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Áudio-descrição: Opinião, Crítica e Comentários - blog de Francisco Lima

Roberto W Nogueira Fala sobre as Cotas

por Francisco Lima

Roberto W Nogueira Fala sobre as Cotas

Prezados,
Partilho mensagem que recebi em meu Face Book e que penso nos serve a todos como reflexão.

Cordialmente,
Francisco Lima
"Ainda há os que censuram a ideia contemporânea de compensar socialmente as pessoas até então vulneráveis, em razão de algum traço de sua existência que se vinha consolidando na história, caso das mulheres, dos afrodescendentes, dos povos indígenas e das pessoas com deficiência física, intelectual, sensorial, psicossocial ou múltipla.

As políticas de cotas não são concebidas, outrossim, para pessoas extraordinárias, as quais são comumente capazes de, bafejadas pela sorte de sua história, em particular, superar barreiras atitudinais pelos seus próprios méritos, competências, habilidades e circunstâncias peculiares como família, fortuna, suporte filantrópico e evangelização, ingresso na vida religiosa, casamento, enfim, de uma especial permissão divina para o seu sucesso pessoal.

Além do mais, as cotas não tratam de favorecimento algum para quem não queira se esforçar, mas para aqueles que, embora não tão talentosos, reúnem os mesmos direitos de usufruir dos benefícios da sociedade, exatamente porque são dignos disso, cidadãos iguais aos outros.

Então, enquanto uma sociedade não se aperfeiçoar efetivamente em direção à igualdade real (e não somente jurídica), à inclusão de todos e para todos, enquanto o modelo do "desenho universal" não estiver de fato traçado para aproveitar ao todo da comunidade (a maioria política da velha tradição liberal, hoje, não atende mais pela metade + 1, pois a maior parte é sempre o todo de um conjunto de indivíduos), faz sentido uma política afirmativa que equalize isso tudo, ainda que por aproximação.

As oportunidades sociais, portanto, não devem ser vistas como ocasionais, acidentais ou episódicas. Devem, sim, constituir uma plataforma institucional de sustentação do porvir humanitário e humanizante da própria sociedade. Isto, aliás, exclui qualquer "messionanismo", porque, afinal, o Estado é laico.

A propósito, perguntem ao Ministro Joaquim Barbosa, atual Presidente do Supremo Tribunal Federal, cujo exemplo vem sendo, no mínimo, ingenuamente utilizado como suposta explicação para o combate às políticas afirmativas de cotas, e ele vai lhes repetir exatamente estes conceitos sobre o assunto. É que, em razão da cor de sua pele, ele sabe precisamente o que é sofrer discriminação o tempo inteiro e sabe, por isso mesmo, aquilatar, em face dos dramas que decorrem de sua experiência, o quão trágico é não poder superar todo o feixe de barreiras que existem, justamente em razão das próprias forças, competências e habilidades de qualquer um que venha a sofrer exclusão, segregação ou alguma forma sutil de discriminação que tem origem na simples integração formal das pessoas vulneráveis aos contextos sociais.

As políticas afirmativas, numa palavra, atendem à Inclusão Social num momento em que, a despeito da existência das normas de equidade, encontrem as pessoas vulneráveis singulares dificuldades de acesso. São, pois, transitórias, e cessam no instante em que uma sociedade realmente se elevar diante da plenitude de sua própria cidadania.

Tenho 55 anos de idade e também sei o que é sofrer discriminação em razão da própria condição (física). Sou portador de Exostose Hereditária Múltipla (EHM) e, embora minha deficiência física não me tenha inibido em progredir socialmente, assim na vida profissional quanto acadêmica e familiar, conheço intimamente o fenômeno de que lhes falo. Em sociedades periféricas como a nossa, creiam, o preconceito está presente em toda parte. Por isso mesmo, quem já não reúne em sua existência qualquer traço que possa ser tomado como estigmatizante pela sociedade, certamente não reconhece o valor insubstituível de uma política de cota bem concebida e melhor ainda aparelhada para servir à causa da felicidade geral e da afirmação da plenitude da cidadania. No Brasil e em toda parte!"

