PEDRO OLAVO SIMÕES
Não podem a escuridão ou a metafórica cegueira branca, inventada por Saramago, travar a fruição da literatura ou o acesso ao conhecimento. Há 40 anos que a Biblioteca Sonora do Porto luta contra isso. Veja o vídeo
Bruno, deficiente visual, utente e, em simultâneo, estagiário na Biblioteca Sonora, que nasceu como inovação nacional no seio da Biblioteca Pública Municipal do Porto, diz como um serviço destes pode iluminar quem se viu atirado para a escuridão: "O Braille é que alfabetiza, mas é mais fácil de aprender pelos cegos de nascença. Os cegos tardios, que têm mais dificuldades, ao nível do tato, para distinguir os pontos, optam pelo audiolivro ou pela informática".
Fundada em Março de 1972 - ainda está patente, no claustro da biblioteca, a exposição comemorativa -, a Biblioteca Sonora atravessa um momento de viragem, com a implementação do fundo digital, descarregável pela Internet, o que lhe permite alargar fronteiras geográficas (o mundo é o limite) que já anteriormente eram distantes, graças ao envio postal de livros gravados em suportes materiais, da vetusta cassete ao já entradote CD.
Exclusivamente destinada a cidadãos portadores de deficiência visual documentada, a Biblioteca Sonora é encarada por Carla Fonseca, responsável municipal pelo serviço de bibliotecas, como vertente importante da "coesão social" (uma bandeira política de Rui Rio), "preocupação que já existia há 40 anos e continua a ser uma aposta da Câmara do Porto".
Há seis mil títulos na primeira biblioteca sonora do país
Falamos num fundo com cerca de "seis mil títulos, correspondentes a 60 mil horas de gravação. No caso da biblioteca digital (formato MP3), estão disponíveis em linha 500 títulos (2500 horas de gravação). Originalmente, as leituras eram asseguradas por profissionais (radialistas, atores...) pagos, mas a prestação graciosa do trabalho foi-se implementando gradualmente até atingir a totalidade: hoje, a Biblioteca Sonora é o serviço com mais voluntários (27) do município.
Seja como for, o processo de gravação e disponibilização de uma obra é moroso (exiguidade de meios, pós-produção...), pelo que não pode gravar-se tudo e mais alguma coisa. "O primeiro critério é a demanda dos utentes, e só esse quase nos aloca todos os recursos", diz Júlio Costa, coordenador do serviço.
A ficção, a poesia ou o ensaio são os géneros mais requisitados, mas a função da biblioteca não se esgota aí, sendo gravados livros técnicos e manuais escolares, cheios de esquemas que a arte da audiodescrição torna inteligíveis.
Fonte: http://www.jn.pt/paginainicial/pais/concelho.aspx?Distrito=Porto&Concelh...
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