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ariádona - blog de Madalena Ribeiro

O regresso da princesa

por Madalena Ribeiro

Olá a todos. Após um período de ausência, por vários motivos, cá estou eu para vos contar mais um capítulo tão ansiado por tantos da história da princesa. Nestes últimos tempos, muita coisa aconteceu na minha vida, que me fez mudar a visão do mundo, apesar de não ter qualquer visão!
Mas voltemos à história.

Em plena pré-adolescência, um novo período de mudança se iniciou na vida da pricesa, tão criança e tão indefesa para enfrentar todos os problemas com que se iria confrontar. Uma nova escola, novos colegas, novos professores, um novo estado de mulher, novas descriminações e dificuldades.

Com a chegada da adolescência, o meu estado de saúde agravou-se e o meu olho esquerdo ficou um pouco deformado. Apesar de ser corrigido mais tarde, as pessoas olhavam para mim e pensavam que, sendo cega, não percebia os olhares de pena, de descriminação, de puro preconceito.

Uma nova vida começava, com novos problemas para enfrentar. Com o surgimento da puberdade, um novo problema surgia, o problema de me adaptar ao meu novo corpo, às mudanças diárias que não entendia, pensando ser diferente de todas as raparigas, porque não via acontecer nelas o que estava a acontecer comigo. Na nova escola, havia um novo espaço para conhecer e me adaptar e novas mentalidades para mudar.

Na nova escola, muito mais difícil do quea preparatória, não tinha ninguém responsável por mim, dependendo sempre das funcionárias e dos professores que nem sempre podiam estar comigo, ficando sozinha a maior parte do tempo. Separei-me de muitos amigos de quem gostava e tive de tentar construir novas amizades, o que se revelou uma tarefa muito e talvez demasiado complicada.

Na nova escola eu só tinha colegas e não amigos. A certa altura, até havia uma lista ou uma espécie de escala em que os meus colegas se revesavam para andar comigo e não me deixarem sozinha. Nessa altura, eu vivi um dos piores momentos da minha vida. Eu senti-me um objecto, uma obrigação, um dever e não uma pessoa com sentimentos e vontade própria.

Os meus melhores amigos foram sempre professores, que me ajudaram muito e salvaram a minha vida e a aquisição de maturidade. Foram eles que me deram o carinho e a força que eu precisava para crescer. Perante esta realidade, acrescida dos preconceitos de pais e alunos que se multiplicou fizeram-me crescer rápido, tornar-me mais madura e mais diferente das meninas da mesma idade. Eu sentia-me estranha, desfasada da minha idade, das pessoas que me rodeavam, ficando cada vez mais próxima das pessoas adultas com quem convivia.

Nesse momento, o apoio dos meus pais e restante família foi fundamental, mas mesmo esse teve momentos de falha, quando os meus pais tiveram um conflito e eu fui deixada um pouco de parte, tornando-me na confidente dos dois e sendo obrigada a crescer ainda mais para os poder ajudar.

Eu tornei-me adulta antes do tempo, não vivi a adolescência, não vivi o amor que tinha de viver naquela idade por achar que nenhum rapaz ia olhar para mim. Eu sentia-me gorda e feia e ainda por cima era cega, todos os defeitos que nenhum rapaz gostava. Devido a tudo isso, atravessei um período de depressão que, só com muito apoio dos professores e de alguns poucos amigos não deixou que afectasse as notas e o meu desempenho que, apesar das dificuldades, foisempre brilhante. Muitas pessoas não entendiam porque eu era assim, porque tinha tanta força e tão bom desempenho apesar de tudo e de todos os problemas. O facto é que desde pequena aprendi que tinha de enfrentar todas as dificuldades e superar-me a mim própria para vencer na vida e lutar de igual para igual com os outros, com o único objectivo de vencer o preconceito e as ideias feitas das pessoas que me rodeavam.

Ao terminar o nono ano, no fim de três anos conturbados, um novo problema: a necessidade da escolha de um caminho, de uma área de estudos, que, para mim, nunca foi discutível. Isso significava novas mudanças, apesar de estar mais habituada ao meu ambiente escolar e não ter de mudar de novo. Depois de muita ponderação, optei pelas letras, o caminho mais fácil e o que eu mais gostava.
Então tive uma grande alegria! A professora que eu mais gostava e que mais me ajudava ia continuar comigo, a dar-me apoio e conselhos que mais ninguém me conseguia dar. Mas iam vir novos colegas, novos problemas e novas mentalidades para mudar e moldar. Mas nessa altura eu já tinha aprendido a lidar com os problemas, a enfrentar tudo com um sorriso e a vencer todas as batalhas. Eu já me tinha tornado na mulher forte que sou hoje, na princesa dura e doce ao mesmo tempo, na pessoa por quem os meus pais tanto lutaram.

