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Opinando - Blog de Filipe Azevedo - blog de Filipecanelas

O mito da acessibilidade cara, dispendiosa e impraticável

por Filipecanelas

Quando falamos em acessibilidade ao meio físico, produtos, serviços, à cultura e à arte, temos imediatamente a tendência de associar isso à aquisição de material altamente sofisticado, desconhecido do grande público, caro, e por isso, inacessível.
muitas empresas e entidades, Estando convictas que tais investimentos são demasiado avultados para as possibilidades que têm, ficam desencorajadas, e descoram a acessibilidade aos seus produtos e serviços.
Convém no entanto dizer com toda a clareza, que para se garantir a acessibilidade, não temos necessariamente de gastar muito dinheiro. Basta por vezes haver boa vontade, que é tão escassa nos dias de hoje.
Ainda recentemente soubemos que em Itália, ia ser colocada informação em Braille nos corrimões das estações do Metro, indicando o número da linha para onde direccionam os respectivos lanços de escada.
Aqui está uma medida com custos perfeitamente irrisórios, e que vai ajudar muito os cegos, que assim têm a certeza que se estão a dirigir para o local desejado.
Medidas assim como estas, muito baratas, extremamente eficazes, e fáceis de pôr em prática, representam a grande fatia das medidas de acessibilidade que têm vindo a ser sugeridas pelos técnicos ligados à deficiência, e pelos dirigentes associativos.
É inadmissível que elevadores montados recentemente não tenham informação em Braille, e mais grave ainda, é o facto de não ser obrigatório que eles anunciem em voz alta o número do piso em que acabam de parar.
Se tivermos em conta que um elevador custa vários milhares de euros, como se pode aceitar que não sejam gastos pouco mais de uma centena na criação de um dispositivo falante que diga o número do andar que acabou de chegar?
Não tenho dúvida em dizer que esse investimento representava muito menos de 1 % do preço total do equipamento, e se analisarmos a relação custo benefício, não nos podemos esquecer também das pessoas mais idosas que já não têm a mesma equidade visual, e de todos os outros, que mesmo não sendo idosos, também não vêm o suficiente para lerem os dígitos que surgem no painel do elevador.
Só gostavam que fizessem uma ideia do quan importante é para quem não vê saber o piso em que o elevador parou.
Isto para já não falar da colocação de etiquetas em Braille nos botões, que para terem uma ideia poderá custar ao fabricante a módica quantia de 5 Euros. Disse bem, cinco euros!
Creio que neste particular estamos perfeitamente conversados e esclarecidos do escândalo que é não haver legislação e sensibilidade por quem de direito para porem em prática estas duas medidas.
É também escandaloso não haver legislação orientadora no respeitante ao tamanho e tipo de letra nas informações que são afixadas nos locais públicos.
Se houvesse esta sensibilidade por parte do legislador, os concidadãos que têm baixa visão não seriam discriminados por não conseguirem ver as letras minúsculas que muitas vezes são impressas nos placares.
A colocação de barras horizontais em portas de Vidro, é outra medida extremamente barata, e que se reveste de uma grande ajuda para as pessoas com baixa visão, que ao verem o contraste da barra já não batem contra a porta.
A colocação de pisos tácteis nas imediações de escadas e outros locais que ofereçam perigo à mobilidade das pessoas, a colocação de rebordos contrastantes nos orelhões das cabines telefones, e a extensão do vidro até ao chão para que os cegos não batam contra a cabine, são tudo medidas que têm este denominador comum, que é o baixo custo, e a extrema facilidade de implementação.
Mesmo quando falamos da sociedade tecnológica, é importante salientar de entre muitas outras medidas, as boas práticas na construção de páginas de Internet.
Se os webmasters tiverem em consideração as regras do w3c, e se tiverem também a sensibilidade necessária para valorizarem o conceito de usabilidade num site, vai acontecer que essas páginas para além de serem acessíveis aos utilizadores com deficiência, vão ter os conteúdos bem estruturados, levando a que os restantes cibernautas usufruam de uma navegação muito mais simples e intuitiva, encontrando muito mais facilmente a informação pretendida.
É por isso um caso paradigmático onde se pode juntar o útil ao agradável.
Não posso também de me esquecer da gritante discriminação que somos alvo no acesso aos conteúdos multimédia.
Por um lado, a áudio descrição quase não existe. É inadmissível que a produção de um filme fique por milhares de euros, e não se distenda de meia dúzia de tostões para garantir que os cegos também possam viver o filme.
No meu ponto de vista, deveria ser obrigatório que todos os filmes produzidos em Portugal viessem com áudio descrição. Quando o produto fosse adquirido via DVD, viria com uma opção no menu do filme que seria activada pelo utilizador. Isso não afectava aqueles que querem ver o filme e não precisam deste recurso.
Já no que respeita ao cinema, não é nada dispendioso equipar algumas cadeiras de salas de cinema com equipamento, que permitam que os espectadores possam ouvir a áudio descrição através de uns auscultadores.
Aliás, a Lusomundo já lançou algumas edições de filmes com áudio descrição incorporada, e acreditem que para mim foi emocionante assistir numa sala de cinema a um filme com áudio descrição.
Finalmente, temos o caso revoltante das legendas que surgem num programa informativo, numa reportagem, ou num documentário emitido na TV, quando é preciso traduzir as palavras de um interveniente que fale outro idioma que não o nosso.
Pois bem, já à muito que reivindicamos que essas legendas deveriam ser lidas em voz alta. Era da mais elementar justiça, e da mesma forma que as pessoas com boa equidade visual podem ficar a saber o que diz o interveniente através da leitura das legendas, devia ser possível a quem não as conseguisse ler, poder ouvi-las.
Mesmo assim, todos os canais televisivos em Portugal têm sido completamente insensíveis à nossa mais que justa pretensão, utilizando argumentos perfeitamente inqualificáveis, como por exemplo o de não poderem ter um voz off a sobreporem-se à pessoa que está a usar da palavra, como se não fosse mais importante garantir que toda a gente ficava a conhecer a mensagem desse protagonista, do que ouvir a sua própria voz.
Também chegaram a apresentar como desculpa questões financeiras, mas quando perceberam que o que podia ficar mais caro era traduzir as legendas, mas que esse trabalho já estava feito, deixaram cair essa justificação.
É um caso escandaloso de má vontade, e de uma política altamente discriminatória para as pessoas com dificuldades na visão.
Reparem que aquilo que eu preconizo neste artigo é a implementação de medidas extremamente baratas. É triste verificar que nem essas são postas em prática, e mais dramático ainda é perceber que no fundo aquilo que nós queremos é usufruir das mesmas condições de acesso ao meio físico, produtos, bens, serviços, à cultura e à arte.
Não posso deixar de terminar este artigo sem resumir aquilo que penso nesta frase.
Já que não se faz o impossível, faça-se ao menos o possível! Está bem?

