Está aqui

Comentários efectuados por Hugo Eiji

  • Hugo Eiji comentou a entrada "diferença entre cego e invisual" à 14 anos 8 meses atrás

    Olá!

    Há pouco tempo em Lisboa, deparei-me, também, com esta "cisma" terminológica. Achei uma discussão bastante rica, pois no Brasil CEGO é palavra bastante corrente, mesmo em meios acadêmicos, científicos, etc.

    A palavra "invisual" define uma identida por uma negação. Isto é, a princípio, problemático. Estabelece-se uma "padrão de normalidade" (os visuais) e, por este padrão, define-se o que está fora da norma (com o prefixo IN). Por meio da língua evidencia-se uma relação de poder. É como chamar negros, asiáticos, indianos, de "não brancos" - assim, por uma construção linguística, reafirma-se o que é "a-normal", o que está "abaixo", ou o que é um "desvio da normalidade". Acho isso um tanto problemático.

    Mas, para muitos, a palavra "cego" é muito dura. Isso porque a cegueira, infelizmente, é carregada de estigmas ("cego" ainda é associado a uma pessoa triste, "privada de um sentido", que anda pelas ruas a pedir esmolas, ou trancada em seus quartos "sem ver a luz do dia", etc.). É uma representação social ainda cheia de preconceitos. A palavra "cego", imprudentemente, "caiu na desgraça". Por esse motivo, criam-se eufemismos. Assim como dizemos "crianças especiais" (especiais por que?), "excepcionais" (excepcionais? talvez se elas voassem...), "portadora de deficiência" (deficiências se portam, como bilhetes de identidade?), criamos a palavra "invisual", com a intenção de "suavizar" um estigma, de falsear uma condição para que ela pareça menos dura. Mas, assim, reforçamos uma "identidade pela negação".

    O que falta refletir é que o estigma não caiu sobre a palavra CEGO, mas sobre a identidade do cego. E isso precisa ser repensado, para que a palavra - no senso comum - ganhe outras significações.

    Na comunidade surda, uma das grandes lutas é fazer com que os Surdos sejam reconhecidos como Surdos, e não como "deficientes auditivos". A palavra Surdo carrega um peso político, de reafiramação (e conquista) de direitos, de luta por uma identidade, de valorização de uma diferença. Dessa maneira precisamos encarar a palavra "cego".

    Cego não é o "não-vidente", ou o "invisual", "cego" é uma identidade que precisa ser valorizada em toda a sua diferença. São formas diferentes de compreender o mundo. Eis a graça da vida. =)

    Vale ressaltar que a ACAPO (Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal) e a Fundação Dorina Nowill para Cegos (no Brasil), duas das principais instituições de e para cegos em países lusófonos, usam e reforçam o uso da palavra CEGO.

    Eis a minha posição...

    Saudações cordiais,

    Hugo Eiji
    Lisboa