A áudio-descrição, embora tendo sido iniciada há 3 décadas, e sendo matéria de estudo científico há mais tempo que isso, ainda é assunto novo entre as pessoas com deficiência. Isso requer que os usuários da áudio-descrição, tanto quanto os que esse serviço prestem sejam treinados na recepção da áudio-descrição.
Mesmo o termo áudio-descrição é léxico novo, de desconhecimento de muitos estudiosos da tradução visual, das artes, da antropologia etc. Para ler a respeito disso, confiram WWW.rbtv.associadosdainclusao.com.br , entrando no primeiro volume da Revista.
No texto que comento a seguir (retirado de http://museuacessivel.incubadora.fapesp.br/portal/opiniao/audio_descriti... ), o autor parece saber do que fala, mas só parece, visto que deixa claro sua confusão entre técnica de áudio-descrição de filme e de peça teatral. E essa diferença é apenas rudimento da áudio-descrição e não conhecimento mais profundo. Portanto, não se pode alegar em defesa do autor que ele é um usuário e não um especialista.
Por falar nisso, ele diz contraditoriamente que :
...são louváveis as iniciativas para se atender o público das pessoas com deficiências, em todos seus segmentos, porém cabe ressaltar que todas as iniciativas neste sentido, devem ser respaldadas por especialistas ou pelos próprios deficientes, que possam representar seus segmentos, com suas análises e sugestões.
Mas, porque Contraditoriamente?
Não basta que se seja pessoa com deficiência visual para dar conslutoria em uma área de serviço prestado às pessoas com deficiência. Em toda área, cabe ouvir os usuários, receber deles suas opiniões etc., contudo, isso não pode ser confundido com consultoria, o que requer conhecimento maior que aquele exigido para dar opiniões. Estas, são como vento, ora podem soprar para um lado, ora para outro, conforme o opinante desejar, estiver de espírito etc.
Depois, se é fato que deverá ser o especialista a fazer, ou dar parecer sobre a técnica da áudio-descrição, os conhecedores dessa área sabem que se trata de tradução visual, logo o tradutor tem liberdade de escolha, o que faz de cada áudio-descrição uma obra única.
Mais ainda, do currículo do autor do texto, apresentado no site, não consta que é um estudioso das questões imagéticas e a pessoa com deficiência, não consta que é tradutor ou que é formador de áudio-descritores.
Certamente, ele tem, como opinador, todo o direito de opinar e a esse direito defendemos com veemência. Não obstante, enquanto avaliador da áudio-descrição, se esse foi seu intento, ele não sabe do que diz, mormente ao comparar a áudio-descrição da peça com a do DVD que menciona:
...O DVD que descrevo abaixo serve de um bom modelo de narração descritiva, atendendo perfeitamente às necessidades do espectador, aliada a competência de seu narrador, embora este não seja profissional.
Enquanto opinião, o autor pode dizer o que quiser, mas como avaliador, dizer que este DVD respeita perfeitamente as regras da áudio-descrição, aí já é demonstrar não as conhecer...
Em alguma postagem mais adiante, comentarei a respeito de erros técnicos cometidos neste DVD e em outros. Quanto a obra mencionada na matéria, a propósito, recomento-a aos que gostam desse gênero, ou aos que desejarem experienciar a áudio-descrição gravada.
Em traduções, eventuais erros, por si só, não desmerecem a obra, nem a própria tradução visual, seja ela uma legenda, uma áudio-descrição ou uma subtitulação em closed caption.
Ao opinar, o autor do texto em comento diz também:
Em minha opinião, as narrativas durante a peça de teatro, filme, shows, devem ser sucintas e colocadas no momento adequado, evitando assim, sobreposições que dificultem o entendimento do que está ocorrendo...
...Instalação do DVD e acesso ao menu foi fácil, bem como a navegação pelos itens.
A apresentação da narração descritiva foi sucinta e clara durante as cenas, com destaque especial para quando ocorre a mudança da cena, são citados: cenário, localização no tempo (dia/noite) e a descrição da cena...
Muito interessantemente, tais opiniões correspondem aos rudimentos, por assim dizer, lições básicas dadas aos alunos do curso de áudio-descrição. E, portanto, acerta o autor.
Mas ele continua e sua opinião não pode ser confundida com conhecimento técnico, já que não o é.
apesar da boa vontade dos dois narradores que se alternavam durante a peça, demonstraram não estar preparados para a função. As descrições em certos momentos foram exageradas, colocadas no ponto errado como, por exemplo durante as gargalhadas da platéia, em que não era possível ouvir a narração. O despreparo ficou evidente. Quer ele dizer que achou suficiente as informações? Ele é do tipo para o qual alguma descrição já é o bastante? Algumas pessoas gostam de maiores detalhes na obra, outras menos; algumas pessoas, dão-se conta de quanto perdem de informação visual, outras não; algumas pessoas percebem que a falta da áudio-descrição lhes limita o acesso à informação, outros pensam que, tendo entendido o contexto, isso já é o suficiente.
Não se pode basear avaliações em gostos o que é bom para mim, não o é para você e, não o sendo, significar que a tradução é que não foi boa.
Da mesma forma, nem tudo que é bom para você e para mim estará correto, dentro da técnica da áudio-descrição.
Em áudio-descrições ao vivo, não se tem o controle que se pode ter numa descrição de filme, onde se pode parar o DVD, corrigir edições etc. Assim, se a descrição foi em momento que as pessoas riram, isso pode ter sido por conta da necessidade e limite da técnica, embora pode até ter sido por erro mesmo.
Considerando o contexto maior do que diz o autor, foi mesmo confusão entre o que ele gostaria e o que cabe ao tradutor visual fazer: a áudio-descrição para o público usuário do serviço e não para a satisfação individual de um expectador.
As obras não agradam a todos, a todo o tempo de sua execução, à toda hora, mas uma boa áudio-descrição dá acessibilidade ao usuário e o aprimoramento da técnica deve ser o objetivo principal do profissional da tradução visual que atua com áudio-descrição.
Quanto a se ter de andar até o teatro etc., um bom exercício físico faz bem para as pessoas com deficiência visual, tanto quanto para as demais. Se o caso do usuário for também de deficiência física, ou de alguma forma de mobilidade, a ele está reservado o direito de acesso com os recursos de que precisa, por exemplo rampas. Se o caso for de preguiça, tenha paciência!, a deficiência de uma pessoa cega ou com baixa visão está na visão, não nas pernas!
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