Denisa Sousa
Sobreproteger uma criança com deficiência visual pode ser uma forma de "maus-tratos". Palavras do psicólogo da delegação da ACAPO de Braga, Hugo Senra, para quem as protecções excessivas são um poderoso travão à autonomia. A pensar, sobretudo, nas 613 crianças cegas/amblíopes do distrito abriu, ontem, na sede bracarense, uma sala de estimulação sensorial, que lhes ensinará a encaixarem-se, harmoniosamente, na sociedade, tirando o máximo proveito dos outros sentidos.
"A família, às vezes, é altamente negativa, protectora demais. Querem fazer tudo aos deficientes visuais, incluindo dar-lhes de comer. Isso potencia a dependência e a degradação", corroborou, por seu turno, o líder nacional da ACAPO, Esteves Correia, presente na apresentação do novo serviço.
Os apetrechos são variados, de múltiplas texturas, há brinquedos e sons, ferramentas para treinar o equilíbrio ou a psicomotricidade fina, o equilíbrio e a mobilidade. Coisas, aparentemente, simples que se tornam grandes obstáculos para os cegos congénitos e os que cegam depois. Por isso, a sala, embora mais direccionada para as crianças, será usada em prol de todos, explica a psicóloga Rita Pereira.
Através das sessões, onde trabalham técnicos, psicólogos e, em breve, ao abrigo dos protocolos com a Segurança Social, um terapeuta ocupacional, quer-se "pôr os meninos em pé de igualdade com os outros".
O responsável nacional da ACAPO considera que o centro de reabilitação existente em Lisboa não serve os propósitos dos invisuais de outras zonas. "Estamos a apostar na reabilitação de proximidade. Para que é que um invisual do Barroso ou de Bragança quer aprender a andar no metro? Ele precisa é de ser ensinado a mover-se no seu meio". Daí que o conteúdo da sala possa vir a ser levado a casa das pessoas, se for necessário.
Fonte: Jornal de Notícias de 14-07-2006
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