Prezados,
Sabemos que a áudio-descrição e a descrição são coisas bem distintas, muito embora esta tem atributos da primeira, no que tange a tradução da realidade vista, observada. No entanto, diferente da descrição, a áudio-descrição visa ao empoderamento da pessoa com deficiência, traduzindo em palavras aqueles eventos visuais não disponíveis aos que a eles não têm acesso visual ou, cujo acesso não permite adequada avaliação do que é visto. Neste último caso, podemos dar como exemplo uma pessoa com autismo, que pode não entender bem as expressões faciais de um interlocutor.
Sabemos, também, que a pessoa com deficiência tem sido retratada com as maiores das barreiras atitudinais, seja na literatura, seja nos textos religiosos ou científicos.
No trecho abaixo, confiram a descrição para aquilatarem a afirmação acima.
Percebam que se trata de uma descrição não por estar escrita, mas porque não foi feita com os pressupostos da áudio-descrição, conforme dissemos anteriormente.
Bons estudos e atenção para não discriminar por razão de deficiência.
" A religiosidade profunda e o espírito cavalheiresco da Idade
Média contribuíram para a definição de um estatuto marginal marcante
dos deficientes.
O romantismo, na primeira metade do século XIX, procurou
valorizar o exotismo daquela época, criando algumas personagens deficientes que são
figuras de grande dimensão da literatura universal. Os deficientes sobem
ao primeiro plano da literatura. A figura maior é Quasimodo, no romance "Nossa
Senhora de Paris", de Victor Hugo. A acção passa-se no século XV e a personagem
central é o sineiro da igreja de Nossa Senhora de Paris, Quasimodo, figura
repelente, objecto de
chacota, papa dos loucos. É assim descrita: "Uma cabeça
foimidável, eriçada de uma cabeleira ruiva; entre os dois membros uma bossa enorme
que, com o movimento, fazia vulto por diante; um sistema de coxas e de
pernas tão singularmente descambadas que apenas se podiam aproximar pelos
joelhos e que, vistas de frente, pareciam duas lâminas recuivas de foices,
unidas pelo cabo; pés
largos, mãos monstruosas.
(...) Não tentaremos dar ao leitor uma ideia desse nariz tetraedro, dessa boca recurva como uma ferradura; desse pequenino olho esquerdo
obstruído por uma sobrancelha ruiva, e áspera como tojo, enquanto o olho direito
desaparecia completamente sob uma enorme verruga; dessa dentadura
desordenada, aqui e além brechada como as ameias dum forte; desse lábio caloso,
por sobre o qual avançava um desses dentes como uma presa de elefante; desse
queixo fendido; e principalmente da fisionomia diluída sobre tudo isto; desse
misto de malícia, de estranheza e de mágoa". É assim dado o retrato físico,
completado pela surdez adquirida a tocar os sinos."
Cordialmente,
Francisco Lima
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