Um abraço acessível e fraterno para todos.
Filipe Azevedo.

Comentários

Olá Filipe !
Fizeste uma abordagem muito boa, realmente a acessibilidade ainda continua um mito, e a maioria das pessoas pensa q é caro e não compensa a acessibilidade, mas tão redondamente enganadas !
Há uma série de pequenos toques / ou gestos q podem fazer uma grande diferença !
Tais como etiquetas em braille nos supermercados, falar o piso em q se está no elevador .... !

Mas apesar de tudo, eu acho q nos últimos anos já se tem feito caminho e já se tem melhorado, mas ainda há muito por fazer !
As acções de sensbibilização são o meio mais eficaz de o fazer, para mudar as mentalidades !
No entanto não devemos ficar de braços cruzados, mas sim lutar pela acessibilidade, dar o nosso testemunho ... !

Basta pensar q há meia dúzia de anos atrás eu não pensava sequer na acessibilidade, e desde q entrei no lerparaver mudei imenso .... ! loool
Abraços

Olá Patrícia.
Na áudio descrição tudo seria mais simples, se fosse obrigatório criar esse recurso quando se lança o filme, quer seja uma edição em DVD ou para o cinema.
O revoltante é que a legislação só não se faz porque não há sensibilidade política para isso, uma vez que como vimos não estamos a falar de questões economicistas.
Como eu disse, já ficava contente, se estas medidas que não envolvem grandes investimentos fossem postas em prática. O problema é que se já estas não o são, quando falamos de outras questões que implicam algum dinheiro, mas que são essenciais para os deficientes, então aí as dificuldades são muito maiores. E se não temos sensibilidade para fazer o que se pode sem gastar dinheiro, como vamos pedir que se faça gastando esse dinheiro?

Filipe.

+Filipe Azevedo

Olá !

