Os deficientes em geral, bem que podem estar indignados com o deputado eleito pelo partido conservador britânico Philiph Davies.
O motivo da indignação é a proposta que ele fez na câmara dos comuns, que consiste em baixar o salário mínimo para os trabalhadores com deficiência.
Na Inglaterra o salário mínimo actual é de 5.93 libras por hora, mais ou menos 6 euros e 70 cêntimos.
É verdade que esta proposta enfureceu até os próprios colegas do partido, e mereceu da parte das restantes forças políticas, comentários como: Ultrajante, indigna, etc. Contudo, o que mais me incomoda é saber que provavelmente uma parte da classe política inglesa e não só, em surdina até terá achado piada à proposta deste senhor deputado, e que só não o dizem abertamente, porque não se querem confundir com ele, e serem alvo da crítica de vários sectores da sociedade civil:
Desde as associações de deficientes, e também aquela franja que no que concerne ao discurso alinha com uma postura politicamente correcta, mesmo que depois as consequentes práticas não sejam bem assim, mas temos de tudo!
Os fundamentos que Philiph Davies usou para defender a proposta, merecem que eu me debruce um pouco neles, e que os rebata por forma a que não fique nenhuma dúvida à cerca da legitimidade que os deficientes têm na luta pela plena integração profissional.
Diz o Senhor deputado que algumas dessas pessoas com deficiências, por definição, não são tão produtivas no seu trabalho como outras que não têm deficiências, é inevitável que o empregador, tendo de pagar o mesmo a um e a outro, escolha o que vai ser mais produtivo, o que representa menos riscos."
Por essa razão, o deputado por Shipley diz que, "se as pessoas que consideram [o
salário mínimo] um obstáculo - que são as mais vulneráveis da sociedade aceitam receber um salário inferior, por um curto período de tempo, para as ajudar a subir a escada do emprego, então nós [governo] não devíamos barrar-lhes o caminho".
Em primeiro lugar, dizer-se que um deficiente aceita ganhar menos do que o salário mínimo, é altamente demagógico e até hipócrita.
Se seguirmos essa linha de raciocínio, temos de dizer que qualquer pessoa mesmo sem deficiência, pode aceitar auferir menos que o salário mínimo.
Basta vermos a situação daqueles que vivem em estrema pobreza sem rendimentos, jovens que abandonam a escola prematuramente, e muitos outros casos, que aceitariam de bom grado ganhar qualquer coisa, mesmo que essa qualquer coisa fosse menos que o salário permitido por lei.
Em segundo lugar, e mais importante. Dizer que uma pessoa com deficiência é por definição menos produtiva, parece-me francamente injusto e abusivo.
Desde que o trabalhador tenha o seu posto de trabalho devidamente adaptado, e o espaço físico acessível à mobilidade de todos sem excepção, pode atingir os mesmos índices de produtividade.
A tecnologia que é colocada à nossa disposição, permite-nos suprir muitas lacunas, e fazer com que a pessoa com deficiência possa estar totalmente integrada numa organização, sendo capaz de usar os mesmos processos e atingir os mesmos objectivos.
Este mito segundo o qual os deficientes são seres inválidos para o mercado de trabalho tem de ser desmistificado custe o que custar, a bem da verdade e da justiça.
Curiosamente, até é interessante verificarmos que por vezes um empresário até tem vantagens em contratar trabalhadores com deficiência.
Vantagens essas que abarcam por exemplo os níveis motivacionais. Como uma pessoa deficiente tem menos oportunidades de singrar no mercado de trabalho, é normal que ela se esforce muito para aproveitar e agarrar com afinco a oportunidade que lhe é concedida, o que leva a que não tão raras vezes assim, o desempenho do trabalhador deficiente supere largamente as expectativas criadas.
Por outro lado, a contratação de pessoas com deficiência ajuda a humanizar o clima na empresa, dá uma boa imagem junto do tecido empresarial, e da respectiva opinião pública, e permite fazer com que os produtos e serviços que a empresa produz e oferece, cheguem com mais facilidade a pessoas amigas e ou familiares dos trabalhadores com deficiência.
Hoje em dia, empregar deficientes é muitas vezes uma estratégia de puro marketing empresarial, estratégia essa por sinal bastante frutuosa.
A legislação portuguesa, dá ainda alguns incentivos à contratação de deficientes:
Subsídios para adaptação do posto de trabalho, eliminação de barreiras arquitectónicas, e acolhimento personalizado.
Este leque de vantagens permite-me dizer que se hoje os índices de empregabilidade dos deficientes são tão baixos, deve-se primeiro à falta de informação, e em segundo ao preconceito que se tem vindo a alimentar geração após geração, e que infelizmente ainda não nos conseguimos libertar.
Mais importante do que apontar culpados é sensibilizar e mostrar os bons exemplos que temos, e provar que um deficiente não significa perca de produtividade, e que a empresa, ao dar-lhe oportunidade, está a contribuir para uma sociedade mais justa, mais igualitária, plena e sobre tudo feliz.
-
Partilhe no Facebook
no Twitter
- 2421 leituras