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Lite-Cultura - O seu blog sobre literatura e cultura - blog de Norberto Sousa

Universidade da vida

por Norberto Sousa

Não tive prazer algum em conhecer a cegueira, mas tenho muito gosto em ter aprendido com ela a compreender cada vez melhor a sua visão alternativa; ter aprendido a ver para além das máscaras de hipocrisia proporcionadas pela imagem; ter aprendido a ignorar o que se vê no primeiro plano e ver mais além; ter aprendido a dar mais valor ao que realmente importa em vez de dar importância àquilo que nos faz parecer, enfim, ter aprendido a ser e não a parecer ser.

Na verdade, nasci para a imagem, para o desenho, para a criação. Mas a cegueira desviou-me o olhar dessa área. Confiscou os planos, balançou os sonhos, agitou a vida e ofereceu-me uma nova prancheta, como se quisesse dizer: “Agora aprende a ver”. E, realmente, aprendi. Aprendi porque já me tinha sido ensinado que, quando não se consegue vencer, junta-se a eles. Aprendi porque já era inato saber escutar. Aprendi porque já tinha compreendido que, tal como acontece nos nossos estudos, só entendemos anos mais tarde o porquê de nos ter sido ensinada uma determinada matéria. Enfim, aprendi porque tentei compreender a sua mensagem, tentei respeitar as suas lições e aceitei a sua chegada.

Agora reflito e percebo a sua persistência em ficar. Há muito para ver, há muito para aprender para além da imagem que se vê. Que se vê com a visão dita normal, mas que hoje já não o é porque está tão embaciada pela poluição dos interesses deste mundo cada vez mais insensato e sem valores éticos nem morais. Que se vê com a visão emprestada pelos Média que promovem a visão consumista e desalfabetizante dos grupos económicos e das redes (anti)sociais que fazem esquecer que somos humanos, que existem relações familiares e de amizade, que existe vida real à nossa volta…

Enfim, vale a pena aceitar as mensagens da vida, vale a pena tentar compreender aquilo que parece aos nossos olhos menos positivo no momento da chegada, pois mais cedo ou mais tarde entenderemos que essas fases serviram para algo, mais que não seja para refletir um pouco sobre o nosso comportamento, sobre a nossa relação com o outro, sobre a nossa visão e aceitação do outro. Por isso vale a pena aproveitar cada momento, cada dádiva da vida, pois nenhuma oportunidade deve ser desperdiçada. E como há tempo para escrever, tempo para ler, tempo para trabalhar… vou escolher a terceira opção e agarrar de novo a oportunidade, se assim surgir, para voltar a refletir e escrever sobre este assunto que há muito queria partilhar. Pena que muitos que deveriam ler não o saibam fazer ou simplesmente não saibam que há tempo também para ser!

Copyright Norberto de Sousa
2014-09-10