Já ouviu falar no «olho preguiçoso?» Esta expressão é relativamente pouco conhecida, sendo na maioria dos casos associada à imagem da criança com um dos olhos tapados. Contrariamente ao que à partida se pensa, o olho coberto é o que está saudável. Isto faz parte de uma acção curativa, que pretende obrigar o olho preguiçoso a ver, sem que para isso seja necessário a intervenção do outro.
Ambliopia: um problema de percepção visual diminuída
O Dr. Armando Garcia, oftalmologista no Instituto de Microcirurgia Ocular, desmistifica este problema: «A expressão, mais ou menos popular, de olho preguiçoso é habitualmente utilizada nos casos em que a Oftalmologia diagnostica uma ambliopia. Esta doença pode ser definida como uma acuidade ou percepção visual diminuída, sem existir uma lesão orgânica que directamente a justifique. De uma forma mais popular, é um olho que teria tudo para ver bem, mas tal não se verifica.»
A origem da palavra vem do grego amblios, que significa tolo, e ops, que quer dizer visão, sendo o seu significado literal «visão tola», por se tratar de uma espécie de disfunção entre o grau de visão dos dois olhos.
Das causas às consequências
Armando Garcia alerta sobre as causas: «São várias, sendo as mais frequentes os estrabismos, as anisometropias (grandes diferenças nas graduações de um olho em relação ao outro), os nistagmos (movimentos involuntários de oscilação dos olhos), o não tratamento de doenças que diminuem a transparência dos meios oculares (ex.: cataratas) e ainda as ambliopias de causa inexplicável.» O especialista acrescenta que o diagnóstico é relativamente simples, basta para isso que vá a uma consulta de Oftalmologia, que logo é detectado o problema:
«Sempre que existam sintomas oftalmológicos suspeitos como o estrabismo, olho vermelho permanente, secreção ocular, pupila branca, ou outras deformações oculares, as crianças devem de imediato ser observadas. A idade mais indicada para um exame são os 5 anos, porque ainda se vai a tempo de tratar disfunções não detectadas.» O factor-chave é a constatação de uma acuidade visual baixa, principalmente comparando-a com a do olho oposto. «Há autores que consideram que uma diferença superior a 30% nas acuidades visuais pode fazer o diagnóstico de ambliopia no olho com a menor acuidade», refere Armando Garcia.
O especialista explica que «a avaliação da percepção visual pode ser uma manobra muito simples num adulto colaborante. Basta pedir que seja lida uma tabela de optótipos (letras de tamanhos padronizados) que, para a mesma distância, vão diminuindo de tamanho e a cada tamanho corresponde uma percentagem crescente de acuidade visual.
Contudo, esta manobra pode tornar-se difícil ou impossível em crianças (principalmente com menos de 5 anos) ou até mesmo em adultos que não colaborem. Existem testes (avaliação do modo de fixação) que podem fazer suspeitar da existência de uma ambliopia numa criança com menos de 5 anos de idade».
O principal sintoma da ambliopia é que «o olho preguiçoso» vê mal. Esta doença pode trazer várias consequências, umas directas, outras indirectamente relacionadas com a função visual. Armando Garcia fala-nos da que mais se destaca:
«A mais evidente é a existência de um olho que vê menos do que seria esperado. Mais tarde esse olho pode desenvolver um estrabismo. Outra consequência importante é o não desenvolvimento da visão binocular. Nestes casos, as pessoas afectadas não desenvolvem a estereopsia que lhes permite ter uma percepção correcta e rápida da visão tridimensional.»
Indirectamente, as pessoas com um olho amblíope podem ter problemas no desempenho de algumas acções ou no desempenho de determinadas profissões. Por exemplo, é difícil imaginar um cirurgião ou um piloto profissional com uma ambliopia...
Ambliopia e estrabismo
Uma pergunta bastante frequente é se o estrabismo leva à ambliopia ou se acontece o inverso. Nesta questão, Armando Garcia é peremptório:
«Discutir se é o estrabismo que leva à ambliopia ou o oposto pode ser tão esclarecedor como tentar saber se foi o ovo ou a galinha que surgiram em primeiro lugar! As duas condições andam na maior parte das vezes associadas. Embora em muitos casos seja impossível determinar o ponto de partida, existem casos em que é possível reconhecer a evolução dos acontecimentos. Por exemplo, um recém-nascido que nasça com uma catarata congénita e que não seja tratado atempadamente ficará amblíope do olho afectado e mais tarde desenvolverá um estrabismo nesse olho.»
No que respeita à eficácia dos tratamentos, o Dr. Armando Garcia classifica-a em dois tipos distintos: A obtenção de resultados funcionais e os resultados estéticos.
O melhor resultado funcional ocorre quando o olho amblíope recupera a acuidade visual. Habitualmente, esta situação é acompanhada pela cura do estrabismo associado. Infelizmente, nem sempre se consegue obter este resultado e as causas são várias, conforme nos diz o especialista:
«Um diagnóstico ou tratamento tardios, o não cumprimento do tratamento programado, um estrabismo que surge antes dos dois anos de idade ou a existência de lesões orgânicas graves, como a catarata congénita unilateral, tumores ou doenças da retina, são das causas mais frequentes do insucesso total ou relativo do tratamento.»
Quando já não é possível recuperar a acuidade visual do olho amblíope, o especialista refere que «o objectivo pode apenas ser a obtenção de uma correcção estética do olho estrábico, ou seja, obter o alinhamento dos dois olhos. Geralmente, nestas situações, a cirurgia, por vezes dos dois olhos, torna-se necessária».
Cuide dos seus olhos. Afinal, eles são as janelas da alma!
Fonte: http://www.medicosdeportugal.iol.pt/action/2/cnt_id/265/
Nota: contributo, via e-mail, de Pedro Afonso.
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Comentários
negligência médica
Olá. Chamo-me Carla e tenho 30 anos. Quando tinha 9 meses fui operada pela 1 vez a uma vista. Ao ano e meio fui operada à segunda. Tinha sido diagnosticado estrabismo. A partir daqui comecei a usar óculos. Pelo que sei o médico que me acompanhava deveria de me tapar o olho esquerdo para obrigar o direito a ver mas fez ao contrário. Hoje em dia tenho uma ambliopia no olho direito graças a este médico que só foi descoberta na 4 classe. Obrigado
Ambliopia
Então tenho também um olho ambliope com 8 graus. Sei que a correção é feita até os sete anos. Depois disso é quase impossível a correção. Mas sei tamém que existem estudos com células tronco para tratar ambliopia em adultos. Meu médico aompanha tudo e me mantém informada sempre!!
Existe solução, após os 20 anos de idade
Olá, Boa noite!
Achei interessante a matéria. Tenho 20 anos e tenho ambliopia e estrabismo no inicio era somente no olho direito, mas passou para o esquerdo também e hoje tenho 13º no direito e 3,5º no esquerdo, gostaria de saber se tem algum tipo de tratamento, cirúrgia, enfim uma solução para esse problemas, pois o médico que me acompanha só passa lentes para usar.
Aguardo um retorno!Se quiser me passe um e-mail ficarei muito grata jacirlene.demuner@hotmail.com.