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"Nenhum pessimista jamais descobriu os segredos das estrelas, nem velejou a uma terra inexplorada, nem abriu um novo céu para o espírito." (Helen Keller) - blog de Marco Poeta

De regresso com notícias fresquinhas

por Marco Poeta

Olá amigos!

Devem estar surpresos por eu estar de volta a este magnífico portal depois de vários anos sem notícias minhas! LOOOL

Se calhar já não se lembram do Marco Poeta, que gostava de compor versos e era um fã da Helen Keller e do Luís Braille. E que ficou surdocego ainda muito jovem e que era muito teimoso. Tão teimoso que quis estudar em escolas de ensino regular e fazer faculdade de Psicologia.

E que não ficou por aí, porque parar é morrer. E todos sabemos que o sonho comanda a vida e que as barreiras existem para serem derrubadas e não lastimadas.

Pois bem, apesar de não ter terminado o curso de Psicologia da Educação, não baixei os braços e fiquei em casa fechado em copas ou a carpir o destino malfadado de ser surdocego. Porque o destino somos nós que o fazemos e não acredito em fatalidades. Senão de que valia todo o nosso esforço?

Portanto, em 2014 tirei um curso profissional de massagista e técnico auxiliar de fisioterapia na APEDV.. Não era o primeiro surdocego formando, pois antes de mim tiveram um rapaz que também tinha deficiência auditiva. E que era como eu: esforçado e aplicado.

Da minha turma éramos 10, 4 raparigas e 6 rapazes. 10 é o nº limite de formandos no curso de massagens. De todos eu era o único que era cego total, pois quase todos viam alguma coisa. Aliás, poucos tinham mais de 50% de visão e não precisavam dos apontamentos em Braille.

Do que eu mais gostava era das aulas práticas onde aprendíamos o ofício do massagista. Fiquei superentusiasmado na primeira aula prática de Técnicas de Massagem que foi uma revelação de que tinha amor à profissão e que não estava ali por obrigação ou passatempo.

Fui o melhor da turma a Anatomia e Fisiologia, com 20 valores e com média final do curso de 17 valores. E quando recebi o meu certificado bem merecido depois do estágio senti uma enorme emoção de dever cumprido!

Porém, o que mais me motivou e comoveu foi a avaliação extremamente positiva do meu estágio na Santa Casa da Misericórdia de rio Maior e os elogios dos utentes que tratei. Pois o meu mini- estágio nos Inválidos do Comércio não me correu muito bem. Ao contrário deste, a minha adaptação na Fisiorio foi muito rápida e a minha integração também. Pois comecei a trabalhar logo no primeiro dia de estágio quando pensava que ia ficar apenas a observar as minhas colegas. E uma das minhas colegas, muito inteligente e extremamente justa, adaptou as máquinas mais importantes para que eu fosse o mais autónomo possível.

Olhando para trás, tive mais sorte que os meus colegas, porque deixavam-me fazer quase tudo e até hoje estou lá a fazer um segundo CEI mais. Consciente de que os contratos de emprego e inserção não são infinitos, cedo comecei a pôr algum dinheiro de parte e a fazer como muitos massagistas cegos fazem: abrir o meu próprio gabinete de massagista.

Dizem-me que tenho umas mãos milagrosas e muito macias. E todos sentem-se mais leves e menos tensos depois de eu lhes fazer uma massagem relaxante. Aos poucos abri um espaço em casa para a minha marquisa e os meus apetrechos de fisioterapia e compilei músicas relaxantes tipo de SPA para criar um ambiente mais tranquilo.

Pois não devemos deixar os nossos talentos enferrujarem ou ganharem pó! Também pensei como ocupar o tempo quando o meu CEI mais acabar. Porque o próximo CEI mais pode demorar vários meses ou 1 ano e é preciso ganhar alguns trocos porque a Prestação Social de Inclusão não é nenhuma fortuna.

E agora que tenho dois implantes cocleares as despesas com viagens para os programar e fazer a manutenção engordaram e de que maneira.

Quero finalizar este post confessando-vos que estou muito satisfeito por ser massagista apesar de ter sonhado em ser psicólogo e ajudar outros jovens surdocegos a derrubar as barreiras...

Mas também sou realista e sei que os sonhos não poem comida na mesa. E que a discriminação ainda é muita quando se refere a dar emprego a pessoas com deficiência. Estou apenas a trabalhar porque o CEI mais é totalmente pago pelo IEFP que é uma vantagem para os patrões que não têm de pagar nada. Se não fosse isso eu estaria em casa ou a tentar um emprego fora da minha cidade. os CEI mais no fundo são outra forma de discriminação porque só nos aceitam porque não têm encargos connosco e ainda têm trabalho de graça.