Em cada dia da nossa vida, mesmo que não nos apercebamos disso, ganhamos alguma coisa. Um presente, uma lição, uma unha quebrada, uma flor, um abraço, um pedaço de areia onde pousar nosso pé, uma palavra...Um cacho de palavras.
Sim, hoje ganhei um cacho de palavras, apanhadas assim, no meio de vírgulas, tão belas na ordem em que foram enfileiradas, tão perfeitas na harmonia do encadeamento dos fonemas, que senti uma espécie de inveja admirada, de não ter sido eu a tê-la escrito.
E fiz pausa da leitura, para avaliar aquele achado, argamaça de pedra e memória, a sustentar, sob a arquitetura das sílabas, força e leveza ao mesmo tempo. Força e leveza, e um ecoar de sentidos, a vasculharem o silêncio encantado da minha contemplação.
E eis-me aqui, estaca encravada ainda na primeira página de As Rosas de Atacama, de Luís Sepúlveda, a apreciar o presente dessa manhã de inverno, frase lavada da beleza que espalha, e que eu, com avidez de ave de rapina, recolho na concha das minhas mãos estendidas.
... E a certeza de que a palavra escrita, é o melhor e mais invulnerável dos refúgios,porque as suas pedras são ligadas pela argamaça da memória. (Luís Sepúlveda). t
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