As novas tecnologias são uma mais-valia para os portadores de deficiência. Depois das máquinas de escrever Braille pesadas, os computadores adaptados são uma excelente ajuda para quem é cego ou tem visão reduzida. Na Madeira, a Divisão de Acessibilidade e Adaptação das Tecnologias de Informação e Comunicação acompanha 59 portadores de deficiência visual, entre crianças e jovens nas escolas, como também adultos na vida activa.
Ontem, comemorou-se o Dia Mundial do Braille, um sistema de escrita que permite aos portadores de deficiência visual escrever e ler. E se a estimativa é que em Portugal existam cerca de 163 mil pessoas cegas ou com baixa visão, na Madeira esse número é reduzido. E se antes os portadores de deficiência visual tinham de andar com uma máquina de escrever pesada e com livros com centenas de páginas, agora, as novas tecnologias vieram aliviar um pouco esse peso e abrir novas oportunidades.
Neste momento, a Divisão de Acessibilidade e Adaptação das Tecnologias de Informação e Comunicação (DAATIC), da Direcção Regional de Educação Especial e Reabilitação (DREER), acompanha 59 pessoas com deficiência visual. Destas, dez são crianças e jovens cegas em idade escolar que estão integradas em estabelecimentos de ensino regular e ainda 20 adultos cegos.
Já com baixa visão, aquele serviço presta apoio a 23 crianças e seis adultos com visão mais reduzida. Além do acompanhamento do aluno, por vezes, professores e pais recebem formação ao nível do Braille aplicado às novas tecnologias para que o trabalho do aluno continue em casa. «Os miúdos têm desde sintetizadores de voz a computadores portáteis para cegos», explicou a directora da DAATIC, Graça Faria, cuja divisão já avaliou 93 pessoas, desde 1993.
Relativamente aos projectos que são desenvolvidos pela DAATIC, há o projecto de adaptação de conteúdos de textos para Braille, áudio, relevo e ampliação. Além disso, os jovens e adultos madeirenses com deficiências visuais podem levantar na DAATIC equipamento informático, electrónico e material escolar adaptado, já que há um programa de cedência de material temporário. Para os que querem actualizar-se ao nível das novas tecnologias para portadores de deficiência visual, a DAATIC também dá formação. «Os miúdos pedem muito a formação para utilizar as redes sociais ou o MSN», disse Graça Faria. Os técnicos daquela serviços vão também por vezes às escolas explicar aos alunos como funciona a tecnologia adaptada às necessidades especiais. Como adiantou a responsável, geralmente são as escolas com alunos cegos que pedem esta formação, para que os colegas percebam as dificuldades que os deficientes visuais enfrentam.
Rastreio de prevenção na área da visão nos estabelecimentos da DREER
Uma novidade este ano é o rastreio de prevenção na área da visão, que começou a ser feito em Novembro passado, e irá abranger as cerca de 140 crianças que frequentam os estabelecimentos da DREER. «O objectivo é o de detectar alterações visuais e encaminhar para os serviços de saúde, porque as nossas crianças são mais difíceis de passar qualquer teste em termos visuais e como temos em estágio uma técnica profissional de diagnóstico e terapêutica, na área da ortóptica, todos os meninos vão fazer o rastreio», explicou Graça Freitas. Em Maio ficará concluído.
Cegos sem acesso a informação oficial
Há ainda muita informação oficial e importante não acessível aos cegos, lembra a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), a propósito do Dia Mundial do Braille, que ontem se assinalou.
Em Portugal estima-se que existam cerca de 163 mil pessoas com deficiência visual, segundo os dados do Censos de 2001, mas estes números parecem não sensibilizar a sociedade para a mudança de hábitos.
Felizmente o panorama vem mudando, mas é uma mudança lenta, diz disse à Lusa o director da ACAPO, Rodrigo Santos, sublinhando que ainda há muita informação que não está acessível aos invisuais. "Ainda recebo em casa muita correspondência de organismos públicos que não vem em Braille", critica. Rodrigo Santos lembra que o Braille é o meio universal de leitura e escrita das pessoas com deficiência visual: Representa a nossa porta para a alfabetização e para uma comunicação escrita que está omnipresente.
Há medicamentos sem escrita em Braille
Apesar de ser obrigatório, muitos medicamentos continuam a ser vendidos sem qualquer informação em Braille, pondo em causa a saúde das pessoas com deficiências visuais. O alerta é do director da ACAPO, Rodrigo Santos, em declarações à Lusa.
No entanto, o responsável reconhece que existem excepções no mercado: Há laboratórios que estão sensíveis e que fazem questão de ter Braille com qualidade e legível. Além destas empresas, a ACAPO sublinha o esforço do Infarmed na busca de soluções verdadeiramente acessíveis a todos. Rodrigo Santos lembra que o Infarmed tem disponibilizado no site as bulas em suporte electrónico.
O presidente da delegação regional da Ordem dos Farmacêuticos, João Cerqueira, diz que há uma percentagem de medicamentos já com a escrita em Braille e que há pouco mais de dois meses, houve um medicmento infantil retirado do mercado porque a escrita em Braille continha erros. «Apesar dos elevados custos que isso comporta, o laboratório retirou do mercado»
Breves
Há cada vez mais pessoas sem problemas de visão a aprender Braille. Só no ano passado, a ACAPO ensinou mais de uma centena de alunos e alguns aprenderam a ler numa semana. No entanto, a maioria usa os olhos e não o tacto para o fazer. Mais do que aquele pequeno fascínio de querer conhecer uma coisa nova, nota-se um interesse real da comunidade em conhecer o sistema, disse à Lusa o director da Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal (ACAPO), Rodrigo Santos, a propósito do Dia Mundial do Braille, ontem assinalado.
O sistema Braille é um alfabeto cujos caracteres se indicam por pontos em relevo. A partir dos seis pontos salientes, é possível fazer 63 combinações que podem representar letras simples e acentuadas, pontuações, algarismos, sinais algébricos e notas musicais. Depois, existe toda uma lógica que é preciso perceber. "Não basta decorar, é preciso perceber-se a lógica do sistema e algumas regras", explica Rodrigo Santos.
Os hipermercados já têm funcionários que são os "olhos" de quem não vê. Acabaram-se os tempos em que os invisuais levavam para casa uma lata de ração pensando tratar-se de feijão ou um pacote de vinho em vez de leite. No início de 2009, as grandes superfícies - com mais de 230 metros quadrados - passaram a ser legalmente obrigadas a colocar rótulos em Braille nos produtos e a ter pessoal formado para ajudar as pessoas com deficiência visual.
Marília Dantas
Fonte: http://www.jornaldamadeira.pt/not2008.php?Seccao=14&id=141955&sup=0&sdata=
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