Artigo que escrevi para o Jornal Correio do Minho na primeira edição do suplemento Cmcidades.
Começo por fazer a minha declaração de Interesses. Apesar de fazer grande parte das minhas deslocações na cidade a pé e de transporte público, nada me move contra a mobilidade em bicicleta, antes pelo contrário.
Estou de corpo e alma dentro do espírito de mobilização comum que visa promover o uso de modos suaves de transporte nas cidades, tanto mais que tenho a convicção profunda que a crescente luta a favor da utilização da bicicleta não tem beneficiado apenas os ciclistas, mas também, por arrasto, aqueles que não podem ou não querem fazer do automóvel o seu modo de transporte principal.
A verdade é que esta alteração na forma como nos devemos movimentar nos meios urbanos, implica uma grande mudança de mentalidades e formas de atuação dos cidadãos, pelo que exige, da parte de quem decide, políticas corajosas e arrojadas.
Um dos exemplos que justifica uma urgente alteração de paradigma passa por definir muito bem as regras de utilização da via pública.
Automobilistas, ciclistas e peões são 3 grupos de utilizadores com necessidades específicas peculiares e muito diferentes, pelo que, regra geral, devem-se poder mover em vias dedicadas (segregadas), e não partilhadas como sucede, por exemplo, na via pedonal e ciclável do rio este.
Por conseguinte a ciclovia não deve ficar no passeio. Desde logo porque eles já são demasiado estreitos, mas, sobretudo, pelo facto de existirem muitas pessoas vulneráveis. Uns porque são crianças, outros porque apresentam mobilidade condicionada. E tão ou mais grave do que os possíveis acidentes que podem ocorrer, é a existência de uma sensação de insegurança.
Quando a ciclovia está no passeio, ciclistas e peões circulam nas duas direções, enquanto uma ciclovia dedicada normalmente é de sentido único.
Para as pessoas cegas e com baixa visão, as ciclovias em espaços dedicados possibilitam distingui-las claramente do passeio, pois este encontra-se mais alto e tem um pavimento diferente.
Idealmente o piso da ciclovia deve ser um pouco mais áspero, de forma a permitir ouvir a aproximação de uma bicicleta através do barulho dos pneus.
Por outro lado, criar uma ciclovia na estrada implica reduzir um pouco a largura da faixa de rodagem e das vias de trânsito, o que contribui muito para implementar um verdadeiro mecanismo de acalmia de tráfego.
Como tal, não há dúvida que a concepção de ciclovias e passeios exige vistas largas, porque mudar prioridades é preciso.
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