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Design inclusivo: «Portugal não é um país acessível»

por Lerparaver

Inês Santos

Produtos que são universais, criados a pensar em todas as pessoas, quer sejam ou não portadoras de deficiência, já são uma realidade em Portugal mas ainda«há muito para fazer». No dia em que termina o primeiro Congresso de Design Inclusivo, a TSF falou com o especialista da ACAPO em acessibilidades.

Imagine que vai comprar um computador e que o aparelho já vem com um programa específico para cegos, como um leitor de voz. Imagine agora que não tem de pagar mais por isso, ou seja, o computador já inclui esse programa, mesmo que o utilizador não tenha incapacidade visual. Este é um produto inclusivo, ou o chamado produto com design inclusivo, um produto que, não sendo preciso modificar, está adaptado também às pessoas com necessidades especiais.

Um outro exemplo de design inclusivo é o que foi adaptado às moedas de euro. Os rebordos de cada uma das moedas são diferentes para que se pudessem distinguirvisualmente mas também para que, aqueles que não o pudessem fazer, mais facilmente identificassem todas as moedas.

O primeiro Congresso de Design Inclusivo, organizado pela Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO) termina hoje, em Lisboa, com um alerta dos especialistas para que se passe rapidamente à ação, a nível nacional.

Para Peter Colwell, técnico de acessibilidades da ACAPO, «o tempo da sensibilização já acabou, uma vez que toda a gente já percebeu que é necessário fazer este tipos de projetos». Colwell acredita que «as empresas também ganham porque assim conseguem vender os produtos e serviços a mais pessoas».

Nesta entrevista, o técnico Peter Colwell não tem dúvidas que, «apesar de Portugal ter melhorado, continua a não ser um país acessível», apontando Barcelonacomo a cidade europeia que mais desenvolvimentos fez nos últimos anos em torno do design inclusivo. «Quando a cidade precisou de ser inovada por causa dos Jogos Olímpicos , aproveitaram as obras para iniciar o processo de introdução ao design inclusivo».

Este especialista considera que, no âmbito do design inclusivo, «os portugueses também têm os mesmos conhecimentos mas não têm tantas oportunidades para os por em prática por falta de interesse de quem toma decisões».

Peter Colwell afirma ainda que é usual de as decisões sejam tomadas «em função de si próprio e, se essa pessoa não tiver nenhuma incapacidade, também não vai criar nenhum sistema que responda às necessidades especiais de outros».

Comentários

olá,
talvez eu não me tenha apercebido bem, mas a nível de acessibilidade web, eu pessoalmente, sou um pro!. consigo executar todas as funções do site que estiver a visitar. a nível de protutos, que de facto são demasiado caros, não falo num simples computador, até porque hoje em dia os computadores estão baratíssimos, principalmente os portáteis, mas um leitor de ecrã como o jaws, que segundo sei actualmente custa 2100 euros cada licença, mais vale tirá-lo da net, e os cracks do mesmo andam de boca em boca, por todo o lado.

Caro João Nuno,

Creio que esta notícia não se refere propriamente a acessibilidade Web, embora o disign universal também se lhe aplique.

Concordo com o essencial desta notícia, incluindo a nível Web. O facto do João Nuno navegar satisfatoriamente numa página Web não significa que seja acessível. Além disso, experimente por exemplo entregar uma declaração nas finanças ou enviar um e-mail a um deputado a partir do site do parlamento ou registar-se na bolsa de emprego público e depois diga coisas.

farei isso, fique descançado. mas acredito que não tenha grandes dúvidas. há certas barreiras que se lhe conseguem dar a volta.

Claro que sei que se consegue dar a volta a algumas barreiras, mas só o facto de lhe chamar barreiras já mostra que não é acessível. Além disso, se eu posso fazer uma coisa em meio minuto, e para dar a volta as barreiras demorar 1 ou 2 minutos, pode ser o suficiente para ser ou não ser competitivo no mercado de trabalho. Além de que uma página acessível é aquela que qualquer pessoa, com qualquer deficiência, em qualquer lugar com qualquer equipamento, consegue aceder sem dificuldade. Não necessita de ser um utilizador pró ou de ter o leitor de ecrã mais pró. Se apenas um utilizador pró conseguir aceder, então certamente não é acessível, quando muito, acessável, e nem por todos.

Contudo, há sites/parte de sites que nem o utilizador cego mais pró, com o leitor de ecrã e browser mais pró conseguem aceder. Dos 3 exemplos que dei, sei que um deles é possível aceder através de uma ferramenta adicional, e outro com muita paciência e clicando em links pouco explicativos, mas isto é ser acessível?

Sei que um texto em formato imagem pode ser passado por um OCR, mas isto é ser acessível? Existem muitas páginas em que o essencial do texto da página está em imagens.

Consegue usar todo o potencial de todas as aplicações em flash’s que lhe aparecem?

No que respeita à acessibilidade para nós cegos, apesar de já se ter feito alguma coisa, é um grão de areia no meio do deserto; e a associação, ACAPO, ainda bem que finalmente começa a falar no assunto, e é bom que o faça muitas mais vezes,e a nível geral.

A acesibilidade na WEB, é importantíssima, mas há muito a fazer em todas as outras áreas.

A nível de fabrico de equipamentos sejam eles informáticos ou eletrodomésticos etc. e por vezes era tão simples, quando se está a fabricar os objetos, bastava apenas introduzir pequenas alterações, mas para isso era preciso que que a população não pensasse apenas na maioria, mas também nos que são menos e que a vida lhes aprontou dificuldades acrescidas.

Tem que se lutar, para que haja mentalidades mais abertas, e que as pessoas são todas humanas; é uma vergonha, que pessoas que tenham uma limitação, para terem alguns objetos tenham que pagar,por uma simples balança mais de dez ou quinze vezes a mais do que custa uma para as mesmas funções para o cidadão, dito normal e este é apenas um exemplo.

É indispensável, que quando se pede uma alteração se pense bem no assunto, pois os medicamentos, óptimo, já vêm com o nome em braille, mas e a validade onde está??

Cumprimentos a todos--SRSM.

Triste que se organizem estes congressos para no fim tirar como conclusões as mesmas premissas que todos já conhecemos... Se coisa mais interessante por lá se passou, pouco ou nada se sabe, consequências deste elitismo dos "especialistas". Por isso julgo, pessoal e honestamente, que isto é pouquinho mais que o show-of do costume (iria dizer transversal às várias dNs, da Acapo, mas provavelmente a palavra indicada é *paralelo*).