Luis Medina

Sinceramente, estou-lhe muito grata pelo seu comentário, não imagina o quanto me ajudou e à Ana com certeza também.
Continue a fazer os seus comentários neste espaço.

Olá Luís, fiquei encantada com as suas palavras, revelam grande sabedoria e muita experiência nestas matérias. Eu tenho sentido e passado por muito do que falou, muitas vezes por minha culpa, porqe às vezes me deixei superprotejer. Mas a minha família pensa e sente tudo aquilo qe referiu e agora que tenho tentado voar criticam. É que logo calhou apelar o preconceito deles, logo calhou ao fim de 33 anos sozinha, e isso todos achavam normal, afinal é normal que ninguém queira casar com uma cega, logo calhou que quem quer é um rapaz mais novo, qe horror! Tem sido uma luta grande, mas acho que vai dando os seus frutos. Obrigada pelas suas sábias palavras é de opiniões experientes e extructuradas como a sua que eu preciso.

Isabel,
Porque mais jovem, seu namorado não deve ter a consciência de sua grande responsabilidade. Sim, os pais de filhos deficientes, por vezes, estão a querer que os cônjuges de seus filhos sejam nada menos do que seus sucessores. Se os namorados não se identificam com a responsabilidade e a ternura dos pais, dispostos a cuidar e a orientar, então, não estão aptos ao posto. Estão a falar de namoro? De casamento? Não. Falam de qualquer outro sentimento que não aquele saldável entre um homem e uma mulher que se amam e desejam viver juntos.
Mas o fato é que se fossem da mesma idade, então, porque a consideram menos experiente, achariam-na vulnerável às vontades do namorado. E se fosse mais velho, então, governaria inteiramente sua vida. Se fosse mais velho e ainda normovisual, fica claro, nada restaria de sua autonomia. Mas se fosse cego, então, você não teria pensado nas questões de ordem prática que a união de duas pessoas cegas implica.
O que lhe digo é que qualquer que fosse sua escolha, argumentos haveria contra o que decidiu. A única coisa certa para estas pessoas é que não deveria ter relacionamento algum. Deveria ficar o tempo inteiro a contar os dias até que a morte chegasse. Oh! Sei que sou exagerado. Depois de muitos anos, perguntar-lhe-iam porque não leva uma vida normal como as outras pessoas. N'algum dia, a consciência chega para os pais. Eles se perguntarão o que se fez de tanta proteção. O que acrescentaram na vida de seus filhos. E a resposta é desesperadamente oca, inútil porque os anos já passaram. Às vezes, fico a pensar de que adianta ter os olhos sãos, se insistem em mantê-los fechados.
Seus pais estão perdidos, mas detém os meios para pressioná-la. E o pior é que, nestas circunstâncias, todos os indivíduos são reduzidos à dicotomia entre visão e cegueira. Os que estão na primeira classe, são pessoas ponderadas; os da segunda, imaturos; os primeiros são fortes; os últimos, esfacelam-se ao vento mais débil.
Diante de situação como esta, tendemos aos extremos. Podemos baixar a cabeça e aceitar o que outras pessoas decidem por nós, ou então, fazer escândalo, bater as portas e assumir o confronto. Freqüentemente, nos extremos, não encontramos boa solução. No passado, porque desejava a auto-afirmação, fui teimoso em demasia e, por vezes, deixei de ouvir os pais quando deveria fazê-lo. Porque estamos certos em nos opor a algumas opiniões radicais, somos também radicais e, infelizmente, radicais ao ponto de não ouvir o que nos falam de verdadeiro, radicais ao ponto de perdermos a credibilidade. O equilíbrio é muito difícil. Para alguém que se afoga no mar, é correto dizer que não se debata porque mais rápido as forças se esvaem. Há que se ter calma e equilíbrio. Mas quando as emoções derramam-se aos borbotões, não é sempre possível manter a calma, ainda que nos prejudiquemos por isso.
Se você faz uma escolha e ela é diferente daquilo que seus pais imaginam, de certo, será cobrada por isso. Tudo se resumirá à cegueira. Se uma briguinha de namorados ocorre, é porque cegos e normovisuais pensam de forma diferente, porque pessoas mais velhas e mais jovens pensam de forma diferente. Se, em algum momento, ele sair sozinho porque você não gosta do passeio, então, é porque tem vergonha de si. Estas são as estratégias clássicas de pressão e terá de ser forte para enfrentá-las sem ter raiva do opressor. Não imagina quanto a raiva rouba-nos a clareza do pensamento. Em qualquer discussão, não nos permite articular dois argumentos com lógica, ao menos, comigo tal sucede. Por isso, tento exercitar a calma porque sem ela, freqüentemente, perco a razão.
E será que considero a visão um obstáculo no relacionamento entre duas pessoas em que apenas uma delas é deficiente? É possível que sim, tal qual é possível que duas pessoas de etinias diferentes, de classes sociais diferentes, de religiões diferentes, de convicções políticas diferentes também não se entendam. Ao contrário do que se afirma, de que os opostos se atraem, nos relacionamentos vemos as semelhanças unirem mais do que as diferenças, afinal, as pessoas não são ímãs. A diferença tempera, mas como sabemos um prato excessivamente temperado perde o bom sabor. Sim, diferenças são desejáveis, no entannto, aquelas que nos completam e não as que nos confrontam.
