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ariádona - blog de Madalena Ribeiro

Mais um hepisódio da minha história

por Madalena Ribeiro

Olá mais uma vez. Sei que todos anceiam pela continuação da minha história. A esses, peço desculpa, porque tenho estado demasiado ocupada para me dar ao luxo de escrever e reflectir sobre o meu passado. Hoje, já em casa e na paz de saber que as aulas acabaram, posso finalmente retomar a minha narração.
Tinha ficado, se bem me lembro, na minha entrada na escola e nas peripécias em que me envolvi nessa altura. De facto, a escola primária foi uma experiência má e boa ao mesmo tempo! Nessa altura aprendi a tomar contacto com os outros e que a vida é rodeada de dificuldades. Hoje, olhando para trás, penso que essa experiência das minhas primeiras dificuldades aconteceu um pouco cedo e obrigou-me a crescer rapidamente.
Nos primeiros dias de escola conheci os meus colegas e a primeira de 8 professoras que tive ao longo dos meus primeiros 4 anos na escola. Nessa altura, não havendo material para trabalhar, a professora ia inventando algo para me ocupar as 5 longas horas que passava na escola 5 dias por semana. Finalmente, passados alguns meses, a máquina braille chegou. Numa bela manhã, a professora mostrou-me aquele estranho artefacto, que parecia vindo de outro mundo e disse que aquela era a máquina que me iria permitir escrever e que me iria acompanhar pelo resto da vida. Rapidamente me adaptei àquele estranho objecto e comecei a fazer os meus primeiros pontos de forma aleatória num papel. Fascinada com a possibilidade de começar a aprender como os meus colegas, iniciou-se em mim uma vontade infindável de saber mais e mais, uma vontade que ultrapassava a capacidade das minhas professoras de me ensinarem.
Terminei a minha primeira classe com sucesso, tendo mais conhecimentos do que muitos dos meus colegas ditos normais. Na segunda classe, um novo pesadelo se aproximou de mim. Já naquela altura, a minha ância por independência era grande e, a certa altura, houve a necessidade de a minha mãe permanecer na escola para me ajudar. Olhando para trás, admiro a capacidade da pessoa que me deu a vida para me ajudar e a vontade que também ela sempre teve para aprender algo novo que era a leitura e escrita braille. O úncio obstáculo era a minha recusa à permanência dela na escola, o que me fazia diferente de todos os meus colegas, cujas mães iam embora após os deixarem na escola pela manhã. Eu não queria mais nada senão ser igual aos outros, ter a mesma independência e as mesmas possibilidades que eles. Mais tarde compreendi que isso nunca seria possível e comecei a aceitar a presença de alguém para me ajudar, pois percebi finalmente que esse alguém me poderia facultar a possibilidade de aprender mais e mais, como sempre anciara.
A professora deapoio que me ajudava apenas uma ou duas vezes por semana não era suficiente e, perante a inexistência de livros, a minha mãe foi tudo para mim durante esses anos difíceis. Ela foi mãe, professora, colega, tudo. Ela teve uma grande coragem ao enfrentar tudo e todos para que eu nunca perdesse a minha motivação e a vontade de aprender. Hoje, reflectindo sobre o passado, percebo que foi graças à determinação da minha mãe que consegui terminar a escola primária nos 4 anos reservados para isso, como qualquer outra criança "normal".
Passaram-se dois anos nessa situação de uma professora de apoio permanente que era a minha mãe e com várias professoras imaginativas que inventavam material para eu trabalhar e para me darem todas as noções que uma criança daquela idade deveria apreender. Desde lã, arroz, maças, areia, terra, tudo era passível de ser utilizado para fazer desenhos, gravuras, mapas e até o desenho da forma das letras usadas na escrita a negro.
Na quarta classe, mais uma experiência nova me esperava. Nessa altura, com mais alguma independência adquirida e já sem a necessidade da permanência da minha mãe na escola, a minha professora mudou mais uma vez. Desta vez, saiu-me na rifa uma professora que conhecia um senhor cego, presidente de uma associação de Bragança, associação essa que conseguia emprestar computadores para crianças como eu, com o objectivo de nos permitir a primeira experiência e o primeiro contacto com a informática. Aos 9 anos, toquei pela primeira vez num computador, num teclado que me permitia escrever sem esforço e ouvir o que escrevia. Era fantástico! Foi uma experiência que jamais esquecerei. Nessa altura, não me sentia igual, sentia-me superior aos meus colegas, porque podia escrever e os outros liam o que eu escrevia sem ser necessária a intervenção da minha mãe para transcrever todas as letras para a escrita a negro. Foi uma das maiores sensações de independência que sentira até aquele momento. Tudo isso fez com que, com 10 anos, fizesse a minha matrícula na escola preparatória, altura em que se deu uma grande mudança na minha vida. O computador queestava na escola mudou-se para minha casa, eu tinha tudo para continuar o meu percurso escolar com sucesso, graças àquela professora e à percistência da minha família que nunca deixou de acreditar nas minhas capacidades.
Durante esses anos, como prova da força da minha família, frequentei uma escola de música, como actividade extra curricular, numa tentativa de me facultarem mais formação e, através da aprendizagem do piano, tornar-se mais fácil a minha mobilidade das mãos e dos dedos, tornando-os mais rápidos e ágeis. Graças a isso, rapidamene despertou em mim o gosto pela músia e pela escria, pois, para mim, abas estavam interligadas e ainda hoje estão. Adquiri rapidamente hábitos de escrita datilográfica e rapidez no teclado de computador que espantava todos os que tinham a curiosidade de me observarem.
Este foi o momento essencial da minha vida, um momento determinante no meu futuro e que possibilitou a minha independência e o meu percurso escolar de sucesso. Quando ingressei na escola preparatória, novas dificuldades se levantaram e novas maneiras de as resolver se encontraram.
Mas isso fica para outra altura, um outro hepisódio da minha longa história. Obrigada pela atenção prestada à história da minha vida.

