Ver e não ver
No capítulo Ver e não ver, o neurologista Oliver Sacks relata o paradoxal caso
de um de seus pacientes que cego desde os 3 anos de idade, volta a enxergar aos 50.
Com essa reviravolta o paciente Virgil, que até aquele momento só enxergava pelo
tato e possuía apenas a noção de tempo, se encontra num processo de descoberta e
por outro lado de sofrimento, pois, embora enxergue, seu cérebro não tem noção de
espaço, só enxergando quando realmente toca objetos. Como não possui nenhuma memória
visual, sua mente não distingue o que está vendo, vê cores, texturas, luzes, sombras,
mas não sabe o que enxerga, vê e não vê.
O mundo que vemos não surgiu do nada à nossa frente, diferente do paciente Virgil,
crescemos, experimentamos e conhecemos pouco à pouco nossa realidade através de todos
os sentidos. Como cita (Sacks, 1995, p. 129):
Nós que nascemos com a visão mal podemos imaginar tal confusão. Já que, possuindo
de nascença a totalidade dos sentidos e fazendo as correlações entre eles, um com
o outro, criamos um mundo visível de início, um mundo de objetos, conceitos e sentidos
visuais. Quando abrimos nossos olhos todas as manhãs, damos de cara com um mundo
que passamos a vida aprendendo a ver.
Era, antes, o comportamento de alguém mentalmente cego, ou agnósico -- capaz de
ver, mas não de decifrar o que estava vendo., descreve (Sacks, 1995, p. 131), o
comportamento de Virgil. Com a privação da visão, é natural que os outros sentidos
agucem e o cérebro regule suas funções para obter melhor proveito da audição, tato,
olfato e paladar, corroborando para uma inibição da parte de seu cérebro responsável
pela visão.
A psicologia de Gestalt fala da questão figura/fundo e como assimilamos estas informações
através das seguintes leis: pregnância, fechamento, similaridade ou semelhança, proximidade,
continuidade e experiência passada. Não notamos esta percepção visual em Virgil,
como relata (Sacks, 1995, p. 137):
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