Luís Botelho Ribeiro, investigador ligado à área de electrónica industrial na Universidade do Minho, desenvolveu um instrumento informático precioso de ajuda aos invisuais, em colaboração com a ACAPO de Braga, o midi-chat. Em que consiste? Simples. Através de uma plataforma virtual, pretende criar uma orquestra, com "braços" em todo o mundo. Tudo através do teclado de um computador
Pelas suas características, o sistema de ensino pode inibir os invisuais, impedindo-os, por vezes, de chegar às universidades. Resgatá-los ao isolamento individual e social é prioritário. O investigador da Universidade do Minho, Luís Botelho Ribeiro direccionou a sua área de trabalho para esta comunidade e embrenhou-se em projectos educativos, aproveitando a experiência no terreno com a delegação de Braga da ACAPO. As ideias fervilham e podem multiplicar-se.
A área para onde agora se virou é substancialmente diferente da que tem investigado até à data. Como é que se operou esta viragem?
Luís Botelho Ribeiro - Sim, foi uma grande mudança. A minha formação é outra. Agora estou numa área na qual me sinto emocionalmente empenhado. Tudo começou porque fomos convidados por um consórcio europeu de universidades para integrar um projecto o SAVI (Social Assistance For- With Visually Impared). Da equipa faz parte a investigadora Isabel Silva, da Universidade de Aveiro.
Dessa cooperação saiu um Guia das Melhores Práticas, destinado a ensinar a comunidade educativa a dar aulas a invisuais. O ensino em Portugal não tem isso em conta?
Não, não tem. Muitas vezes, os professores não sabem lidar com os estudantes cegos ou amblíopes. Há uma lacuna na formação. Os docentes usam expressões que os podem ofender e não os apoiam devidamente quando estão a leccionar a matéria.
De que forma é que o guia pode contribuir para melhores práticas nesse domínio?
A intenção é publicar, inicialmente, um ou dois mil exemplares em papel e fazê-los chegar às escolas onde está reportada a presença de cegos, e aos centros de formação de professores. Esperamos que o Ministério da Educação possa fazer crescer a nossa abrangência. Também temos o portal www.savi.genadios.com/uk.
Como é que a tutela pode apoiar o projecto?
Criando uma edição própria e levando-a às dezenas de milhar de escolas portuguesas, se calhar também em formato digital.
Aproveitou a mudança de área e embrenhou-se logo noutro projecto, apoiado pela ACAPO de Braga o midi-chat. Mais uma iniciativa para pôr fim ao isolamento?
Sem dúvida. Trabalhar com a ACAPO é motivante. As reacções positivas ao nosso trabalho são imediatas, o empenho é genuíno. O midi-chat é uma prova disso. Através de uma plataforma virtual, queremos criar uma orquestra, com braços em todo o mundo, bastando, para isso, o teclado do computador.
É um chat de música.
Precisamente. Está em desenvolvimento. Eu criei o software e alguns alunos estão dispostos a ajudar-me. O Leonardo Silva (presidente da ACAPO de Braga) encarregou-se de difundir aos seus contactos. O programa até já pode ser descarregado, no blogue http://www.midichat.blogspot.com.
Depois é só ligarem-se
Combinam por e- mail, escolhem um canal entre os 16 existentes e encontram-se numa sala de ensaio virtual. Cada um escolhe o instrumento e toca no teclado.
As novas tecnologias vieram dar um novo impulso aos invisuais. A comunicação está muito mais facilitada.
São essenciais. Por isso, acredito que todos deviam ser ensinados a mexer em computadores. Esta plataforma, por exemplo, poderá ser um veículo para professores de música invisuais que queiram ter oportunidade de leccionar.
Vai continuar a trabalhar com os invisuais?
Sim, é minha intenção. Há a ideia, por exemplo, de criar um sistema de detecção de obstáculos. Os que existem são importados e os preços, muitas vezes, são elevados. Mas ainda é prematuro falar.
Fonte: http://jn.sapo.pt/2006/07/10/minho/os_invisuais_deviam_todos_ensinados_....
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