Um dia, disse a minha mãe: "Passei em um concurso público e estou de partida para outra cidade para morar só". Em uma frase, disse que sairia de casa pela primeira vez, que moraria longe e sozinho. O choque foi estarrecedor. A despeito da oportunidade profissional, ela me aconselhou que deixasse tudo de lado. Outro concurso apareceria e, afinal, não se tratava de recusar algo que eu tinha, mas evitar o que eu não podia. O que se poderia esperar de uma mãe? Eu a compreendo. Fez-me recomendações ao enlouquecimento. Levei-a comigo para passar os primeiros dias. Tinha de arranjar casa. Bem, é claro que as tais coisas de ordem prática existem mesmo. Ela adiou tanto quanto pôde, mas ao cabo de duas semanas, disse-lhe que ela tinha de voltar, retomar sua vida porque eu cá já tinha a minha. Deveria ela ficar feliz porque me encontrava. Ficou feliz e triste, riu e chorou. Nos primeiros meses, ligava-me todos os dias para saber o que eu tinha comido, se minha roupa estava adequada, se as frutas estavam bem lavadas, se eu não me expunha a perigos, etc. No início, fui minucioso. Queria a libertação, mas também queria que minha mãe ficasse bem. Depois comecei a dar respostas mais genéricas. Não faria bem a ela mantê-la informada sobre cada minúsculo pormenor. Cada pormenor era um item de verificação, um motivo de preocupação. Os detalhes foram diminuindo. Por vezes, reclamava por meu laconismo. Hoje, já não me pergunta tanto. Confia tanto quanto as mães costumam confiar. Não deixou de ser superprotetora. É mãe. Isso não é possível. Mas considero que a relação esteja equilibrada.
Isabel, quando estamos envoltos pela pressão, pela insegurança, não é fácil raciocinar com clareza. E mesmo quando raciocinamos, não conseguimos agir. Creio que qualquer pássaro, quando está a bater as asas pela primeira vez, avalia que a altura é grande demais e que se cair certamente se ferirá. O importante é que esteja certa de que o caminho existe. Você dará um passo de cada vez. Ora, ora, você tem apenas 33 anos. Tenho 34 e a história que lhe contei, deu-se aos 29 anos. Como vê, não sou experiente como disse em sua mensagem anterior, simplesmente, ultrapassei algumas barreiras.
E a idade importa? A idade cronológica, os anos que se somam ao seu nascimento, não, esta não importa. Importa sim a idade mental. Quando duas pessoas têm maturidades muito diferentes, há risco de que as expectativas de parte à parte sejam muito diferentes e, assim, os namorados se machuquem por não se entenderem. Este é problema verdadeiro. Mas há gente de todas as idades a ter idades mentais de todas as idades. Então, não é perfeitamente natural que pessoas com idades cronológicas distintas se apaixonem? Tão natural quanto dois e dois são quatro. Ocorre que o mundo gosta das simetrias. Tal qual não desejamos um azulejo redondo em uma parede de azulejos quadrados, não apreciamos que a assimetria das relações tenha êxito. O mundo é bem mais fácil de entender se pessoas com idades iguais, com aparências físicas semelhantes, com patrimônios equivalentes, com religiões iguai e com propósitos de vida compatíveis, enfim, o mundo é bem mais simples de compreender se o previsível acontece. Ocorre que a única coisa previsível no mundo é que ele nada tem de previsível.
Tudo o que tem de perguntar é se está a namorar pelos motivos corretos. Minha primeira namorada era muito frágil. Tinha baixa autoestima e, por isso, procurou-me. Namorar uma pessoa cega, para ela, era o único meio de sentir-se grande na relação. Mas ocorre que sou um tantinho autoritário e, sem querer magoá-la, acabei por tornar-me controlador. Não havia uma força que se opusesse à minha vontade. Ao fim, estava a desenhar-lhe o caminho sem que ela pudesse escolher. Era mais pai do que namorado. É claro que isso não deu certo. Por isso, digo-lhe namore, seja feliz, extremamente feliz, mas pergunte-se sempre quais são os motivos que lhe puseram tal pessoa no caminho. Se a resposta é amor, identificação pessoal, admiração, encantamento, então, você está no caminho certo. Se a resposta é que estava só, que alguém tão frágil quanto você estava só, então, estará tão errada quanto eu estive. Fuja deste tipo de relacionamento. Você é cega, mas ora, ora, é uma mulher que se permitir ser olhada, querida, se for você mesma, enfrentando a cegueira como a qualquer coisa de pouco importante, se você conseguir mostrar-se forte, então, será admirada, será querida, será forte, será encantadora, será bom estar ao seu lado e, assim,os olhos se levantarão para vê-la lá em cima. Não está a pensar que estas virtudes, por vezes, tão escassas se atirarão ao vento por causa de uma mísera cegueira não é mesmo? O que digo é perfeitamente verdadeiro quando falamos de pessoas que procuram ser felizes, sem preocupar-se se a felicidade é redonda ou é quadrada. E se não estamos a falar destas pessoas, então, procuremos não nos importar com elas, afinal, são mesmo pobres de espírito.
Vamos lá, Isabel. Nem caminhe tão rápido que tropece, nem tão devagar que não chegue a lugar algum.