Abraços,

Roberto W Nogueira
Assessor Especial da RIADIS

CV: http://lattes.cnpq.br/0179326544123326
Currículo do Sistema de Currículos Lattes (Roberto Wanderley Nogueira)
buscatextual.cnpq.br
Possui Mestrado em Direito pela Faculdade de Direito do Recife (UFPE, 1996) e Doutorado em Direito Público pela mesma IES (2004) com pesquisas integradas sobre Razoabilidade e Atividade/Perfil dos operadores judiciais ('Leis para Juízes'), junto à Universidade de Helsinki-Finlândia (orientação do Pr...

Comentários

Em primeiro lugar, devo dizer que ao contrário do que fingem que pensam aqueles que criaram a lei que estabelece as cotas, ela não serve para diminuir as desigualdades sociais, mas sim para camuflá-las. Isso porque aqueles que entraram pela cota, muito provavelmente não terão o mesmo desempenho que os outros, isso considerando-se apenas a faculdade. Pior ainda será quando terminar a faculdade e começar a disputa selvagem do mercado de trabalho. Os patrões e os órgãos públicos em seus concursos não vão querer saber se aquele que não atingiu o perfio desejado não o fez por pura incapacidade ou porque entrou pela lei de cotas na universidade. E aí, vão estabelecer cotas para negros, índios e pobres também nas empresas e concursos?

E nós deficientes, como queremos bater no peito e afirmar que somos capazes e iguais se só lutamos por benécies que nos segregam?
Passe livre, entradas grátis, cotas, ETC...
Sou formado em filosofia pela Universidade Estadual do Ceará, e tenho todo o orgulho em dizer que em minha época não havia cotas, e que mesmo se houvesse, eu não me candidataria a uma de suas vagas como querem que eu faça quando for tentar o mestrado, coisa que eu nego veementemente.
Concorri com 481 pessoas por 40 vagas, e terminei o certame em 15º colocado.
Acrescento, além de tudo, que em meu ensino fundamental, assim como no médio, não fui um aluno exemplar, sendo encontrado muito mais entre os bagunceiros da sala.
Estou dizendo tudo isso, para reforçar que o que tornará as oportunidades realmente iguais serão duas coisas:
1: Educação de qualidade para todos. ou é isso ou jamais haverá igualdade!
2: Uma melhor política de assistência aos deficientes, negros, índios e todos aqueles que são amparados e segregados pelas cotas, para que além da oportunidade, eles tenham estímulo ao estudo.
Tenho certeza que com isso, não será necessário as cotas. é a longo prazo? Claro que sim! mas não adianta tomar decisões rápidas que não passam de fracos paliativos.

Destituirmo-nos de Barreiras atitudinais a respeito das Cotas é o primeiro passo para as analisarmos.
Era comum que apenas um porcento das pessoas menos abastadas, leia-se pobres, negros, mulheres, indígenas e pessoas com deficiência também, aparecesse nas estatísticas de entrada na Universidade. Por sua incompetência que um número maior deles não entrassem na Universidade? Certamente que não.
Mas era apenas um porcento de toda essa população, lembremos que no Brasil, 46 milhões de pessoas têm algum tipo de deficiência, que entravam na Universidade, saindo menos que esse porcentual. Por serem incompetentes? Certamente que não.
E assim se deu durante décadas, sem que ninguém reclamasse de que a população predominantemente rica e branca, formada de homens sem deficiência e de origem europeia detivesse 99 porcento das cotas de entrada na Universidade.
Óbvio que dentro daquele um porcento existiam pessoas com deficiência, quiçá uma mulher negra e nordestina. Mas, isso seria ainda mais raro, dado o caráter machista e discriminatório contra as mulheres, contra as mulheres negras, contra as mulherese negras nordestinas, contra as mulheres negras, nordestinas com deficiência.
E ninguém reclamava de 99 porcento das cotas estarem com as pessoas ricas e brancas, de origem europeia, algumas judaicas e outras orientais.
Enquanto 99 porcento das cotas eram para essas pessoas, muitos dos um porcento que conseguiram furar essa bolha e entrar, nem sempre por mérito, na Universidade, esqueceram-se de que tinham amigos, colegas, parentes, conhecidos que tinham tanto conhecimento e capacidade como si e que poderiam estar igualmente na Universidade, mas que ali não estavam, pois 99 porcento das cotas estavam com os ricos brancos, predominantemente de origem europeia. E eram assim por serem estes melhores, terem mais mérito do que os demais? Certamente não. Eles detinham o poder econômico; detinham o poder religioso; detinham o poder político; detinham o poder educacional deste País, como ocorre em muitos outros, inclusive na Europa e, aqui mesmo, hoje e agora, como estamos vendo.
Estudos têm mostrado que as pessoas que entram pelas Cotas têm melhor desempenho que seus pares, isso é o que ocorre com maior frequência, quando não, o desempenho é igual aos demais.
Há um preceito Romano, o qual um filósofo deve conhecer, que diz do tratamento desigual para igualar em condições e oportunidades. Esse preceito assim foi inteligentemente alcançado por uma razão e não é a de tomar alguns porcentos dos 99 porcento dos brancos ricos sem deficiência, nem para privilegiar alguns 10 ou 12 porcento de pessoas em situação de vulnerabilidade, foi alcançado porque filósofos ou não, somos pessoas humanas e ninguém pode sobrepor-se ao outro, meralmente por razão de origem geográfica, econômica, linguística, racial, religiosa ou de qualquer outra forma ou outro motivo. E isso, também inteligentemente foi alcançado e está na Carta dos Direitos da Pessoa Humana, Carta de 48.
Por fim, será que há tanto mérito assim, dizer-se possuidor deste ou daquele título, ao qual se alcançou se não for para dele fazer o bem para os que não tiveram melhor sorte que a nossa, inclusive lutando para que tenham oportunidades que foram negadas a pessoas com bem mais méritos que nós próprios?
Cordialmente,
Francisco Lima

