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GLAUCOMA - blog de Manuel

Glaucoma - o que é?

por Manuel

A problemática do glaucoma tem suscitado a difusão de imensa informação a seu respeito e que se encontra avulsa, por exemplo, em diversos sítios na Internet. A despeito da sua quantidade e qualidade, tal informação nem sempre se caracteriza pela simplicidade o que, naturalmente, causa dificuldades de compreensão aos menos versados na matéria. Daí que, para uma primeira abordagem do tema, entre leigos como a maioria de nós, me socorra de um esclarecimento prestado pelo Dr. António Figueiredo - ilustre oftalmologista responsável pelo Departamento de Glaucoma do Hospital de Santa Maria. Na verdade, a explicação que nos é prestada, de uma maneira simples e clara, torna apreensível para qualquer pessoa a noção do que é o glaucoma e os cuidados indispensáveis para com ele se lidar constituindo mesmo um bom ponto de partida para o desenvolvimento da nossa reflexão a este propósito.

Glaucoma, o «ladrão sorrateiro» da visão

Escondido por detrás da retina encontra-se algo essencial para que se possa dar o processo da visão: o nervo óptico, uma estrutura composta por milhares de células nervosas, que é o responsável por transmitir a informação visual ao cérebro. Ora, o glaucoma leva à perda da visão porque afecta este nervo óptico. E como é que isto acontece?

Imagine-se que o olho é uma pia de água com a torneira e o ralo constantemente abertos. A água desta pia chama-se humor aquoso, um líquido transparente que nutre a córnea e o cristalino e está sempre a circular através da pupila.

O humor aquoso é produzido por uma pequena glândula ocular – o corpo ciliar – e, após cumprir a sua função, é evacuado para fora do olho através de um tecido esponjoso e fino – a trabécula, que é, continuando a imaginar, o «ralo» do olho e se situa entre a íris e a córnea.

A dada altura, este «ralo» pode entupir e o humor aquoso não é expelido na mesma quantidade em que é produzido. Ao contrário da pia, o olho não transborda e este excesso de humor aquoso vai causar o aumento da pressão intra-ocular que vai afectar a parte mais frágil do olho – o nervo óptico.

As células nervosas que compõem o nervo óptico são danificadas pela pressão elevada. Como consequência, começam a surgir pontos cegos no campo visual que, regra geral, afectam primeiro a visão periférica e, se nada for feito para os travar, aos poucos, alastram-se para a visão central.

«Por fim, no curso final do glaucoma, as últimas e mais resistentes células da visão central perdem-se e a cegueira pode ocorrer», assegura o Dr. António Figueiredo, oftalmologista responsável pelo Departamento de Glaucoma do Hospital de Santa Maria.

Na maioria dos casos, o glaucoma é como um «ladrão silencioso», não deixando escapar sintomas que denunciem os seus primeiros passos. À medida que invade a visão, vai lentamente danificando as células do nervo óptico. A visão torna-se afunilada e os primeiros pontos cegos, consequência da morte de algumas células, passam despercebidos até que ocorram danos mais graves no nervo.

Glaucoma ou glaucomas?

Existem vários tipos de glaucomas.

«O congénito, pouco frequente, mas grave pela limitação visual, que pode impor logo à nascença e para toda a vida; o glaucoma agudo, verdadeira urgência oftalmológica, que pode conduzir rapidamente à cegueira; os glaucomas secundários, causados, muitas vezes, por outras doenças e, por fim, o glaucoma crónico ou de ângulo aberto que é, de longe, o mais frequente», descreve António Figueiredo, que acrescenta:

«De forma simplista, os glaucomas podem dividir-se em apenas dois tipos: o de ângulo aberto e o de ângulo fechado. No primeiro, o aumento da pressão intra-ocular é mais lento e progressivo.»

«Já no glaucoma de ângulo fechado, a saída do humor aquoso é vedada, este acumula-se e a pressão ocular sobe rapidamente, atingindo valores incomportáveis para a manutenção funcional das células do nervo óptico.»

Quais os glaucomas mais graves? Este especialista responde: «Aparentemente, são os de ângulo fechado ou agudos, pela rapidez de evolução. No entanto, não é bem assim.»

E explica: «No glaucoma de ângulo fechado, os sintomas são tão fortes que não passam despercebidos, o recurso ao oftalmologista é imediato e o diagnóstico é, geralmente, óbvio. «O tratamento, se rápido, pode ser eficaz e a antecipação e prevenção deste glaucoma é frequentemente possível».

«Em oposição, o glaucoma crónico, ou de ângulo aberto, é lento e progressivo. Inicia-se com a perda lenta da visão periférica, que pode ser apenas parcial, e só o estudo clínico dos campos visuais o pode detectar.»

