Artigo que escrevi para a edição de 31 de Março de 2019 do jornal Correio do Minho, a propósito do suplemento Cmcidades.
Quando falamos em mobilidade nas cidades, é perfeitamente compreensível o fascínio pelas potencialidades da tecnologia, que não pode no entanto ofuscar um desidrato importantíssimo e útil que é o de descomplexificar o paradigma da acessibilidade.
Por conseguinte, importa chamar a atenção para um conjunto de medidas de fácil implementação, que não dependem da tecnologia, mas da boa vontade dos decisores.
Os pavimentos táteis, que alertam os cegos para a existência de passadeiras, escadas e outras situações perigosas, são baratos e salvam vidas.
A este propósito, importa dizer que qualquer pessoa pode verificar com os seus próprios olhos e ou os seus próprios pés a vergonha que é a estação de comboios de Braga, em que, mesmo depois de mais de 15 anos de sucessivos avisos e pedidos, não existe um piso podotátil a anunciar a presença das respetivas linhas.
Uma situação revoltante que já causou quedas de pessoas cegas à linha de Comboio, e que diariamente faz com que circulem com muito medo naquela estação.
Esta ausência de pavimentos táteis constrange também a mobilidade das pessoas cegas que têm muita dificuldade em identificar a localização das passadeiras.
Regista-se com muito agrado a intenção do município de Braga em incluir estes pisos na reformulação de dezenas de passadeiras. É uma medida muito importante para os cegos.
Outra medida simples é garantir uma boa luminosidade, sem sombras fortes, e contraste cromático em toda a sinalética, que é essencial para os amblíopes (pessoas com baixa visão), que em muitos casos não conseguem distinguir facilmente uma sombra de um objeto.
Obviamente que disponibilizar a informação na via pública num tamanho de letra bem visível é do mais elementar bom senso.
Nos elevadores, para além do tradicional botão de chamada, se existir um outro colocado mais abaixo, torna-se uma ajuda extraordinária para as pessoas que utilizam cadeira de rodas.
Também é muito útil a colocação de uma placa em Braille e caracteres ampliados com informação do número do piso, sobre tudo quando o elevador não dispõe de informação áudio.
Se em escadas existir o cuidado de colocar um piso de alerta, e o rebordo com contraste cromático feito em material anti derrapante, aumenta muito a segurança de todos. Bem como permitir que a pessoa nunca tenha de retirar a mão do corrimão que nos deve guiar por toda a escada, inclusive nos patamares.
Aumentar a luz num balcão de atendimento quando a pessoa dela necessitar, através por exemplo de um candeeiro de secretária, é útil a muitos cidadãos que não vêem o suficiente para preencher um impresso.
Acredito que muitos profissionais não tenham noção do impacto na vida das pessoas destas medidas simples e muito baratas.
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