Francisco, em primeiro lugar, que bom ter de responder a alguém que se coloca tão bem.
Agora vamos ao que penso:
Só para esclarecer melhor, se perceberes dentro de como me descrevi, eu sou oriundo do interior do estado do Ceará, filho de pai e mãe semi-analfabetos, mas migrei para Fortaleza ainda criança. Meus pais continuaram sendo pobres, morando numa casa modesta, sendo ele operário e ela dona de casa. Somando-se isto à minha deficiência visual total, creio que nem é preciso dizer que eu hoje poderia ser um pedinte ou simplesmente um apozentado. Estudei a vida toda em escola pública, mas tenho certeza de que se não possuo mais conhecimentos em ciências exatas, por exemplo, foi porque não me dediquei suficientemente a elas, pois sempre apreciei as ciências humanas, mas também porque inúmeras vezes, simplesmente negligenciei meus estudos em geral. Se cursei filosofia ao invés de outro curso detentor de maior status, foi porque eu me apaixonei por ela e a escolhi.
Quanto à questão das estatísticas, eu acreditarei nela se me apresentares dados, algo mais plausível, pois infelizmente não acredito que apenas 1% da população que adentra às universidades seja rica e branca. Não consigo ver isto senão como discurso de negro que tem preconceito consigo próprio, que nem mesmo aceita ser chamado de neguinho, ou de governos paternalistas, que alimentam sua popularidade a custa da distribuição de peixes, quando na verdade, o que lhe cumpriria fazer seria dar um bom material de pesca. note que ao dizer isto eu não me refiro somente às cotas, mas a outros benefícios que em minha opinião são injustos. Outra afirmação sobre a qual eu também gostaria de obter dados, é sobre a paridade entre alunos oriúndos das cotas e os _ricos e brancos_
Acredito que deves ser professor, e como tal, deves saber que grande quantidade dos doscentes de ensino público, também leciona na educação privada. Então eu pergunto: o que as difere?
Eu mesmo responderei: metodologia; estímulos; tenho absoluta certeza de que se nossos governantes quisessem, teríamos uma educação pública de qualidade, como já tivemos um dia.
Outra coisa: quando você fala em incompetência, não é a mesma coisa a que me refiro, pois o que eu menciono chama-se despreparo, o que em minha opinião não é o mesmo que incompetência.
Eu posso ter competência (capacidade) suficiente para entrar numa universidade, mas não estar preparado para tal, por não ter recebido uma educação de qualidade. Infelizmente, temos uma educação lamentável, e eu posso dizê-lo com conhecimento de causa, pois estudei do 5º ano do ensino fundamental até o fim do ensino médio em escolas públicas.
Quando estudava, há não muito tempo, cerca de 10 anos, via chegar ao fim do ensino fundamental alunos que sequer sabiam bem as 4 operações básicas da matemática, que liam tropeçando nas palavras, etc., e isso não era uma exceção.
É esse tipo de aluno que queres ver em nossas universidades? Eu não!

