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- blog de abrahao

Deficiência nisso, Competência naquilo!

por abrahao

Caros Amigos:

Gostaria de compartilhar essa breve reflexão.
Há cerca de dois anos, devido ao agravamento de degeneração retiniana, precisei deixar minhas atividades habituais de médico e professor. Embora me esforçasse para manter a mente sempre ocupada com atitudes positivas diante da vida, foram inevitáveis os momentos de entristecimento. Sofria muito. Nessas ocadiões ficava mergulhado em pensamentos inúteis, sobre tudo que não poderia mais fazer. Veja a irracionalidade: dedicar horas a pensar em coisas que não poderia mais fazer em vez de ocupar-me com o que poderia efetivamente fazer.
Evidentemente que a limitação visual é, por vezes, dolorosa. Lembrei-me dos conselhos que dava a pessoas hospitalizadas que passavam por alguma amputação:” Não fique pensando apenas no pé que precisou ser amputado, olhe para os outros membros que estão bons.” Tornou-se um autoconselho no exercício de conviver com a deficiência visual.
Nietzsche, portador de visão subnormal, do caos de sua loucura conseguia dar à luz preciosidades como: “Não é livre quem envergonha-se de si mesmo.”
Um caso bem conhecido de deficiente que não desistiu diante dos obstáculos, foi o de Beethoven: sofrendo com a surdez progressiva seguiu compondo. Se apenas se lamentasse, ficaríamos sem a Nona Sinfonia!
Outro caso, menos conhecido, foi o de J. S. Bach. No final da vida, cego devido aos erros de um médico charlatão que passou por sua cidade, continuou compondo com o auxílio de um assistente que escrevia as partituras.
Infelizmente ser portador de algum tipo de deficiência não nos torna automaticamente geniais, como Bach ou Beethoven e outros tantos. Assim, creio ser útil a busca perseverante de alguma habilidade adormecida. Continuo procurand também!
Hoje,, soube através do Lerparaver que somos cerca de 314 milhões de deficientes visuais em todo o mundo; então, para suavizar o assunto e trazer um pouquinho de alegria para todos, divido a música contida no link abaixo. Não, não é desses gênios que citei (você poderá ouvi-los por outros acessos, não é?). Ouça, talvez lhe faça bem.
http://www.youtube.com/watch?v=c1sWeBwztPQ

um abraço.
Abrahão

Comentários

Olá, Abraão:

Li, com interesse, a sua reflecção e, tendo eu 40 anos e um resíduo visual de 10%, não sei o que vai ser a minha visão daqui a 3, 5 ou 10 anos. Por agora, embora a braços com o que me restou de uma conjuntivite, vejo o suficiente para me orientar na rua sem uma bengala e consigo fazer as coisas do dia-a-dia. Não posso, obviamente, guiar um carro, ler jornais ou outros suportes do género, mas lá vou levando a minha vida.

Trabalho, como produtor de programas de rádio, tenho a minha família, acho que vivo uma vida normal...

Vida normal? Mas que raio é isso de vida normal? É fazer tudo como a maioria dos outros fazem? Ok. Então vivo uma vida quase normal porque faço quase tudo o que os outros fazem...

Entretanto, faço outras coisas que muitos outros não fazem... Não porque seja um Bethoven ou um Bach, mas , porque, na minha opinião, todos nós fazemos coisas que os outros fazem e outras que os outros não fazem.

Quem tem um problema de coração, não pode fazer uma data de coisas, mas não é chamado de deficiente; quem tem dificuldades em subtilizar os pensamentos além das trivialidades da vida, não é chamado de deficiente e não consegue, sequer sonhar, com uma enorme quantidade de situações; quem não recebeu instrução ou educação adequadas para viver em sociedade, não consegue inter-agir de forma útil em muitos casos e não é chamado de deficiente...

Sabe, eu tenho receio de que a minha visão se reduza ainda mais e eu deixe de ser capaz de fazer algumas coisas que actualmente faço; entretanto, tal como você certamente é capaz, espero de não deixar de fazer um conjunto de outras coisas que muitas outras pessoas não fazem. espero ter a capacidade de ajudar outros a aprender coisas que eu já aprendi e espero ter a humildade de continuar a aprender coisas que outros me possam ensinar.

Chamados de deficientes ou apelidados de normais, todos temos deficiências _ físicas ou não _ com as quais temos de conviver e possuímos também factores que nos fazem próximos da maioria, factores esses que nos ajudam a sentir mais ligados a quem nos rodeia. Essas características fazem parte do "pacote" que é cada um de nós, igual a si mesmo, sempre em evolução.

Não sei se o ajudei com estas coisas que escrevi, certamente, ajudei a mim mesmo ao pensar nelas e você ajudou-me a mim ao fazer-me pensá-las. Um abraço!
Jorge Teixeira

Jorge Teixeira