Comentários efectuados por luiz
Entradas recentes no blogue
- A História de Marco
- História: A Força de Ser
- Audiogame: Azmar Quest
- IA para Doenças Oculares: como a IA pode combater a perda de visão?
- Cuidados a ter com aparelhos dentários invisíveis
- Clínicas Dentárias para pessoas Cegas
- Benefícios da Inteligência Artificial para pessoas com deficiência
- Como a Inteligência Artificial pode ajudar pessoas com deficiência visual
- Estas startups estão a criar bengalas mais inteligentes para pessoas com deficiência visual
- Audiogame: Paper Perjury
A primeira coisa que me perguntei é: "por que a Shirley não gostou de minha mensagem?" Como realmente não tive a intenção de causar qualquer desconforto, confesso que fui surpreendido por sua resposta. Então, quero que saiba que se você interpretou qualquer de minhas palavras como ofensiva ou pejorativa, neste caso, terá sido você a precipitar-se.
E quanto a mim, precipitei-me? Provavelmente sim. Na Internet, estamos o tempo inteiro a precipitar-nos. Visitava o Lerparaver, li sua mensagem, pensei em coisas similares que vivi, que sofri, senti alguma angústia em seu relato, imaginei que poderia dizer algo bom. Ao fim, a mensagem que não lhe apeteceu, teve mesmo este propósito.
Como não sei exatamente o que lhe incomodou, levanto aqui algumas hipóteses e, em sua resposta, você me dirá se faz algum sentido.
Você disse que não é mulher de dramas, então, posso supor que "fazer dramas" é entendido como algo ruim ou algo que não se deva fazer e que, exatamente por isso, eu lhe criticava. Não acho que você faz drama. Não acho que a maioria dos cegos faça drama. Acho sim que perder a visão é um drama e que não está ao alcance da maioria das pessoas atravessar placidamente a estrada para a cegueira.
Lembro-me pequenino a desenhar histórias em quadrinho em uma lousa. Achava que ia ser desenhista. Mais tarde, mal conseguia enxergar a própria lousa. Era muito estudioso. Gostava da admiração dos colegas. Quando a cegueira ensombreceu a minha vida, desejei que os amigos continuassem a admirar-me. NO entanto, fiquei com um medo imenso que a bengala, esta caneta que assinava a minha cegueira, afastasse os amigos.
Ensombrecer é um verbo bastante dramático, não é mesmo? Nos dias de hoje, dizer coisas como esta soa um tanto patético. É que a sociedade atual defende o esteriótipo da pessoa sempre equilibrada, que não faz dramas e, quando os tem, consegue superá-los com a tranqüilidade do pescador à espera do peixe. Mas em meu caso, acho que o termo é preciso. A cegueira ensombreceu mesmo a minha vida. Mais tarde, eu concluiria que a tal sombra não era a sim grande e que, a bem dizer, deixava passar um bocadinho de Sol. Mas o primeiro momento foi doloroso.
Os amigos se afastaram mesmo. A verdade é que eu não atravessava um bom momento e, mesmo não querendo afastar os amigos, agi de modo que o afastamento fosse coisa natural.
Então, se você conseguiu empunhar a bengala sem sobressaltos, naturalmente como se ela sempre estivesse estado à sua espera, parabéns, eu não consegui. Se o motivo pelo qual você prefere apresentar-se sem a bengala é outro que não a vergonha de utilizá-la, parabéns, porque o meu motivo foi mesmo esse. Se você, acostumada a ser e agir de um certo modo, não estranhou a Shirley que surgiu depois da cegueira, parabéns, eu estranhei-me. Se você, tendo de ajustar toda a sua vida à outra forma de viver, permaneceu serena e segura, parabéns, eu não permaneci.