Reconhecer a Posição de Desvantagem é o Primeiro Passo para Lutar Contra a Desigualdade

Prezado,
Sua história é provavelmente muito próxima das de muitas outras pessoas que fazem parte do um porcento de que tratei na outra mensagem. Por isso eu dizer que devemos lembrar de nossa história para lutar pela transformação da sociedade, não para promovermos a continuidade de um modelo excludente, apenas para darmos ainda maior valor aos feitos que fizemos nesta guerra que é a vida: batalhas ganhas, batalhas perdidas, corpos sãos, almas feridas.

Você diz:
"Estudei a vida toda em escola pública, mas tenho certeza de que se não possuo mais conhecimentos em ciências exatas, por exemplo, foi porque não me dediquei suficientemente a elas, pois sempre apreciei as ciências humanas, mas também porque inúmeras vezes, simplesmente negligenciei meus estudos em geral. Se cursei filosofia ao invés de outro curso detentor de maior status, foi porque eu me apaixonei por ela e a escolhi."

Meu caro filósofo, é possível que tenha, como disse, negligenciado seus estudos, mas é é bem mais provável que não tenha sido isso que ocorreu. Afinal, com sua história, se chegou onde chegou, foi porque fez exatamente o contrário, uma vez que a história estava contra você.
Muitas pessoas com deficiência ouviram, anos, aós anos, que eram incapazes, que não se saíam melhor nos estudos, exatamente porque não se dedicavam mais a eles, que não eram melhores porque eram incapazes de o ser etc. Muitas pessoas com deficiência acreditaram no que disseram a elas. Mas, o que nunca disseram é que elas não tinham igualdade de condições para alcançar o máximo de suas capacidades, para desenvolver suas potencialidades. O que nunca disseram a elas é que elas competiam num mundo desinhual, não por conta de suas deficiências, mas por conta de um modelo meritocrático que não previa dar, respeitar, garantir as condições para que as pessoas com deficiência pudessem mostrar seu mérito.
E tudo isso, foi e tem sido experienciado pelas pessoas com deficiência, sem que elas, nem sempre se deem conta do que estão fazendo/fizeram com elas.
Não tenho dúvida que se você tivesse as condições de que necessitava teria se tornado um grande matemático, um engenheiro ou outro profissional que desejasse ser. Todavia, o que lhe reservaram foi o curso de filosofia. Gostou dele, o fez, muito bom para você. Mas, uma escolha profissional não pode ser imposta pela não oferta de condições de se tentar outras. Isso é o que estamos tratando, ao falarmos de Cotas: darmos as condições de as pessoas serem o que querem e podem ser. o que não estamos falando é impedir que sejam, meramente porque são, como o colega é, um cidadão cego.

Você diz:
"Quanto à questão das estatísticas, eu acreditarei nela se me apresentares dados, algo mais plausível, pois infelizmente não acredito que apenas 1% da população que adentra às universidades seja rica e branca."
Ninguém acredita nisso! Em um tempo não tão longínquo, 99 porcento das vagas universitárias eram preenchidas por pessoas tidas como da classe dominante, logo, com as características sociais, raciais, políticas e religiosas que mencionamos em nosso outro post.

Você diz:
"Não consigo ver isto senão como discurso de negro que tem preconceito consigo próprio, que nem mesmo aceita ser chamado de neguinho, ou de governos paternalistas, que alimentam sua popularidade a custa da distribuição de peixes, quando na verdade, o que lhe cumpriria fazer seria dar um bom material de pesca."
Interessante que você trouxe o exemplo racial, referindo-se à pessoa negra, não é? Chamar pessoas por um predicativo fenotípico, mormente no diminutivo é pejorativo, daí as pessoas negras querem ser chamadas pelo que são: Paulo, Joana, Cristiana etc. A substantivação de uma característica, tomando o todo da pessoa como sendo uma de suas partes é igualmente preconceituoso, daí as pessoas negras quererem ser chamadas pelo que são: pessoas humanas, as quais, a propósito, são altas, baixas, magras, gordas, negras, nordestinas etc. Alguém sai por aí gritanto para um motorista que fez algo errado no transito: "Hei, seu branco, vá aprender a dirigir!"
Meu caro filósofo, releia o que escreveu e pense um pouco se pelo fato de você ser cego, você quer ser chamado por seus colegas de trabalho: "Cego, ceguinho, chegou sua correspondência" ou "cego, ceguinho, pega a frauda de seu filhinho que eu vou trocar-lhe estas". Será que em lugar de "pai?" você quer que seu filho o chame: "ceguinho?".
Não, sei que não, ainda que não admita, ainda que diga que não tem problema nenhum em ser chamado de cego, pois cego é. Assim, não queiramos que uma pessoa negra se sinta bem em ser chamada de "negrinha", alegando que, porque ela não gosta, ela que é preconceituosa. Isso é, no mínimo, um grande desconhecimento do que significa preconceito, discriminação, barreira atitudinal.

