Livro: Mãos que lêem - Testemunhos

Queria partilhar convosco o meu testemunho como utilizador do Sistema Braille editado em livro pela extinta Comissão de Braille e prefaciado pelo médico e escritor João Lobo Antunes no ano de 2002.

Para que possam aceer à obra integral, basta abrir o anexo que acompanha o meu texto.

Agora vou transcrever o meu breve testemunho sobre a importância vital do Sistema Braille, hoje tão ameaçado de desaparecer pela sua substituição pelo computador e pelos leitores de ecrã.

Espero que gostem.

II - MARCO AURÉLIO MALTEZ BRANCO

Nasceu em meados da década de 80. Aos oito anos, vitimado por um grave acidente de viação, fica privado da audição e de boa parte da vista tornando-se praticamente surdocego aos 12 anos, após um subsequente descolamento de retina. Sempre em regime de ensino integrado, inicia a aprendizagem do braille aos 14 anos, frequentando presentemente o Ensino Secundário.

Porque, para além de não ver também não ouço, o braille tornou-se fundamental na minha vida como meio de acesso à comunicação, educação e cultura.

É ele que me permite receber informação de jornais, revistas e livros, constituindo-se como uma janela para o mundo.

É utilizando o braille que, por exemplo, me correspondo com outras pessoas e faço as minhas encomendas de livros.

Como passatempo, o braille possibilita-me o prazer da leitura, escrever histórias e, sobretudo, poder ter um diário para registar os acontecimentos mais marcantes da minha vida. Aliás, a leitura fez-me adquirir novos comportamentos mais afectivos para com a família e amigos.

Na escola, tornou-se possível, com a utilização do braille, ter apoio individual com os professores e fazer exames escritos.

Com a ajuda do braille consigo estudar com mais rapidez, alimento o conhecimento, a minha linguagem e crio novos ambientes de trabalho.