Acho que não gostou desta frase: Você não gostava de si mesma, tanto que não queria utilizar a bengala. Então, disse que eu era precipitado e injusto. Mas se ler com mais cuidado a minha mensagem, observará que em outro momento, disse: Não sei se foi assim. Se tivesse sido, não teria sido a primeira vez. Será que esta frase não quer dizer que admitia a possibilidade de a minha mensagem não se aplicar ao seu caso? Bom, mas se não estava certo de escrever algo que fosse perfeitamente dirigido à sua história, então, por que escrevi? Ora, porque este é um espaço público, porque considerei relevante que outras pessoas lessem o que escrevi, porque em um blog não perguntamos ou respondemos sempre a alguém em particular, porque se não fosse aplicável ao seu caso, você poderia responder simplesmente: Entendo o que você quer dizer, Luiz, mas comigo sucedeu um pouco diferente. Por considerar que não disse qualquer coisa de ofensivo ou pejorativo, não deveria ter-se incomodado com o equívoco. Se o motivo pelo qual você se incomodou não foi porque, em alguma medida, tinha eu razão em minhas ponderações, então, parabéns, porque, no passado, quando vivia os tempos de insegurança, irritei-me muito com este tipo de conversa.
Conto-lhe uma história. Quando tinha 14 anos, fui com minha mãe ao oftalmologista. Ele disse: Já é tempo de aprender a andar só. Então, passei a freqüentar um centro de reabilitação. Uma fisioterapeuta ensinava-me a técnica da bengala. Uma psicóloga dava orientação profissional. Observei que o papel da psicóloga era um pouco mais do que simplesmente orientar profissionalmente. Muitos pacientes recusavam o tratamento psicológico, então, a orientação profissional era um meio de chegar de mansinho na vida destes pacientes. Se o resultado dos atendimentos fosse algo que suscitasse dificuldades de aceitação da bengala e da própria cegueira, então, eu seria conduzido para outra profissional que se dedicava ao atendimento psicológico dos pacientes refratários.
Observe minha situação. Até aquele momento, era o orgulho do pai e da mãe. Apesar da visão reduzida, tinha boas notas na escola e, para mim, isso era suficiente. Havia um aspecto particularmente negativo. A orientação profissional era um atendimento psicológico obrigatório, então, minha mãe não poderia deduzir que eu enfrentava dificuldades. Contudo, o atendimento psicológico seguinte apenas seria necessário se não fosse aprovado durante a orientação profissional. Então, evitá-lo significava manter esta conversa longe de casa.
De um momento para o outro, observei que a reabilitação podia desequilibrar a situação conhecida. Não sabia bem o que fazer, mas não queria que meus pais observassem qualquer dificuldade. Tinha de tirar dez também na reabilitação. Então, pensei: Como devo comportar-me durante a orientação profissional para que não seja conduzido ao atendimento psicológico que exporia a minha dificuldade? Concluí que devia mentir sistematicamente à orientadora profissional. Então, precisava treinar a voz para que ela parecesse segura, teria de prever as perguntas que ela me faria para que pudesse selecionar respostas que me afastassem do atendimento psicológico. Comecei a testar o meu método. Ele parecia dar certo. Mas a bem da verdade, nunca estava seguro de a psicóloga estar a cair em minha história ou, se ao contrário, entendia a minha estratégia e, a qualquer momento, seria apanhado em uma mentira. Não mentia sobre os fatos de minha vida. Mentia sobre os meus valores, sobre as minhas reflexões, enfim, aspectos que poderiam denunciar que eu recusava a bengala.
A estratégia deu certo. Em tempo recorde, deixei a orientação profissional. Havia uma certa ponta de orgulho por minha esperteza e por ter tirado mais um dez que tanto envaidecia meus pais. Ocorre que a fisioterapeuta podia examinar melhor o meu comportamento. As inibições que eram escondidas da psicóloga foram, aos poucos, revelando-se para a fisioterapeuta. Então, ela contou ao médico e o médico, à psicóloga. Eu tinha sido apanhado. No dia que antecedeu a entrevista com a orientadora profissional, perdi o sono. Em algum momento, tinha de enfrentar a bengala, mas ainda estava em treinamento e, portanto, não estava apto a andar em meu bairro, enfrentar os amigos, enfim, assinar a cegueira.