Concordo com a Tixa, quando ela disse que muitas empresas e pessoas nem sequer sabem o q é a acessibilidade, e mtas vezes nem se dão ao trabalho de conhecer .... !

Acessibilidade significa não apenas permitir que pessoas com deficiências ou mobilidade reduzida participem de atividades que incluem o uso de produtos, serviços e informação, mas a inclusão e extensão do uso destes por todas as parcelas presentes em uma determinada população.
Na arquitetura e no urbanismo, a acessibilidade tem sido uma preocupação constante nas últimas décadas. Atualmente estão em andamento obras e serviços de adequação do espaço urbano e dos edifícios às necessidades de inclusão de toda população.
...
Na Internet o termo acessibilidade refere-se também a recomendações do W3C, que visam permitir que todos possam ter acesso aos websites, independente de terem alguma deficiência ou não. As recomedações abordam desde o tipo de fonte a ser usado, bem como seu tamanho e cor, de acordo com as necesidades do usuário, até a recomendações relativas ao código (HTML e CSS, por exemplo).

Retirado da wikipedia, no link
http://pt.wikipedia.org/wiki/Acessibilidade

Concerteza que se lhe dissermos para ir ver à wikipédia, ou se lhe enviarmos o link, q irão pensar 2 vezes, mas nem todos, só mesmo aqueles q se derem ao trabalho de ir lá ver !
Falta e como se disse bem, traçar estratégias inclusivas, e não fazer as coisas de uma maneira qualquer !
Verificar o modo mais económico e acessível, porque por vezes gasta-se tanto dinheiro e acrescenta-se mto pouco no tocante à acessibilidade !
E como acabamos de ver existem alternativas económicas para tornar mais acessível !

E como já tinha dito e reforço, falta uma enorme sensibilização e formação dos profissionais em relação à acessibilidade !
Porque quando se desconhece a acessibilidade, é 1 mau princípio e raramente as coisas saem acessíveis, mas qdo já se conhece, a probabilidade de virem a ser acessíveis é muitissimo maior !

Olá Filipe,

Concordo com tudo o que disseste, apenas acho que algumas das medidas que falaste ainda têm algum custo, mas a generalidade das medidas que falas, são bastante económicas e úteis.

Realmente o principal problema da acessibilidade não é o custo das soluções, mas a boa vontade e o conhecimento do que realmente os cegos necessitam. Já assistimos algumas vezes a projectos até bastante dispendiosos mas com utilidade reduzida ou mesmo nula.

Muitas vezes revolta e não se percebe como é que algumas medidas simples, baratas e úteis não são implementadas. Por exemplo o Metro do Porto gastou bastante dinheiro a criar um sistema de orientação em estações. Não quero aqui discutir quanto à utilidade ou não deste projecto, contudo revolta ver que soluções simples como marcas tácteis na estação da Trindade e Casa da

Olá Daniel.

Sim, é verdade que podemos considerar algumas medidas caras, mas temos de as enquadrar no custo final do produto.
Por exemplo à áudio descrição.
Nós sabemos que para que o trabalho seja bem feito, é preciso formar pessoas para definirem em cada filme o que deve ser realmente descrito. E este processo não é assim tão linear, porque dependendo muito da mensagem da obra, à que escolher textos e mensagens adequadas, que dêem à pessoa cega uma noção o mais aproximada do filme.
Por outro lado, a parte da locução em si, também deve ser um trabalho especializado, e que tem os seus custos obviamente.
No entanto, estamos a falar da produção de um filme que fica por milhares de euros. E a áudio descrição, pese embora represente as suas despesas, elas acabam por ser quase insignificantes tendo em conta o custo final da obra.
E é aí que nós devemos definir o nosso conceito de caro e de barato.
Tu falas e muito bem nas marcas tácteis nas estações do metro.
Imagina tu, que provavelmente algum administrador mais louco até pode dizer que colocar lá umas tiras de borracha pode ser caro. Mas esse administrador por exemplo colocou bancos em inox, que são extremamente caros, e não te esqueças que regra geral as composições do metro circulam com uma regularidade regra geral inferior a 10 minutos. Ou seja, não sei quem é que vai usar aqueles bancos tão caros durante muito tempo!
Percebem porque é que eu digo que o mito da acessibilidade cara e inacessível não passa mesmo disso? De um mito?