A minha vida a partir desse momento também não foi fácil, mas as coisas boas começaram a aparecer e as pessoas que eu precisava começaram a surgir na minha vida, mas isso já é outra história que contarei certamente.
No próximo hepisódio da história da princesa, ficarão a saber mais sobre mim, sobre a menina tão desejada que passou de pesadelo a orgulho dos seus pais e de todos os que a rodeiam.

Comentários

Endlich hast du was neues geschrieben!! Aber noch nicht alles!! Ich will mehr!! LOL Und du könntest die Fehler korrigieren, vor du es ihr schreibst =p ich weiss ich bin eine blöde küh! lol aber ich habe dich gern , meine süsse Prinzess!
No video do meu blog, eles mostram uma mulher chinesa que não tem braços, logo faz tudo com os pés, inculsive lavar-se, cozinhar com pauzinhos e descascar ervilhas!!!! É fantástico mesmo! Deixa muita gente a pensar como é possível! E esta senhora é independente, faz tudo sozinha e criou pelo menos dois filhos(só não dizem é quando ela perdeu os braços)..
Fico à espera de um próximo capítulo!
Beijinjhos Lena
e até daqui a três semanas!! =)

Olá amiga.

Para não variar, nesta história que contas, temos muita coisa em comum, senão reparemos:

Os professores também foram os meus maiores amigos. Puxavam muito por mim, e eram os que mais me ajudavam. Também vivi aquela situação em que os colegas se organizavam para me acompanharem um por dia, mas nem isso fez com que arranjasse amigos, pois nem sequer me convidavam para ir com eles, e muitas vezes também ficava sozinho, e nessas alturas por vezes ia para o pé dos funcionários, outra classe que se mostrou solidária comigo.

É, parece que crescemos mais depressa e não vivemos as coisas como as crianças normais.
Mas isso acabou por trazer as suas vantagens, e é nelas que devemos pensar. Tal como disseste, assim acabamos por ultrapassar facilmente os maus momentos, levantando a cabeça e seguindo em frente.

Fico à espera de um novo capítulo da tua história.

Beijinhos deste amigo que te admira.

Tiago Duarte

Tiago Duarte

Olá Madalena!
Obrigado por teres regressado com os teus comentários, contando algumas coisas bonitas e reais da tua vida.
É com muito praser que leio o que nos vais contando.
Muitos parabéns, e muita força para enfrentares o futuro que ainda assim, não será nada fácil.
Beijinhos.

Sérgio Gonçalves

Ana RochaOlá Madalena, antes demais quero dar-te os parabéns pela coragem que tinhas e tens dentro de ti... Eu durante a minha preparatória enfrentei a fase de ter cegado no oitavo an e das pessoas olharem para mim com pena... Tive muita falta de livros mas para isso tive a minha mãe que chegava a caminhar todos os dias para mandar digitalizar os livros na mediateca no campo pequeno para depois ela corrigir. A maior barreira foi as aulas de mobilidade, porque o professor que me dava essas aulas tinha modado de escola e a drl não lhe queria pagar horas para ele me dar mobilidade a mim e aos outros colegas, mas com grande esforço e luta da minha mãe la o consegui ter por mais um ano precisamente o ano em que eu ceguei e que tive de voltar a andar como se fosse uma criança. Também achei a minha altura da puverdade diferente das outrs crianças. mas a passagem para o 10ano foi muito dura apesar de ter escolhido a ária das ciências e de não ter professora que soubesse ler braille , era eu que lia os meus testes aos meus professores, mas consegui com muita alegria ensinar a minha professora de fisico-quimica e a de matemátca a lerem braille... No 10ano a minha turma era horrivel andavam comigo obrigados como no caso da Madalena; e tal e qual foram os professores que me deram apoio e carinho, apresentando-me novas coisas da vida e outros colegas que mais tarde s tornaram meus amigos e não me descriminavam... Tive um secundário muito duro passava imenso tempo sozinha quer na escola quer em casa... Se mudei devo isso aos meus novos amigos, a minha professora de apoio que veio no 11ºano que apesar de não saber braille me ajudou muito na parte dos livros, relevos e até na minha vida pessoal... no fim do 10ºano fui para o centro nossa senhora dos anjos, não fui antes por ter cegado aos 15 anos e nos dizerem que só aceitavam pessoas com 17 anos, aí foi quando descobri que a vida fazia sentido e me comecei a tornar na mulher, dura meiga e doce que sou hoje... o resto da história é outra história.

Ana Rocha