Redobrei os meus cuidados e arrisquei mais um lance na velha estratégia. De fato, fiquei surpreendida quando o médico me falou. Logo você? Confesso que em seu diagnóstico não havia nada que indicasse tais problemas. Problemas? Acha mesmo que tenho algum problema? Acha mesmo que recusei a bengala? Então, não foi assim? Não. Não foi assim. O que ocorre é que a fisioterapeuta rendeu-se ao julgamento fácil. São tantos os casos em que chega por cá gente insegura, precisando de ajuda, temerosa da mudança, que, ao encontrar um indício de problema, os profissionais desta casa apressam-se em concluir que há um problema de aceitação. Então, você admite que há um indício? Sim, admito que há o indício, mas não há o problema. Minha mãe relatou à fisioterapeuta que, adquirida a técnica da bengala, não tenho colocado em prática. Deveria ir à escola sozinho, pois para tanto já tinha adquirido a técnica. Mas o que lhe pergunto é: o único motivo porque alguém decide não utilizar a bengala é esse? Se você diz que não é, então, estou pronta para ouvir qual é a outra hipótese. Todos os dias, os colegas passam por minha casa e levam-me à escola. É um notável momento de socialização. É claro que eu poderia ir à escola só. Já que isso é tão importante para vocês, muito bem, vou à escola com a bengala. Mas o motivo porque ainda não a utilizei é que vou com os amigos à escola e, acostumado há tantos anos a ficar em casa, adquiri um prazer imenso pela vida mais recolhida. Então, não tenho dificuldades para usar a bengala, mas simplesmente há um período de adaptação com as boas coisas que a bengala me oferece, pois creia, mesmo em relação àquilo que é bom, e a bengala indiscutivelmente o é, temos um período de transição. Por fim, digo-lhe que aquilo que minha mãe e a fisioterapeuta chamaram de dificuldade é tão somente os efeitos do período de transição. O que não entendo é porque tenho de fazer as coisas no tempo de vocês e não no meu tempo. Não está claro que sou cego? Que a bengala faz parte de minha vida? Por que não posso conduzir a mudança de minha vida mais suavemente? Por que tenho de sair loucamente de casa, se até hoje não o tenho feito?. Ah! Agora estou conseguindo reconhecer o meu paciente. O orgulho da esperteza daquele rapaz de 16 anos aumentou, mas aumentou também a angústia, posto que tudo isso era mentira.
Se havia gente estranha a ver-me de bengala, não me incomodava muito. Mas os amigos... Há o peso do julgamento já formado. Naquele tempo, considerava que a cegueira deveria frear a minha vida. Era amblíope, então, conseguia transitar entre cegos e videntes com alguma facilidade. Esta dualidade atrasou a minha aceitação, posto que, conseguindo fazer algumas coisas que videntes faziam, ainda podia identificar-me com eles. Sonhava com a faculdade. Sabia que sem a bengala não poderia cursá-la. Mas ainda queria despedir-me do mundo de que gostava, sem a bengala, de cabeça alta, fingindo a segurança que não existia. Passei a estudar em outro bairro. Tomava um ônibus e, no outro bairro, utilizava a bengala. Por sorte, o ônibus parava ao pé de minha rua. E como a conhecia bem, conseguia descer do ônibus sem a bengala e subir a rua com o orgulho de não ser cego. Então, observe que a cegueira foi um processo de conquista. Defendi-me até a última trinxeira. Somente houve mudança, quando deixei o bairro. A nova vizinhança não me conhecia, então, poderia encarar de modo natural a minha bengala. De um momento para o outro, aceitei a bengala. Foi tudo tão simples quanto retirar a tampa de um refrigerante. A atmosfera desanuviou-se, comecei a pensar em outras coisas e a questão tornou-se irrelevante. Irrelevante? Completamente irrelevante? perguntava a voz da consciência. Não. Ainda havia uma trinxeira. Não visitava os amigos do outro bairro para não ter de apresentar-me de bengala. Enfim, os amigos antigos deixaram mesmo de o ser, e com o seu desaparecimento, extinguiu-se a rejeição à bengala.