Filipe Azevedo

+Filipe Azevedo

Sobre acessibilidade muito se pode idealizar, precisamente porque é um assunto de civilização. É uma resposta moderna para velhos problemas. Existe alguma sensibilidade política, mas os políticos não gastam dinheiro senão consigo mesmos. Quando algo se faz, é ineficaz para os supostos benficiários finais, mas pelo meio e pelos meios há sempre quem se remunere bem, porque, já se sabe, não há almoços de graça.
O que se fez no Metro em Lisboa a pensar nos seus utilizadores cegos, por exemplo, foi um excelente negócio para uma firma belga, alegadamente especializada na matéria e representou facturação para a entidade que produsiu em relevo a respectiva sinalética. As pessoas cegas só foram consultadas sobre a utilidade das inovações introduzidas depois do (negócio fechado).
O discurso político e a sensibilidade social parecem ser animadoras, mas é só uma corzinha na nova cosmética da propaganda político-partidária, no markting em favor do prestígio de empresas obrigadas à responsabilidade social por conveniência fiscal.
A despeito de opiniões dispendidas publicamente e da própria legislação sobre barreiras arquitectónicas homologada há mais de uma década, talvez em nome da criatividade, os senhores arquitectos que conceberam o átrio da estação de Metro da Baixa Chiado, tiveram a bizarra e piramidal ideia de mandar fazer paredes que não são verticais mas, inesperadamente, oblíquas, tipo quilha de navio, cuja base a bengala de cego não alcança, mas a cabeça racha.
Assistir a cenas destas, é verificar que a dignidade humana dos que têm limitações visuais não conta na prancheta daqueles que só obedecem aos cânones estéticos para encher o olho ou o bolso por conta do mecenato. .

A audiodescrição não é o ovo de colombo nem os seus apaixonados adeptos inventaram a pólvora. Para dar sistemática prossecução a tal desiderato, é preciso antes investir e trabalhar no desenvolvimento não só tecnológico, mas também ´jurídico e logístico, de forma a que os supostos destinatários se possam assegurar de que são realmente servidos e não utilizados como curiosidade científica. Tenho lido muita documentação que pretende teorizar a audiodescrição como uma verdadeira panaceia e que, na verdade, não passam duma mistificação hiperbólica que pretende fazer acreditar numa forma de pôr cegos a disfrutar da arte cinematográfica tal qual ela é: - um universo todo ele do visual para o visual. Tenham paciência, mas isto é incontornável.
Em Portugal, a RTP engana os destinatários deste serviço, dando-lhe pela rádio, em onda média, com todas as limitações que se lhe conhecem, a descrição falada duma série que passa no primeiro canal da televisão pública. Isto não se faz, é uma fralde desconfortável de todas as maneiras.
A principal operadora de televisão por cabo em Portugal já ofereceu em excelentes condições técnicas este serviço, mas não acautelou o acesso a ele, porquanto uma pessoa cega, que esteja sozinha em casa, não tem como ler os menus de opção, logo a começar por não saber qual a tecla verde, se não lho fòr dito; e, desculpem lá, mas isto é contornável!
Com o emprego de audiodescrição nos DVD's, dá-se exactamente o mesmo impedimento de acesso directo aos menus de seleção, se este não fòr reproduzido em computador com o auxílio de leitor de écran.
Obrigado pela vossa atenção a estas modestas considerações, não porém tão irrelevantes que careçam de conclusões complementares. Todos sabem ao que me refiro e, certamente, já lá têm as suas ideias a respeito do respeito que elas merecem.

Manuel António Fernandes

Olá Filipe, em primeiro lugar quero te parabenizar pelo excelente artigo que escrevestes, este toca com muita precisão nas varias dificuldades que um cego encontra na sua vida.

Mas contudo gostaria de deixar mais uma acha para esta reflexão, que é a seguinte, qual o papel das associações que nos representam na melhoria dos problemas que tu levantastes.
A ACAPO o que é que faz para que estas coisas melhorem? Por exemplo, na questão a que tu te referes das televisões a única coisa que se sabe é que eles participaram num grupo de trabalho mas resultados nada….. Será que não está na hora de a ACAPO com o seu gabinete jurídico e mesmo juntando alguns dos seus associados que até são advogados se começar a por esta gente toda que não cumpre com as leis deste país em tribunal, mesmo sabendo que os resultados demoram uma eternidade? Ou será que por a ACAPO ser a associação que maior número de sócios tem e por consequência mais subsídios recebe não lhes convém falar muito para que não perca dinheiro…

Um forte abraço e continua assim a levantar questões, que nós precisamos de pessoas como tu.