Você diz:
"note que ao dizer isto eu não me refiro somente às cotas, mas a outros benefícios que em minha opinião são injustos."
O bom de uma sociedade democrática é que se pode ter todo o tipo de opinião, não é?

Você diz:
"Outra afirmação sobre a qual eu também gostaria de obter dados, é sobre a paridade entre alunos oriúndos das cotas e os _ricos e brancos_"
O amigo é filósofo, um universitário, um profissional oriundo da academia, certamente terá condições de fazer uso de seu leitor de telas para dar uma boa olhada na www.google.com.br e buscar tais dados, mesmo porque, como eu disse em outro post, até para falar contra as cotas se a deve estudar.

Você diz:
"Acredito que deves ser professor, e como tal, deves saber que grande quantidade dos docentes de ensino público, também leciona na educação privada. Então eu pergunto: o que as difere?
Eu mesmo responderei: metodologia; estímulos; tenho absoluta certeza de que se nossos governantes quisessem, teríamos uma educação pública de qualidade, como já tivemos um dia."
Fazer as perguntas e respondê-las é um bom exercício, mas são os governantes que ensinam? São eles os que foram seus professores na Universidade? São eles os filósofos com quem você estudou? Tercerizar a má qualidade da educação, culpando este ou aquele governo é muito cômodo. Assumir nossa participação nessa baixa qualidade, aí já não é fácil, não é? Imagine que você seja professor, será o governante o culpado de suas aulas srem boas ou más? Afinal, os governantes foram, um dia, nossos alunos, não foram?

Você diz:
"Outra coisa: quando você fala em incompetência, não é a mesma coisa a que me refiro, pois o que eu menciono chama-se despreparo, o que em minha opinião não é o mesmo que incompetência.
Bem, nisso concordamos. E, mais uma vez, defendo seu direito de ter e manifestar sua opinião. Afinal, é essa a beleza de uma sociedade democrática e plural.

Você diz:
"Eu posso ter competência (capacidade) suficiente para entrar numa universidade, mas não estar preparado para tal, por não ter recebido uma educação de qualidade."
Caro filósofo, não estar preparado para entrar em uma universidade não é o problema grave. Grave é não estar preparado para a vida, depois de dela sair. Dadas as condições e oportunidades, independentemente das origens, todos poderão aprender e chegar aos níveis mais elevados, consoante suas habilidades, sua competências, seus desejos. O que estamos tratando aqui é de impedir que pessoas tão competentes estejam na universidade, meramente porque não fazem parte de grupos dominantes diversos. Filosofia pura!

Você diz:
"Infelizmente, temos uma educação lamentável, e eu posso dizê-lo com conhecimento de causa,"
E nisso acho que não vou poder contrariá-lo.

Você diz:
"Quando estudava, há não muito tempo, cerca de 10 anos, via chegar ao fim do ensino fundamental alunos que sequer sabiam bem as 4 operações básicas da matemática, que liam tropeçando nas palavras, etc., e isso não era uma exceção.
É esse tipo de aluno que queres ver em nossas universidades? Eu não!"
Filósofo, quero ver na Universidade todos os que lá desejem estar, todos que lá precisem estar, todos que lá têm o direito de lá estar. Uma vez na Universidade, poderão aprender o que os seus professores não não ensinaram. Não podemos penalizar o estudante, pela baixa qualidade dos professores que tiveram, não é?
Meu caro filósofo, não quero ver ninguém fora da Universidade apenas porque vem desta ou daquela classe econômica, desta ou daquela origem racial, ou que tenha esta ou aquela deficiência.
Agora, meu caro filósofo, o que não quero mesmo, é ver saindo da universidade, pessoas despreparadas para enxergar a exclusão que grande parte da sociedade sofre, com a dominância de alguns; que não quero ver, de fato, é sairem da Universidade, pessoas que não percebam que poderiam ter sido o que quisessem, ter sido mais e melhor, fossem-lhes respeitados direitos, dado-lhes as condições, garantido-se-lhes a oportunidades.
Por fim, o que quero, mesmo, é não ver sairem da Universidade pessoas que não se deem conta de seu papel de transformação social, de contribuição para uma sociedade mais inclusiva e menos excludente.
Cordialmente,
Francisco Lima