Agora o que lhe pergunto é: será que fui assim tão injusto? Em seu texto, você disse que procurava não utilizar a bengala para ser discreta, para disfarçar a cegueira, para não provocar a rejeição dos ditos amigos. Será que a sua história não tem mesmo algo que ver com a minha? Será que não cultivamos dramas e os ocultamos dentro do coração? Não será mesmo um drama ser uma coisa e querer parecer outra? Será que rejeitar a bengala é sinal de segurança ou de medo de alterar a situação conhecida? Não importa o quanto ria da própria sorte. Não é isso que determina o quão curada está da síndrome da rejeição. O riso faz parte do roteiro de muitos cegos que não querem externar a sua dificuldade em lidar com o problema. Não é o seu caso? Parabéns, comigo sucedeu assim. Adotando comportamentos que se assemelham ao seu, consegui prolongar o drama. Afinal, é um drama ocultar o drama, mantendo-o vivo por não enfrentá-lo. Não é o seu caso? Então, ignore o que eu disse. Pense em seu blog como um espaço público. Depois que você tiver lido minha mensagem, ela continuará aqui. Outras pessoas visitarão esta página e se o que eu disse não significou absolutamente nada para você, não é improvável que outros a leiam, identifiquem-se com a situação e possam extrair qualquer coisa de bom.
Conheci cegos que não aceitavam a bengala; outros que não queriam namorar moças cegas; um outro que amava o xadrez, mas não queria jogá-lo no tabuleiro adaptado; ouvi também muitas desculpas, em um dado tempo de minha vida, era eu a dar desculpas. A cegueira nos nega o direito de viver a vida padronizada que a maioria das pessoas sonha. Então, é bastante natural que, a princípio, traga um bocado de turbulência. Já estou em tempos de brisa, mas reconheço os sinais dos tufões.
Você menciona ainda que os amigos não lhe fazem falta. O que lhe incomoda é que eles se tornaram indiferentes. Ora, o guarda de trânsito da avenida que atravesso também me é indiferente. O transeunte que sobe o elevador comigo, por vezes, é indiferente. A moça da lanchonete, por vezes, é indiferente. A indiferença está em toda parte e não nos incomodamos com ela. Se somos indiferentes às pessoas, não temos porque ficar incomodados com a reciprocidade. Mas a questão é: você ficou incomodada porque se eles foram indiferentes, você não o foi. E se não foi indiferente é porque eles têm alguma importância para você. E se eles têm alguma importância é porque fazem falta, pois o coração preenchido não reclama atenção. Isto é o que as suas palavras deixam entrever. Não é nada disso? Então, deixe para lá. Para mim, importa que eu diga algo a alguém. Se este alguém não é você, então, comemoremos juntos a vitória obtida.
Se os seus amigos desapareceram porque ficou cega, claro está que a cegueira a protegeu de tais falsos amigos.
Mas não quero precipitar-me. De fato, não conheço a sua história. O que sei é que as pessoas, quando submetidas a grandes dramas, mudam e, mudadas, por vezes, afastam os amigos.
Você não gostava de si mesma, tanto que não queria utilizar a bengala. Num esforço de não mostrar-se cega, talvez você se tenha afastado um pouco dos amigos. Não sei se foi assim. Se tivesse sido, não teria sido a primeira vez. Com tão brusca mudança é simplesmente humano que, ao cabo da mudança, você já não fosse a mesma.
E não ser mais a mesma, não significa que não possa ser ainda melhor do que era. A sua humanidade em nada depende de seus olhos.
Uns amigos vão-se; outros vêm... Deixemos que a roda da vida gire. Se você estiver equilibrada, não cairá com o balanço e, de certo, encontrará muita gente que se sentirá bem ao seu lado. O importante é que tenha uma atitude positiva diante da vida. Se o pensamento positivo não favorece a sorte, certamente favorece a atitude e não há coisa melhor do que estar ao lado de gente de atitude.
A orientação de meu oftalmologista é a seguinte: a) plugs - já coloquei há 1 mês e não sinto diferença; b) usar colírios lubrificantes sem conservantes - os indicados são Refresh ou Optive VD - sempre que os olhos estiverem irritados ; c) ingestão de cápsulas de óleo de linhaça 1 a 2 vezes ao dia; d) evitar colírios vasos constritores - usá-los quando necessário, 1 a 2 vezes por semana no máximo (Moura Brasil é um deles cuja ação dura 2 a 3 horas e não é recomendado para hipertensos).
Setiver alguma informação nova, agradeço.
Luiz
Olá Sofia!
Gostaria muito de conhecer uma garota com deficiencia visual e poder conhecer melhor pois tambem tenho um deficiencia mais é fisica mais admiro pessoas portadoras de deficiencia,talvez precisem de amor e carinho como eu.
bju.
Gostaria de conhece-la.
este é meu email. luiz669966@hotmail.com