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Blog de e.m.a

Opinar não ofende!

por e.m.a

Quando tive conhecimento do “Ler para Ver” foi-me dito que era condição cine qua non ter a cegueira como referência nas participações escritas.
Compreendo mas não concordo totalmente.
Nascemos pessoas, filhos e filhas de um pai e de uma mãe, com o mundo à nossa espera consoante a vontade e as possibilidades de cada um . E, se surge a contigência de cegueira, à nascença ou durante o percurso de vida, ela não é mais do que isso mesmo, uma contingência.
Quando duas pessoas cegas falam de política, música, poesia ou desporto, só o podem fazer se tiverem a cegueira por pano de fundo?
Eu sei, eu sei que há outros espaços onde se pode falar livremente de tudo. Mas porque não também no “Ler para Ver” ?
As intervenções não passariam a ser mais activas, variadas e participadas?

Porém, para os espíritos mais ortodoxos, ( se os houver ! ), aqui vai um episódio quási anedótico :
Há pouco tempo entrei no pequeno autocarro que serve a minha zona e sentei-me no primeiro lugar, à direita, destinado a situações especiais. Algumas paragens adiante ouvi o toque de uma bengala nos degraus, dois ou três passos na minha direcção e, antes que a pessoa se sentasse no meu colo, avisei : -- Este lugar já está ocupado!
O homem, pois de um homem se tratava, estacou, depois ao afastar-se, resmungou : -- Pois, é a brigada do reumático !
Não resisti e disse também em voz alta : -- Engana-se, não é a brigada do reumático ! É alguém que tem o mesmo problema que você !
O indivíduo não levou o caso para a brincadeira, nem sequer pediu desculpa. Muito caladinho, lá se foi sentar noutro lugar.
Eu também já tenho cometido algumas gaffes e, como em geral não se percebe que eu não vejo, explico porquê e peço desculpa. Quási sempre o assunto acaba em risos.
Como se sabe, não é preciso ver ou não ver para se ser bem ou mal educado!
E, por hoje, aqui me fico !