Luís lamento não ter s sua clareza de ideias nem a sua capacidade de escrita, mas quero agradecer-lhe do fundo do coração o fantástico texto que me dirigiu. Não imagina o bem que me faz falar com pessoas que estão longe, não têm que agradar a uma das partes deste conflito, a distância dá descernimento e é disso que eu preciso. Todas as questões por si levantadas são muito pertinentes e apesar de eu ser algo inquieta, anciosa, já pensei em todas elas. Quanto ao motivo do namoro, eu acho que é o correcto o Bruno é muito sensível e mesmo antes de namorarmos eu já o considerava assim, acho que ele me admira e me ama como eu sou. Por vezes tenho mais medo de ser eu a não aceitar por completo a vida dele que o contrário, mas depois penso "não, nós adoramos estar juntos, partilhamos tudo, vai correr bem". Mas também sei que o amor nos tira a capacidade de pensar e de analisar as coisas friamente e com realismo, por isso mais uma vez agradeço os seus sábios concelhos, vou tentar segui-los e vou dando notícias.
Obrigada

Olá cara amiga, sou novo aqui. Mas se gosta dele vai em frente, acredite na sua capacidade de mostrar aos outros o quanto você é importante.
Um abraço.

oi Ana, que bom estou torcendo por você, nunca desista dos teus sonhos, você é capaz tenha certeza! apenas tenha paciencia com sua mãe, o amor delas as vezes leva a atitudes exageradas ...
mas é porque o amor delas é mesmo um exagero.
Parabéns a todas as mamães! beijos

Olá Ana Maria. Tenho 32 anos e sou amblíope. Nunca aceitei a ideia de se amblíope. Semppre fui uma pessoa muito revoltada. A minha mãe sempre me protegeu muito!