Caro Francisco, em primeiro lugar, não me reservaram o curso de filosofia: eu o escolhi entre muitos, habdicando inclusive de um curso de jornalismo na Universidade Federal, depois de pensar que não estaria satisfeito, a final, fui arrebatado pela filosofia. Se não escolhi um curso relativo às ciências exatas, foi porque realmente não tenho interesse, pois apesar de algumas vezes a interdisciplinaridade os cruzar, tenho muito mais facínio pelos assuntos ligados à vida social, aquela que ao contrário da natureza, é construida por nós.
Para falar mais um pouco de mim: Em segundo lugar, eu poderia estar me vitmizando, afirmando que não tive igualdade de condições para lutar por qualquer outro curso que eu quisesse, mas... pombas,não foi isso que aconteceu! O que houve foi que eu, por volta do fim de meu ensino fundamental, deixei-me influenciar por pessoas que não estavam dispostas a estudar, ao contrário de outras que mesmo dadas as condições precárias da educação, se desdobravam em esforços para estarem preparadas ao fim do ensino básico. Nesse tempo, eu realmente ignorava as aulas, dando imensamente mais atenção às conversas paralelas.
Aqui um parêntese: sei que os motivos que levam um aluno a desinteressar-se pelos estudos não são só seus, pois o contexto histórico possui grande importância nesse sentido, bem como a própria forma de ensinar que está sendo empregada, a metodologia. Por isso é que eu falo dos governantes. Creio que os professores não decidem sozinhos sobre que metodologia será aplicada em sala. Estou errado?
Mas eu perdi tempo de tal forma, que inúmeras vezes tive de ficar em recuperação no fim do ano.
Acredito que esse discurso de igualdade de condições, embora tenha seu fundo de verdade, a educação recebida, não cabe tanto como caberia a algum tempo atrás, porque hoje a tecnologia está nas mãos de quase todos, e tecnologia é informação, cultura, etc.
Voltando à minha história: depois de ter terminado meu ensino médio, resolvi estudar de verdade. Foi quando reuni materiais, quer digitalizados, quer em livros impressos em braille, e passei cerca de um ano estudando diária e rigorosamente.
Quando prestei vestibular, no fim de 2005, obtive pontuação que seria suficiente para passar em cursos bem mais concorridos que a filosofia.
Não quero dizer com isso, que o que aconteceu comigo tem de se aplicar a todos, mas acredito que as barreiras educacionais, apesar de difíceis, não são intransponíveis.
Quanto às estatísticas, quando dou uma informação desta natureza, cabe a mim o honus de saber de onde ela vem. Portanto, dizer algo e não dizer porque diz é como não dizer nada.
Assim como para falar contra as cotas é necessário estudá-la, para falar a favor destas, é igualmente preciso um estudo sério e honesto, para não se apoiar somente em sentimentos e conjecturas.
Eu realmente acredito que tanto a educação básica brasileira como o sistema de aprovação nas universidades necessita de grandes reformas, mas as cotas, a meu ver, não estão entre elas. E reitero que também não farei uso delas, pois assim, sinceramente, terei a cabeça bem mais erguida.
Quanto ao preconceito, só mais um detalhe: acredito que algo que tem muita importância, é não apenas as coisas em si próprias, mas o porquê delas. É óbvio que jamais permitiria que alguém que não tem qualquer intimidade comigo me chamasse de ceguinho ou algo que o valha. Mas em meu trabalho, quando cursava minha faculdade, meu curso de Inglês, jamais vi qualquer problema em ser chamado assim, pois assim como sou cego por acaso, também sou Marlin por acaso. Não tenho qualquer complexo de inferioridade por sê-lo, pelo que isto não me afeta.
Quando, e se, houver uma educação de qualidade para todos, independentemente de estudarem em escolas públicas ou privadas, poderemos falar em igualdade de condições, coisa que para mim, não será proporcionada pelas cotas.

Caro filósofo,
Bom que tenha sido assim para você.
De minha parte, acho que nossos leitores podem tirar as conclusões que desta discussão derivam.
Cordialmente,
Francisco Lima