Miguel Carvalho

No que diz respeito à televisão e ao papel da ACAPO, pelo que vem vindo a público, penso que tem sido positivo.

A ACAPO já alertou para estes problemas como se vê na notícia: http://www.lerparaver.com/node/8874

A questão é que as obrigações existentes resultam de um programa plurianual aprovado pela Entidade Reguladora da Comunicação Social. Para além de não ter força de lei, as televisões privadas conseguiram em tribunal, que deixasse de ser aplicado, pelo que o recurso para tribunal neste caso de pouco valeria.

De todo o modo, concordo que no geral as associações podem e devem ter um papel muito mais importante a estes níveis, mas muitas vezes a questão que me coloco, é que será que todos os cegos querem uma verdadeira inclusão social? Tenho dúvidas disto quando vejo na conjuntura actual alguns a defender não a igualdade no acesso e manutenção do emprego, mas antes a reforma aos 55 anos.

Mais importante do que lutar por medidas de discriminação positiva, algumas demasiado discriminatórias, é lutar pela igualdade de oportunidades e direitos, deixando apenas as medidas de descriminação positiva para os casos verdadeiramente justificáveis, quando não é possível atingir a igualdade de outra forma. Não é possível exigir igualdade de direitos e ao mesmo tempo exigir discriminações positivas pouco justificáveis.

Olá Daniel, quero lhe dizer que concordo com tudo o que você diz e desde já o meu muito obrigado pelos esclarecimentos sobre as obrigações em matéria de acessibilidade na televisão, mas apenas reforça a minha ideia sobre o papel das associações que se devem preocupar mais com as coisas que fazem falta as pessoas e deixarem-se de desfolhar a árvore quando precisamos de cuidar do tronco.

No caso em concreto as televisões privadas cuidaram de logo ir para tribunal para se defender daquilo que não queriam fazer. E as associações o que fizeram? Será que pelo menos a ACAPO não deveria ter recorrido da decisão do tribunal, ou fazer aquilo que vocês já fizeram anteriormente, com uma petição ou coisa parecida, ou seja, levar ao parlamento as recomendações que a ERCS tinha feito e transformá-las em lei.

Um forte abraço e mais uma vez muito obrigado.

Olá Miguel,

Algo que me deixa triste é o facto da petição pela acessibilidade electrónica ainda não ter tido qualquer resultado prático. Os partidos foram unânimes a reconhecer a sua importância, mas por diversos factores o certo é que nada evoluiu, e algumas das medidas teriam um custo reduzido. Sei que a ACAPO está também a tentar pressionar o parlamento a avançar com medidas resultantes da petição, mas já estive bem mais optimista.

Eu penso que um papel cada vez mais importante que as associações, nomeadamente a ACAPO tem de assumir é o papel reivindicativo e representativo das pessoas com deficiência visual, mas sempre com uma postura ponderada, construtiva e positiva.

De todo o modo, cada um de nós também tem um papel importante a desempenhar. Por um lado pode-se ajudar/pressionar as associações a exercer o seu papel, mas por outro lado também devemos agir directamente, individualmente ou em grupo, fazendo chegar às entidades competentes as nossas revindicações/sugestões.

Por exemplo, não podemos apenas queixar-nos que as páginas da Internet são inacessíveis e que as associações e os governos deviam fazer algo. Nós também podemos agir, contactando directamente as páginas em questão. Claro que este tipo de acções tem uma eficácia baixa, mas se fossemos muitos a fazê-lo e com maior frequência, certamente começava-se a ver resultados. Em muitos casos as inacessibilidades são provocadas apenas por ignorância, por não conhecerem a realidade dos cegos. Cabe-nos também a nós chamar atenção para essa realidade.

Eu acho q a ACAPO tem feito caminho, mas sinceramente acho que esta deveria assumir um papel mais activo !
Defendendo os interesses dos DVS com dentes e unhas !
Neste contexto, acho q a APD tem feito bastante mais, e reindivica fortemente os nossos direitos, e tem intervido bastante mais !
Mas é o meu ponto de vista .... não quero q ninguém fique ofendido .... !

Obviamente se as associações e movimentos existem será para alguma coisa e não só pra empatar tempo, senão amigos como dantes e cada 1 pra seu canto !
Reconheço q nem sempre funcionam como deveriam funcionar, mas temos q caminhar nesse sentido !