No ano de 1998 conheci um rapaz. Ele era normovisual e parecia gostar muito de mim. Ele apoiava-me muito e era a razão da minha vida.

Mas a partir do momento em que decidimos casar tudo mudou. No início éramos um casal feliz. Passado um ano ele mudou completamente. Despediu-se do emprego que tinha e passou a viver ás minhas custas. Comecou a pôr defeitos em tudo, até me chegou a dizer que ele era demais para mim. Nunca me agrediu fisicamente, mas magoou-me bastante verbalmente.

Em 2006 tivemos uma filha, que é a luz dos meus olhos. E por ela tive forças para pedir o divórcio. E Fí-lo! No início ele recusou-se dizendo que eu nunca conseguiria ser nada sem ele. Mas fui para a frente com o divórcio.

Hoje sou uma mulher independente e muito feliz com a minha pequenota. Mas ainda acredito no verdadeiro amor.

Se hoje me voltar a apaixonar será por alguém como eu: amblíope ou cego. Se conheceres alguém diz-me...estava a brincar!

Ana! Desejo que realmente esse rapaz com quem tens uma relação seja realmente o teu principe que tanto procuras!Sê feliz!

Beijos!

Olá Pessoal,

Essa página é antiga, mas eu resolvi comentar mesmo assim. Eu tenho 14 anos e estou gostando de um amigo meu que é deficiente visual. O problema serão meus pais não deixarem por achar que é muita responsabilidade para mim, mas acontece que eu gosto muito mesmo dele. Os meus amigos dizem que não tem preconceito e tudo mais, mas eu vejo como eles falam dele e me sinto mal. E eu também fico insegura de falar que gosto dele por ele ficar pensando nas diferença entre nós. O que vocês acham que eu devo fazer?

Olá, menina!

Eu sou cega e o meu marido é normovisual, pra mim não tem crise. No começo, às vezes eu ficava pensando se ele sabia mesmo o que é que ele estava fazendo, mas depois de nós termos alguns arranca rabos e de eu constatar que nenhum deles teve haver com a deficiência, a idéia se dissolveu.

Olha, a respeito da particularidade do relacionamento, preocupe-se mais com a personalidade de vocês dois do que com a deficiência dele. É claro, esstas são palavras de uma mulher cega sobre o relacionamento com um normovisual, antes de levar em consideração aquilo que eu digo, ouça também a opinião de normovisuais que tenham relacionamentos com cegos.

Quanto aos "espectadores", não tem jeito menina, assim como eu sinto uma fisgada no ego quando me chamam de coitadinha, o mesmo acontece com o meu marido. Esse tipo de coisa só se deixa com o tempo e a maturidade, aliás, tenho descoberto que maturidade e ego são inversamente proporcionais. Alguns constrangimentos são comuns à adolescência e simplesmente desaparecem com a idade., se não desaparecerem, não se relacione com um cego, ninguém merece ter um namorado ou namorada que tenha vergonha da gente.

Quanto a família do meu marido... ora, bem, todo mundo me adora, mas isso é porque eu sou incrivelmente encantadora! kkkkkkkkk!

Acho ótimo que você tenha trazido seus questionamentos, acredito mesmo que quando as decisões são tomadas de forma ponderada a possibilidade de dar certo é muito maior. Poderia me estender um pouco mais, mas esse comentário já está tããão grande, vou deixar outras observações para os outros usuários do site.

Independente da sua decisão, eu te desejo toda felicidade do mundo... bem, talvez não toda, tem que sobrar um pouquinho pra mim! kkkk!

Abraços!

Olá a todos eu ouvi falar deste portal mas não imaginava que podia ser tão interessante pensei que era apenas um cite de informações básicas mas fiquei surpreza com discuçóes sobre assuntos da nossa vida diária de forma tão bem colocada quero fazer contatos com todos pra trocar impressóes beijos glaucia