Compartilho com os amigos, um post do meu outro blog, escrito por volta do mês de novembro de 2006. Espero que leiam!
Revisando hoje cedo o meu correio eletrônico, encontrei lá uma nota sobre o mais recente livro de Afonso Romano de Santana, com o título A Cegueira e o Saber, da Editora Rocco.
O autor faz uma espécie de inventário produzido pela literatura acerca da cegueira, coisa que eu sempre quis fazer, e parece que joga com a palavra, metaforiza, descasca suas várias nuances.
As vezes penso que são raros os escritores que enfrentaram a cegueira sem assombro, ou que não fizeram dela a tônica central. Poucos foram aqueles que trataram a cegueira como um detalhe, e que evidenciaram no personagem, muito mais a sua condição humana do que propriamente a sua falta sensorial.
Na literatura, somente os cegos pouco importantes, e, em raros momentos, puderam viver a sua cegueira sem maiores transtornos, reflexões, dramatizações.
Veja-se por exemplo o almoaden cego de Saramago, no seu livro História do Cerco de Lisboa, que pôde cumprir seu destino, sem alaridos, encravado numa bela narrativa de princípio da manha, subindo a elevação de pedra para chamar os fiéis à oração, sem se importar com o escuro, a sentir a bruma como carícia no rosto, vivendo seu lugar na cultura, o lugar de trazer a luz da oração para seu clã.
Já no Ensaio sobre a Cegueira, Saramago vai ao fundo da metáfora, para escalpelar dali, o além do limite da condção humana, o lugar onde homens se dividem entre abjetos e bons, sem máscaras, sem brumas, sem ocultação.
E os cegos de Ernesto Sábato? Os cegos de Sábato são aranhas terrificantes, a tecerem sua vida subterrânea de poder, um poder corrupto, vigilante e mal. Perto deles, um homem torturado, a seguir seus passos, a desventrar o interior da sua organização poderosa, a fascinar-se com eles!
Logo que houver lido o livro de Afonso romano de Santana, logo que tiver percutido as suas palavras sobre a cegueira, digo-lhes mais alguma coisa sobre o assunto.
- Partilhe no Facebook
- no Twitter
- 4989 leituras