Por Aquilino Rodrigues
O semanário Expresso acaba de lançar o primeiro número de uma colecção de áudio-livros de contos de Agatha Christie. Foi com grande expectativa que hoje me dirigi ao quiosque para comprar o meu exemplar. O preço, 1 euro e vinte cêntimos, foi uma boa surpresa. Comecei por admirar a embalagem, um livrinho de capa dura, do tamanho de um CD, com grafismo correcto. Na contra-capa, o índice de faixas de cada título, pois que este CD contém não um, mas dois contos: O Rei de Paus e Ninho de Vespas. O primeiro título tem seis faixas e o segundo quatro faixas, e logo aqui já temos uma vantagem do CD sobre as cassetes: a possibilidade de saltar directamente para um determinado capítulo do livro. Aberto o livrinho, deparei com a segunda surpresa, desta feita uma partida de carnaval dos editores: o livro foi encadernado ao contrário, e por isso as páginas estão de cabeça para baixo. Corrigida a orientação, deparamos com um CD protegido numa bolsa colada ao interior da contra-capa, e com 24 páginas elegantemente ilustradas, com um resumo dos dois áudio-livros e dados acerca de Agatha Christie e do herói dos contos, o famoso detective Hercule Poirot.
Chega o momento de por os olhos, ou melhor, os ouvidos nos áudio-livros propriamente ditos. O CD pode ser ouvido em qualquer leitor de CDs, tal como se um CD de música se tratasse. Uma voz conhecida anuncia Expresso áudio-livro apresenta.... E a partir daí somos imersos num mundo diferente. A narração de Fernando Alvim é entusiasta e expressiva. Achei a leitura um pouco rápida demais, mas é um facto que cada pessoa tem uma percepção diferente. A opção de incluir pequenos elementos musicais como fundo, aqui e ali, ajuda a criar uma atmosfera de mistério. Gostei. O livro avança a um ritmo rápido e sentimos que depressa vamos chegar ao fim do livro. Detectei alguns erros gramaticais, mas nada de grave. A tradução, no global, é de boa qualidade. Estão de parabéns o Expresso e a editorial Sol90 por esta excelente produção.
A razão de ser dos áudio-livros
Os áudio-livros são ainda pouco conhecidos em Portugal, mas nalguns países são tradicionalmente editados como alternativa para as pessoas cegas ou com dificuldade de leitura. A BBC, por exemplo, tem uma vasta colecção de títulos editados, disponíveis nas livrarias comuns em Inglaterra. Espera-se também em Portugal um interesse crescente nos livros falados, com algumas editoras a apostar forte neste formato. O mesmo semanário Expresso publicou um artigo sobre este tema na revista Única de 27 de Janeiro deste ano. Para o público em geral, os áudio-livros também têm o seu lugar: as horas passadas em engarrafamentos podem agora ser preenchidas com a gratificante audição de um bom livro.
O áudio-livro DAISY
Foi com o intuito de desenvolver o conceito de áudio-livro que foi criado o formato DAISY, cujo nome é um acrónimo de Digital Accessible Information System, ou sistema digital de informação acessível. Utilizando também CDs como suporte, o seu conteúdo é, no entanto, mais rico. O som é gravado em formato MP3, que ocupa cerca de um décimo do espaço do formato áudio de CD. Assim, um CD Daisy pode conter cerca de 10 horas de gravação. Em contrapartida, precisa de um leitor de CDs que aceite o formato MP3 para poder ser ouvido, o que hoje em dia não representa uma grande restrição. Um leitor de CDs portátil compatível com MP3 custa hoje em dia a partir de 25 euros.
Mas a grande inovação do sistema Daisy é a ligação que faz entre texto falado e texto escrito. Na produção de um título Daisy é necessário dispor da gravação áudio com a leitura, e do respectivo texto escrito. Os dois são interligados num processo designado por sincronização. Se o áudio-livro DAISY for reproduzido num computador, o leitor poderá ouvir o texto ao mesmo tempo que vê o texto a passar no ecrã. Esta funcionalidade é considerada benéfica para pessoas com dificuldades de aprendizagem, daí que o sistema DAISY tenha um particular interesse para o ensino. Uma outra grande vantagem do formato DAISY é a possibilidade de localizar texto em qualquer parte do livro, e continuar a audição a partir daí. Esta é sem dúvida um excelente ferramenta para o estudo.
Em Portugal estão a ser dados passos importantes na utilização deste formato. Em particular, o Ministério da Educação já tem vários livros escolares para o ensino secundário disponíveis em formato DAISY, para apoio aos alunos com deficiência visual.
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