Agora, cabe tb a nós assumir um papel verdadeiramente activo no meio disto tudo !
Fazendo parte de 1 associação ou movimento, devemo-nos empenhar para a impulsionar e dar cada vez mais respostas !
E aí ocupamos, nós deficientes um papel fundamental, demonstrando q apesar de deficientes poderemos ser seres activos na construção da sociedade !

Muito bem, Filipe,
há muitas coisas possíveis e até bem simples e baratas. Todas as que aqui apresenta são boas ideias.
Porque não as envia à ACAPO, para serem discutidas com as entidades responsáveis? É uma associação representativa e que deve ter impacto. Escrever aqui pode não chegar a lado nenhum...
ML

Meus caros amigos.

em primeiro lugar quero agradecer-vos sinceramente as vossas reflexões, altamente oportunas.
Permitam-me aflorar alguns comentários sobre as questões que têm sido levantadas.
concordo com o caríssimo Manuel, quando afirma que muitas das soluções com vista a melhorar a acessibilidade são concebidas e implementadas, sem que o público alvo seja consultado.
Isto normalmente tem consequências muito negativas, porque a minha experiência diz-me que quem desenvolve essas medidas, não domina a especificidade da deficiência visual.
Por outro lado, verificamos que regra geral, quando se desenvolve um produto é obrigatório auscultar a sensibilidade das pessoas, para aferir se ele vai ou não de encontro ás necessidades e expectativas do público alvo.
No caso dos deficientes, isto logicamente não pode ser diferente.
No entanto, verifico com particular inquietação e revolta que ainda há quem pense que para os deficientes qualquer solução serve. E eu próprio já ouvi reacções do tipo, os deficientes são ingratos, numa tentativa de atirar o ónus do insucesso não para quem desenvolve o produto sem contactar a população deficiente, mas sim dessa própria comunidade que segundo o dizer desses personagens, nunca está contente com nada!
Já não falo, daquelas situações onde o único objectivo é o lucro, uma vez que podemos inclusive estar a falar de situações de fraude e aproveitamento torpe da deficiência para enriquecimento próprio.
O Carlos e a Maria levantaram outro problema que eu considero muito pertinente, que é o papel que as associações de e para deficientes devem ter em tudo isto.
Creio que por direito próprio no caso da deficiência visual, a Acapo, por ser a instituição certificada, e que por isso é a legítima representante dos interesses das pessoas com cegueira e baixa visão, tem de servir de intermediária entre o poder político e procurar ter voz activa junto de empresas que compram os serviços, e também das outras que os produzem.
Por vezes é muito difícil construir algo de palpável, tal é a falta de sensibilidade que mina por inteiro este campo.
Relembro a questão que envolve a decisão da Erc, em obrigar as televisões a difundirem em voz as legendas com as traduções, e neste caso o que aconteceu?
A sic e a TVI interpuseram uma providência cautelar para suspender esta deliberação da erc, e o tribunal deu razão as estações televisivas.
Ou seja, uma decisão altamente positiva da entidade reguladora para a comunicação social, não foi cumprida porque o tribunal deu razão aos incumpri dores.
Podemos e devemos discutir as decisões dos tribunais, mas a questão é que agora só com a acção principal este assunto pode ser melhor discutido, e sabemos o quan é lenta a nossa justiça.
É também curioso que a sic e a TVI gastaram mais dinheiro na providência, e na acção que se irá desenrolar, do que em implementar a medida em si.
Só por aí podemos ver o tipo de postura que os operadores de televisão privada têm nesta situação.
Obviamente que neste caso, o papel da Acapo ou de outra qualquer instituição fica muito limitado, porque se nem perante a lei as televisões querem permitir o acesso dos cegos e amblíopes às legendas, quanto mais ao nível da diplomacia!
Finalmente, quero comentar a declaração do nosso caríssimo Manuel relativamente à áudio descrição.
Eu concordo com o facto de ninguém ter descoberto o ovo de Colombo, e de isto não ser nem de longe nem de perto uma panaceia para resolver os problemas dos deficientes no que concerne ao acesso aos conteúdos multimédia.
no entanto, creio que tecnicamente é perfeitamente possível obrigar a que todos os filmes venham com áudio descrição incorporada. e quando falamos de um dvd, é um facto que não é acessível escolher num vulgar leitor a opção de áudio descrição. No entanto, no computador é perfeitamente possível aceder a esse menu, e mesmo no tal leitor convencional, apesar de o processo variar de máquina para máquina, não seria nada difícil uniformizar a escolha dos menus, e a pessoa cega pedia a um normovisual que o ajudasse a seleccionar o menu, automatizando mentalmente os passos a dar para realizar essa tarefa.
isso meu caro Manuel, é o que se faz no dia a dia, nos equipamentos de ar condicionado, nas televisões, e em muitos outros equipamentos que não oferecem acessibilidade e em que é preciso criar uma série de automatismos, e saber de cor sequências de botões a serem premidos.

