O secretário geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof) afirmou hoje que "o ministro da Educação tem uma visão segregadora do que é a inclusão das crianças e jovens com Necessidades Educativas Especiais (NEE)".
Mário Nogueira participou, na Escola Secundária Amato Lusitano, em Castelo Branco, na abertura da exposição/debate sobre "A importância da escola na inclusão social de crianças e jovens com deficiência", promovido pela Confederação Nacional das Organizações de Deficientes (CNOD), em parceria com a Fenprof e cofinanciado pelo Instituto Nacional para a Reabilitação (IRN).
A inclusão, segundo Mário Nogueira, "é um dos problemas que se fez sentir de forma mais acentuada neste arranque do novo ano letivo", pois, a esta visão segregadora, junta-se "o afunilamento da inclusão para situações meramente clínicas, afastando assim das escolas milhares de jovens que necessitam de apoio, a nível social e de outras questões como dislexias ou outras, que não são classificadas como deficiências".
Este é um problema que, disse, "se tem vindo a agravar desde 2008, com o país e as escolas a darem passos atrás nesta matéria", lamentando que o ministro da Educação, Nuno Crato, tenha afirmado que "esta não era uma questão pedagógica, mas administrativa".
"É inaceitável. A inclusão do adulto tem de começar mais cedo, tal como todas as competências e aprendizagens têm de começar na meninice", declarou, reiterando que o ministro tem "uma visão absolutamente conservadora, para não dizer retrógrada e reacionária nesta matéria".
Mário Nogueira lamentou que se estejam a dar passos atrás, precisamente no país que "subscreveu em 1994 a Declaração de Salamanca, a mais importante nesta matéria, mas que já tinha legislação sobre a inclusão de crianças e jovens com NEE desde 1991, estando assim na vanguarda" da Europa.
"Temos uma legislação e comportamentos de segregação. Temos políticas que abrem a porta para segregar, para afastar e para por de fora milhares de alunos", frisou.
Além de Castelo Branco, o projeto já passou por Évora, mas vai ainda apresentar-se em Santa Maria da Feira, Funchal, Lisboa e Ponta Delgada.
Fonte:
http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=3489431&page=-1
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Comentários
Infelizmente...
Infelizmente, o nosso Minisro da Educação e Ciência nem tem noção de que para existir igualdade de oportunidades é, muitas vezes, necessário criar mecanismos de diferenciação que permitam que os alunos com NEE atinjam as mesmas metas curriculares, dos restantes colegas.
Para a nossa equipa ministerial o processo de inclusão é apenas fazer com que um aluno com NEE partilhe a mesma sala de aula com mais 29 alunos (seus colegas de turma) e um professor.
Pois bem, quando falamos em inclusão queremos referir-nos a que haja uma verdadeira integração de todos, em que a partilha de várias experiências permitam que alunos com e sem NEE aprendam, efetivamente, a saber estar, a saber ser e a saber fazer.
Para tal, torna-se necessário que estas turmas sejam mais reduzidas, como está previsto e, bem, no DL n.º 3/2008, mas que, na prática, não está a ser cumprido em muitas das nossas escolas.
Torna-se necessário que estes alunos tenham ao seu dispor um professor de Educação Especial, que os ajude a consolidar os conceitos, que face à sua deficiência podem ter uma maior dificuldade em adquirir. Maior dificuldade não é sinónimo de não serem capazes de o conseguir! É isso, que a equipa ministerial também ainda não conseguiu compreender!...
No caso dos alunos cegos ou com baixa visão é fundamental que estes tenham acesso aos seus manuais e restantes materiais em formato que lhes seja acessível, de forma atempada. Não é admissível que o MEC não produza, atempadamente, todos os materiais que estes alunos necessitam. Mais, é ainda inadmissível, pura e simplesmente, chegar-se ao final de um ano escolar e uma aluna cega do nosso país, não ter ainda os manuais de Ciências da Natureza, Matemática e Inglês, porque o MEC não os produziu em Braille. A referida aluna teve apenas acesso aos materiais produzidos pelos professores de Educação Especial, que a maioria das vezes, em horário pós-laboral foram produzindo os referidos livros...
Um aluno com deficiência visual deve aprender, desde cedo, a trabalhar a sua visão (treino da visão) quando ainda tem, aprender Braille quando o diagnóstico o justifica, orientação e mobilidade, tecnologias de apoio e atividades da vida diária. Segundo a lei cabe precisamente ao professor de Educação Especial ensinar e ajudar o aluno a desenvolver estas mesmas competências. Se isto é o que está previsto, como se pode justificar, que haja, neste momento, alunos com deficiência visual, que na sua escola não têm apoio de professor de Educação Especial? Como é possível que haja escolas a solicitarem a colocação de docentes de Educação Especial, no domínio da visão, desde o mês de agosto e hoje seja a 30/10/2013 e ainda não tenha sido ninguém colocado (ainda que haja uma lista de professores com a especialização, por colocar) porque as Direções Regionais ainda não validaram estes horários?
Quem explicará a estes pais que os seus filhos não têm professor de Educação Especial, porque o Ministério não faz, corretamente, o que lhe compete?
Com políticas de segregação apenas estaremos a desmotivar os alunos, que face a uma dada "incapacidade", que não é corretamente colmatada, poderão não atingir os objetivos para os quais se propuseram e para os quais são capazes.
E agora deixo-vos com um outro exemplo prático de um aluno muito especial, em que em pleno segundo período se encontrava, totalmente, desmotivado:
Fui substituir uma colega, que já estava a faltar há quase um mês.
Na primeira aula de apoio o aluno (com baixa visão) acabou de chegar e disse-me que tinha que sair às 17h30, porque era a hora que o táxi o vinha buscar e, como ele era de muito longe lá me decidi a levá-lo ao portão a essa hora. Claro está, que tinha sido enganada! No dia seguinte, quando tocou às 17h45 o mesmo aluno proferiu apenas o seguinte: "Estava a ser tão bom. Percebi tudo. Hoje o tempo voou..."
Pois, com isto se percebe, como um aluno motivado e devidamente apoiado ganha em tão pouco tempo vontade de trabalhar. Apenas precisa que alguém lhe dedique alguma atenção...
Uma verdadeira inclusão pressupõe integração, pressopõe doar-se, pressupõe amar o outro mais do que a si mesmo.
Não queremos uma suposta inclusão que apenas segrega, que discrimina e coloca de lado quem é diferente, mas que precisamente por ter nascido diferente precisa apenas que ainda mais seja respeitado...
Como teria todo o gosto de explicar a esta equipa ministerial o que significa, verdadeiramente, incluir...