A visão central, cuja perda é mais perceptível e assustadora, mantém-se até estádios avançados no glaucoma de ângulo aberto. Por outro lado, a subida lenta e moderada da tensão ocular não causa dor e, geralmente, não é percebida pelo doente.

Assim, só existem verdadeiros sintomas nas fases tardias, quando «o tratamento se torna problemático e a recuperação visual difícil ou mesmo impossível», como esclarece o especialista.

Glaucoma: detectar antes dos sintomas ...

Nos países desenvolvidos, o glaucoma representa uma das três maiores causas de cegueira, juntamente com a retinopatia diabética e a DMI. Estima-se que o glaucoma afecte entre 70 e 80 milhões de pessoas, sendo que dois terços correspondem a glaucomas de ângulo aberto.

Na Europa, o glaucoma atinge cerca de 5% da população com mais de 65 anos e «perto de 10% dos europeus, com mais de 40 anos, encontram-se em risco de vir a desenvolver a doença», revela António Figueiredo, particularizando:

«Em Portugal, estima-se que o glaucoma e hipertensão ocular afectem perto de 400 mil pessoas. Este valor tem em linha de conta dados dos EUA e União Europeia, que apontam para percentagens de doentes não diagnosticados que podem atingir até 50% dos casos clinicamente referenciados.»

A hipertensão ocular é, comprovadamente, o principal factor de risco do glaucoma. Mas existem outros, como a influência genética, a raça (tende a ser mais grave nos negros) ou a idade.

Mais: «Os indivíduos com miopia elevada são mais frágeis e o tabaco agrava o prognóstico por aumentar os problemas de irrigação sanguínea no nervo óptico associados ao glaucoma», sustenta o mesmo oftalmologista.

Já que a incidência aumenta a partir dos 40 anos, «é sensato, em termos preventivos, fazer uma consulta regular de Oftalmologia. Quando existem familiares directos com glaucoma, esta medida deve ser tomada ainda mais cedo. Até porque, todos os métodos evoluídos de diagnóstico precoce e tratamento do glaucoma estão disponíveis em Portugal», diz o especialista.

O diagnóstico do glaucoma passa, em primeiro lugar, pela avaliação da tensão ocular. No entanto, isto não basta, porque «um número significativo de glaucomas pode evoluir com tensões oculares dentro de valores ditos normais», diz António Figueiredo.

E aponta o procedimento ideal: «Tão importante como a avaliação da pressão ocular é o exame do fundo do olho – oftalmoscopia –, através do qual se observa a porção anterior do nervo óptico, onde surge a lesão mais típica do glaucoma – a perda das células nervosas, a que nós chamamos “escavação”.»

Hoje em dia, o diagnóstico precoce do glaucoma é auxiliado por aparelhos sofisticados, que calculam o número de fibras nervosas perdidas nos vários sectores do nervo óptico. «Assim» explica o especialista, «a doença é detectada antes de qualquer sintoma».

Glaucoma: para tratar com eficácia

A maior parte dos casos de glaucoma é controlada mediante a utilização de medicamentos sob a forma de colírios, ou seja, gotas de aplicação tópica ocular», conta António Figueiredo, mas desabafa que «o abandono da terapêutica é um dos problemas com que nos defrontamos nas situações crónicas».

O laser constitui a forma mais utilizada de prevenir e tratar os glaucomas de ângulo fechado. No entanto, «na maior parte dos glaucomas de ângulo aberto (os mais frequentes) a sua utilização é menos comum e a sua eficácia mais inconstante», menciona o oftalmologista.

Por fim, como declara o especialista, «a cirurgia é guardada para os casos de tensões oculares muito elevadas ou incontroláveis, ou quando os meios de diagnóstico mostram que a doença persiste em evoluir». Geralmente, as operações podem ser feitas com anestesia local e sem necessitar de internamento.

E de futuro?

António Figueiredo adianta: «A terapêutica de manipulação genética permitirá aumentar a resistência das células nervosas e corrigir os defeitos estruturais e, talvez mais cedo, os medicamentos neurorregeneradores que reabilitem as células nervosas e as tornem mais resistentes à hipertensão ocular.»

Glaucoma: quem está em risco?

Podem ter glaucoma principalmente as pessoas com:
Pressão ocular anormalmente alta;
Mais de 45 anos;
Histórico familiar de glaucoma;
Ascendência africana ou asiática;
Diabetes;
Miopia elevada;
Histórico de uso frequente e prolongado de esteróides ou cortisona;
Alguma lesão ocular prévia.

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