Comentários

Olá Madalena tenho lido aquilo que escreves e por isso tenho que te dar os parabens pois tens aqui um pouco da tua vida quando entraste na escola pela primeira vez.

Já agora vai enfrente pois escreves muito bem!

Um abraço do marciel

maciel

Sabe, Madalena, quando ouço histórias como a sua, cada vez me convenço mais que pessoas ditas "especiais", dado algum tipo de comprometimento sensorial de que são portadoras, são realmente especiais por terem capacidades extraordinárias para vencerem obstáculos quase intransponíveis. São pessoas especiais porque estão rodeadas de outras pessoas especiais que se engajam em sua luta confiando no futuro, e numa sociedade justa e equilibrada, a sociedade inclusiva. Parabéns!!!

Menina Madalena,

sabes estou assim encantado com tanta força, tu demonstras que apesar de todas as dificuldades que tens tido, tu és uma pessoa magnífica, assim simpática, epá não sei não caíste mesmo do céu? é que é impossivel não se ter orgulho numa pessoa como tu, é pena não haverem + pessoas como tu, que se preocupam com os outros, que são tão especiais, tão kida tao verdadeiras epa já chega de qualidades, tu sabes o que és, eu também sei, dou-te os meus parabens por seres assim, nunca desistas de nada e sempre que tiveres dúvidas lembra-te que és única.

o mínimo que te posso dizer é PARABENS E ADORO-TE

Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos daí esta menina ser tão especial, tão cativante

se quiseres falar comigo adiciona tlc_amorim@msn.com fico a espera

bjito

Olá, Madalena!

Caramba, as tuas histórias são fantásticas, e a cada dia que passa sinto uma admiração cada vez maior por ti.

Gosto da simplicidade com que escreves!

Sabes, nos primeiros anos da minha escolaridade estive numa escola normal, mas acabei por sair de lá porque a professora de apoio só vinha uma vez por semana e a outra que estava responsável pelo ensino daquela classe não tinha muito jeito nem paciência para me ajudar, se bem que há uma coisa muito engraçada que um dia me fez, e que jamais esquecerei!

Então para que eu decorasse e assimilasse os pontos de cada letra que aprendia, ela punha-me fita cola nos dedos correspondentes! Engraçado, não? lol.

Tudo de bom para ti, querida!

Beijinhos grandes,

Tiago Duarte