Um abraço para todos, e mais uma vez, muito obrigado sincero pelos vossos contributos.
+Filipe Azevedo

+Filipe Azevedo

Não menosprezando a importância da áudio-discrição em filmes, nesta temática há um aspecto que considero mais importante e que pode ou não ser mais difícil de conseguir. Em Portugal a grande maioria dos filmes são em língua inglesa, pelo que nestes casos mais importante que a áudio-descrição é a dobragem para língua portuguesa. O problema é que em Portugal tirando os filmes infantis, não há tradição na dobragem, e uma dobragem profissional é bastante cara. Uma possibilidade seria usar vozes sintéticas, mas teria um resultado longe do desejado.

Quanto a filmes em DVD, vi um dvd de um filme com áudio-descrição, creio que é o “voando nas nuvens”, em que o menu do dvd é falado, pelo que é perfeitamente acessível e inclusivo.

Neste aspecto concordo plenamente com o Daniel !
Então nós temos potencial fazem-se vários filmes portuguêses, e são dobrados em Inglês ? Por alma de quem ?
Acho q 1 vez q somos portugueses, os nossos filmes deveriam ser obrigatóriamente dobrados em Português, é uma questão de honra, de defender a nossa língua !
Claro q não tiro a devida importância à áudio descrição !

Outro aspecto que discordo profundamente: vai um político ao estrangeiro, e fala prás tvs portuguêsas noutra lingua q não a nossa, mas porque carga de água ?
Será q eles não tem orgulho na língua portuguêsa ?
Enfim ... há mta coisa q tá mal .... !

Filipe acho que me expresssei mal. Não disse que os filmes portugueses são em inglês. O que disse é que os filmes que estão nas salas de cinema são de origem estrangeira e por esse motivo são falados em inglês. Filmes portugueses são poucos, e alguns de qualidade duvidosa. Em Espanha os filmes estrangeiros são dobrados em Espanhol, e acho que no Brasil são dobrados uma boa percentagem de filmes estrangeiros.

O que disse é que a audio-descrição é importante, já vi uns 2 ou 3 filmes e gostei muito, contudo é muito limitativo e pouco inclusivo apenas podermos utilizar esse recurso nos filmes portugueses, que são uma clara minoria. A dobragem e a audio-descrição são coisas totalmente diferente e ambas são importantes. Mas no panorama actual, se tivesse de escolher entre ter filmes dobrados e filmes audiodescritos, preferia os filmes dobrados, contudo creio que tal é muito difícil de conseguir. Temos que nos contentar em ver filmes no computador com as legendas a serem lidas por voz sintética.

Viva Daniel.

Por acaso acredita que tenho a firme convicção que todos os filmes são dobrados em português.
Pelo menos na Tv isso sucede, tanto que me recordo que os meus professores de inglês aconselhavam precisamente os meus colegas a verem muitos filmes e respectivas legendas para se familiarizarem com esse idioma.
No cinema, efectivamente não tenho a certeza, é apenas uma mera convicção, mas faz todo o sentido que as legendas apareçam para que quem não dominar o idioma original do filme o possa entender.
Partindo do princípio que esse trabalho já está feito, tudo se torna mais fácil, e bastará no caso do cinema haver um sincronismo entre o filme e o áudio, e difundir essa informação nos auscultadores colocados na cadeira.
Concordo quando dizes que este processo e a áudio descrição não estão interligados. Uma coisa não substitui a outra!
Também vi o filme que falaste mas no cinema, não comprei o dvd, mas se de facto ele é inclusivo, trata-se de mais uma prova inequívoca que é perfeitamente possível pôr a tecnologia ao serviço da integração.
Abraço.
Filipe.

+Filipe Azevedo