O desporto tem o mérito de dar visibilidade às capacidades dos indivíduos e não às suas dificuldades, pois ninguém pratica uma actividade desportiva e
recreativa em que não tenha oportunidade de colocar em evidência as suas capacidades.
É um olhar positivo sobre a deficiência. Competente. Competitivo. E, acima de tudo, um olhar de esperança para os cidadãos com deficiência. Numa mensagem
de verdadeiros exemplos de vida para a sociedade.
Fundada em Janeiro de 2009, a secção de desporto adaptado do Sporting Clube de Braga nasceu para dar oportunidade desportiva de qualidade a cidadãos com
deficiência no distrito, garantindo a prática competitiva de alta competição a atletas com paralisia cerebral. A missão é transmitir a imagem positiva
que os atletas passam da pessoa com deficiência. E quebrar barreiras.
É um saldo muito positivo apesar de ser uma secção recente e das dificuldades não terem sido superadas. O que mais destaco é termos conseguido criar a
secção, somos dos poucos casos no país de um clube desportivo que tem uma secção de boccia. Também o facto de, apesar das condições ainda não serem as
que pretendemos, temos atletas de referência, que permitiram obter resultados de excelência. E o que estes atletas de referência significam para as pessoas
com deficiência. Podem dar a imagem de que a pessoa com deficiência é capaz, tem um lugar na sociedade e gosta de fazer desporto como qualquer pessoa.
Sobretudo, a imagem positiva que estes atletas dão da pessoa com deficiência, frisou Luís Marta.
O coordenador da secção de boccia lembra que o desafio passa por ter uma resposta normalizada para estes atletas, por forma a que seja possível olhar
para eles como atletas e não como pessoas com deficiência que fazem desporto.
O nosso desafio é esse. Que a sociedade olhe para eles como verdadeiros atletas, frisou.
E as conquistas falam por si. Mário Peixoto, Luís Silva e José Carlos Macedo sagraram-se campeões da europa em 2009, título ao qual se juntaram diversas
medalhas nos campeonatos de Portugal em pares e individuais. Esta época, José Carlos Macedo conquistou duas medalhas de prata para Portugal no campeonato
de mundo de Boccia, no início do mês de Junho, sagrando-se bi vice-campeão mundial, sendo o atleta português em maior evidência na modalidade. No último
fim-de-semana, o Sp. Braga renovou o título de campeão de Portugal em pares, juntamente com oito medalhas.
Troféus que permitem também abrir mentalidades e mostram ser possível somar vitórias com mobilidade reduzida: não há lugar melhor do que exprimir as qualidades de alguém do que re-presentar um
clube, representa muito para estes atletas em termos de imagem social. Normalmente as pessoas com deficiência estão destinadas às instituições. Mas os
nossos atletas são verdadeiros atletas e o facto de fazerem desporto num clube como o Sp. Braga tem uma força muito grande e um reflexo social enorme,
sublinha Luís Marta.
Uma conquista e felicidade visível em cada olhar e sorriso dos atletas campeões.
Sinto-me um atleta a cem por cento
Amar não significa tornar o outro adaptado ou semelhante a nós. Amar significa libertá-lo, deixá-lo livre, deixá-lo viver.
Sinto-me um atleta a cem por cento. As palavras de Mário Peixoto traduzem o estado de espírito de todos os dez atletas que integram a secção de desporto
adaptado do Sp. Braga. Antes da criação da secção de boccia, todos praticavam a modalidade integrados numa instituição.
Agora, confessam, têm maior ambição e sede de vitórias. Jogamos na óptica de um clube e não de uma instituição, porque quando era na instituição não chegámos
a ter tantos resultados como agora. Agora no clube temos sempre a ambição de ganhar, ganhar e ganhar. Melhorou muito. Integrado no Sp. Braga sinto-me muito
mais atleta, mais atleta a 100 por cento. Melhorou muito, quer a nível da direcção do clube em nos apoiar sempre é muito melhor, revelou o atleta, deixando
claro que com a camisola do Sp. Braga tenho mais confiança e vontade.
O clube trouxe-me mais vontade de ganhar. Trabalhamos para isso, contou.
A ideia é partilhada pelo treina-dor André Soares: é muito mais motivador, ter a sensação de estar a competir ao mais alto nível faz com que haja mais
vontade de ganhar jogos e a auto-estima aumenta com isto. Estarem integrados no Sp. Braga permite enaltecer a postura e posição na sociedade. É alta competição.
O professor lembra que a vontade é fazer com que os atletas se evidenciem pelos resultados, para que as pessoas apostem em nós.
O próximo passo é alargar a oferta a outras áreas da deficiência, como visual e auditiva. Para isso, o coordenador Luís Marta deixa o apelo: precisamos
de condições para ter capacidade de resposta. Faltam espaços físicos, não temos arrecadação de equipamentos e estamos a lutar por um transporte adaptado.
Fonte: Correio do minho
Sérgio Gonçalves
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