A maior parte dos diabéticos em Portugal terão lesões oculares mais cedo ou mais tarde e, destes, há milhares em risco de cegar. Uma consequência previsível mas que não é acompanhada por rastreios atempados e tratamentos urgentes. No País, há entre 15 a 20 mil diabéticos em risco de cegar e a espera por um tratamento a laser pode chegar a um ano e meio. Para ir à consulta pode esperar-se um ano.
O alerta foi lançado por vários especialistas em medicina geral e familiar em quase todo o País, mas também por oftalmologistas de unidades hospitalares. Eduardo Marques, médico no Centro Oftalmológico de Lisboa, uma das duas maiores unidades nesta especialidade, disse ao DN que "são tantos os doentes diabéticos que esperam um ano só para a consulta. Se a isso se juntar uma espera de meses por um tratamento a laser, os doentes podem estar ano e meio à espera", refere.
Em Lisboa, o cenário é mais leve no Instituto Gama Pinto, onde "o atendimento é preferencial a diabéticos", refere Luísa Santos: entre três, quatro meses de espera no caso dos centros de saúde com quem temos protocolos e até seis meses nos casos restantes". O tratamento, garante, é feito logo que identificadas as lesões indicadoras de retinopatia diabética.
No Algarve, segundo fontes dos hospitais de Faro e Barlavento Algarvio, o número de oftalmologistas é reduzido, não passando de meia dúzia de médicos. António Ramos, médico em Faro, disse que a região encontrou uma saída, "estabelecer protocolos com centros de saúde para fazer rastreios". Na consulta, deixou de haver lista de espera, porém, tratar as eventuais lesões pode "demorar um ano", porque faltam especialistas.
O cenário é semelhante no Alentejo, onde "até há máquinas para rastreio, mas não existe resposta a tratamentos", de acordo com Rosa Galego, médica na mesma área. A espera em todo o País, "ronda pelo menos um ano", e os tratamentos "podem demorar mais, o que é mais grave", alerta. A zona centro, exemplo reconhecido por ter um excelente programa de rastreio, tem resultados positivos: "temos linhas de alerta para marcar consultas de retinopatia diabética que podem demorar três meses", disse fonte do Centro Hospitalar de Coimbra. A situação, porém, não é tão positiva para aqueles que entram na consulta geral "que podem esperar nove meses a um ano" excluindo o tempo para o tratamento, que pára a evolução da doença.
No Porto, os oftalmologistas Vítor Rosas e Jorge Breda (presidente da Sociedade de Oftalmologia), referem prazos até quatro meses para a consulta e mais quatro para marcar tratamentos . "No Hospital de São João, penso que temos a situação mais ou menos controlada", diz Vítor Rosas.
Casos graves estão misturados
Castanheira Dinis, coordenador do Programa Nacional para a Saúde da Visão, refere que em Portugal "há um grande número de diabéticos à espera" e que "há casos graves à espera de rastreio, em conjunto com rastreios de rotina e primeiros rastreios", disse ao DN, explicando que está a ser trabalhada uma forma de os distinguir para criar prioridades.
O também director do Instituto Gama Pinto referiu que "quase todos os serviços estão habilitados a tratar as retinopatias diabéticas, mas que nem todos conseguem responder a todas as doenças". Apesar disso, acredita que "já se salvam mais pessoas da cegueira e que há mais controlo da diabetes entre os portugueses".
por Diana Mendes
Fonte: http://dn.sapo.pt/2007/09/10/sociedade/diabeticos_esperam_e_meio_para_tr...
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